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Caso Snowden: “As reportagens foram além do que a carta quis dizer”, critica jornalista

O ex-consultor da NSA (Agência Nacional de Segurança) dos EUA, Edward Snowden, acusado de espionagem por vazar informações sigilosas de segurança dos Estados Unidos, afirmou em carta publicada nesta terça-feira (17) pelo jornal “Folha de S.Paulo” que a Casa Branca irá continuar interferindo em sua “capacidade de falar”, até que ele obtenha um asilo permanente de algum país. Parte da imprensa afirmou que Snowden teria se comprometido a colaborar com as investigações do Congresso, caso o governo brasileiro lhe concedesse asilo político. No entanto, o jornalista Glenn Greenwald, autor das reportagens que revelaram os documentos obtidos por Snowden, disse que a informação está equivocada. O repórter criticou reportagens publicadas pela imprensa brasileira, que, segundo ele, foram “além do que a carta quis dizer”.

Pivô do escândalo diplomático, o norte-americano diz na mensagem intitulada “Carta Aberta ao Povo do Brasil” que muitos senadores brasileiros pediram sua ajuda em investigação do Congresso sobre a suposta espionagem americana contra cidadãos brasileiros. Snowden, que está desde junho na Rússia, onde obteve um asilo temporário de apenas um ano, expressou sua disposição em auxiliar “quando isso for apropriado e legal”, escreveu.

O texto original da carta, em inglês, foi publicado nesta terça no Facebook do brasileiro David Miranda, companheiro do jornalista americano Glenn Greenwald. Na mensagem, ele se disse impressionado pelas críticas feitas pelo Planalto ao programa de espionagem de internet e telecomunicações dos EUA em nível mundial.

Em meio à grande repercussão causada pela carta, o brasileiro David Miranda – que mantém contato com o americano – também negou que Snowden tenha proposto colaborar com as investigações sobre a espionagem americana no Brasil em troca da concessão de asilo político no país. Ele alega que a carta buscava dar uma satisfação aos congressistas e ao povo brasileiro sobre por que ele não estava colaborando mais com as investigações do Congresso. Ainda assim, o brasileiro diz que Snowden “acredita que nosso país é justo e, por isso, ele acredita que seria um lugar bom pra morar”.

Governo não estaria disposto a aceitar o pedido

Ao liberar essa carta, Snowden “força” o Brasil a se posicionar verdadeiramente e sair do muro em que subiu em julho, quando nem respondeu ao seu pedido e, sem dúvida nenhuma, coloca a administração de Dilma em um dilema, uma vez que, além dela própria ter sido vítima da espionagem norte-americana, a presidenta fez um discurso indignado durante a Assembleia-Geral da ONU, alegando que o caso de espionagem dos EUA violava os direitos humanos.

Segundo fontes do Ministério das Relações Exteriores, que oficialmente não recebeu nenhum pedido, mesmo que o país apoie uma mobilização pelo respeito à privacidade, respeita a soberania dos EUA e não poderia conceder asilo em troca de informações.

Junto com a divulgação da carta, simpatizantes de Snowden publicaram no site Avaaz, página que reúne na internet uma rede de ativistas sociais, uma petição eletrônica que visa a pressionar Dilma a conceder o asilo permanente. O abaixo-assinado a favor da vinda de Snowden para o país reuniu mais de 8,5 mil assinaturas até o início da noite de ontem. Até a manhã de hoje (18), o site contabilizava mais de 36 mil assinaturas. A petição, aberta em 21 de novembro, continha apenas 2,6 mil nomes na manhã desta terça, conforme comunicado enviado pela ONG Avaaz à agência de notícias francesa AFP.

Espionagem contra o Brasil

Em setembro, o Fantástico revelou com exclusividade, em reportagem produzida em conjunto com Greenwald, documentos classificados como ultrassecretos que mostram que a presidente Dilma Rousseff e parte de seus assessores foram alvos de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. O Fantástico também trouxe à tona documentos que comprovam que a Petrobras, a maior empresa brasileira, também foi espionada.

Irritada com a quebra de privacidade, Dilma exigiu que a Casa Branca pedisse “desculpas” pelo episódio. No entanto, apesar de ter prometido esclarecer as denúncias, o presidente Barack Obama se recusou a formalizar o pedido de desculpas. Em contrapartida, a chefe do Executivo brasileiro suspendeu viagem a Washington, em outubro.

Dilma também aproveitou seu discurso de abertura na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), no final de setembro, para condenar a postura americana. Ela afirmou diante de uma plateia de chefes de Estado que as ações de espionagem dos Estados Unidos no Brasil “ferem” o direito internacional e “afrontam” os princípios que regem a relação entre os países. Ao lado da Alemanha, que também foi alvo de espionagem, o governo do Brasil apresentou à ONU, em novembro, uma proposta que prevê regras para garantir o “direito à privacidade” na era digital. Dilma também ordenou medidas para tentar “proteger” o Brasil da espionagem virtual, entre as quais a criação de um sistema de e-mails do governo federal.

Informações do G1, RFI Brasil e BBC.

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