ABI BAHIANA

Entrevista: novo livro de memórias de Emiliano José está chegando

Com o seu novo livro ‘Os comunistas estão chegando’, que será lançado no próximo sábado (11), o jornalista Emiliano José dá sequência à publicação de sua série #MemóriasJornalismoEmiliano, que tem origem em sua página no Facebook desde 2019. Diferente do primeiro livro da série, ‘Balança mas não cai’, Emiliano não narra a sua própria trajetória, mas olha ao redor, tornando protagonistas 18 colegas de profissão que, como ele, enfrentaram o período da ditadura atuando em redações e estiveram sob a mira de um jornalista infiltrado, pago pelo regime, para entregar os “comunistas”. 

Nessa entrevista, o escritor, que ocupou este ano a cadeira de número 1 da Academia de Letras da Bahia, conecta passado e presente, refletindo sobre como a memória do jornalismo pode nos ajudar a entender o cenário político. Emiliano estima que, enquanto o primeiro livro da série foca no período de 1974 para 1975, este último abrange histórias do período de 1976 até próximo do início dos anos 1980 – embora cada personagem tenha sua própria trajetória. 

Esse é o segundo e-book e o 17º título da carreira de Emiliano. O prefácio de ‘Os Comunistas estão chegando’ é do jornalista Ernesto Marques, presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI-BA). A live de lançamento será às 19 horas do sábado (11) no canal do Youtube de Franciel Cruz.  

A capa, com destaque para a foto histórica do repórter fotográfico Manoel Porto, de uma entrevista coletiva com Luiz Carlos Prestes à imprensa baiana e com Emiliano e seu imenso gravador em primeiro plano, tem projeto gráfico do também escritor Gabriel Galo. São protagonistas do livro Aécio Pamponet, Alex Ferraz, Césio Oliveira,  Fred Matos, Gustavo Falcón,  HAF – Hamilton Almeida Filho,  Jadson Oliveira,  Joca – João Carlos Teixeira Gomes,  José Carlos Menezes,  José de Jesus Barreto,  José Sérgio Gabrieli,  Luiz Manfredini,  Marcos Palacios,  Mirtes Semeraro de Alcântara Nogueira,  Oldack de Miranda,  Othon Jambeiro,  Quintino de Carvalho e  Sóstrates Gentil (em nome do pai, também Ludmilla Duarte). 

 


O título “Os comunistas estão chegando” é uma provocação que, de certo modo, não está datada. Ainda hoje jornalistas comprometidos com a profissão são taxados pejorativamente dessa forma. Como você pensa que essas memórias do livro podem aquecer o debate sociopolítico de hoje, deste Brasil de 2021, quase 2022?

Eu creio que a revisitação do passado é, de alguma forma, garantir que não se percam as conquistas daquele momento, que não se esqueçam os fatos históricos. A ditadura foi um momento trágico do país que matou tanta gente, prendeu, sequestrou, desapareceu com tanta gente e, ao mesmo tempo, temos que lembrar que ela nos revisita permanentemente. O atual presidente não é nem dissimulado, é um admirador confesso da ditadura, foi eleito com essa condição, falando sempre a favor da ditadura. Ao lembrar o episódio de um espião, o livro trata disso, um jornalista que era ao mesmo tempo agente policial infiltrado no meio dos jornalistas, concordava com a ditadura e era assalariado por ela, ele queria mapear os profissionais que ele acreditava ser comunista. O cara achava que qualquer um que estivesse ali na profissão, a maioria, era de esquerda. É uma maneira de eu evidenciar o que era o período, que para trabalhar você tinha que viver sob os olhos vigilantes da ditadura. Então é muito importante, no momento em que, volta e meia, o atual presidente e seus sequazes falam em comunismo, lembrar que vem desde lá, desde muito tempo. E que comunista nós podemos falar hoje? Que movimento comunista existe no Brasil? É uma brincadeira… o pensamento de esquerda é absolutamente presente e sempre será. Mas falar nesse fantasma do comunismo me lembra Marx abrindo o Manifesto Comunista, o espectro da Europa, o espectro do comunismo. É como é o Brasil de hoje e isso foi há muito tempo. Mas o livro é isso e é muito mais porque são muitos protagonistas que foram companheiros e companheiras do maior valor que deram uma contribuição inestimável ao jornalismo baiano e que travaram lutas, lutas estas como jornalistas.

Você menciona esse histórico de lutas. Como  vê o cenário do jornalismo baiano hoje, à luz desse histórico tão combativo narrado no livro?

Eu creio que estamos em um período de mudanças profundas, eu digo do ponto de vista, inclusive, estrutural do jornalismo. Naquele tempo eu vivi um cenário de grandes redações. Hoje você não tem mais isso, ou só tem limitadamente. O jornalismo impresso propriamente vive, não sei se digo um fim, mas uma decadência óbvia por conta da emergência das redes sociais e do jornalismo online. Muitos blogs e sites e outros tipos de comunicação que nós estamos vivendo. Os jornalistas continuam desempenhando papel essencial, na eterna busca da verdade, que é uma busca sempre. Dizer que o jornalismo é a verdade é uma ilusão, é uma busca permanente que todo jornalista sério deve fazer e que ela continua a existir. É claro que há jornalistas sérios e há outros que prestam serviços menos dignos, eu diria. Mas a maioria da profissão continua nessa luta pela busca da verdade, que é o exercício cotidiano do jornalismo. 

Foto: Juarez Matias/ABI

Você citou as mudanças nas redes sociais no jornalismo, que afeta muitas outras áreas, mesmo a literatura. Seu livro, um e-book, parece inovador justamente por uma escrita compartilhada, com comentários do Facebook tendo espaço na edição. Como se deu isso e como a experiência de leitura vai ser renovada para quem já acompanha a série de personalidades que você mantém no Facebook?

A leitura em ebook não é uma coisa tão simples para alguns, para a minha geração não é tão simples, as pessoas estão acostumadas com o contato físico com um livro. Eu pretendo que a série seja simultaneamente e-book e impresso. Do ponto de vista dessa série, ao fazê-la, e eu fiz pelo Facebook primeiro, eu fui mesmo quase que fazendo uma escrita comum, porque as pessoas entravam e comentavam e, às vezes, me diziam ‘não é bem isso’, e fica lá o comentário. Isso, na minha visão, foi uma riqueza muito grande e dá um dinamismo novo à escrita. É um pouco do que eu chamo do território do comum. Positivamente eu encaro isso.

Acredito que tenha, inclusive, lhe despertado outras memórias com o que as pessoas traziam nos comentários… 

Inegavelmente. É esse que é o lado positivo, já que você não domina, você pesquisa, não são só minhas memórias, é conversa, as pessoas me mandam copiões e tudo e eu vou arrumando. O livro é um trabalho de pesquisa, embora a minha memória também entre. 

SERVIÇO
Live de lançamento do livro ‘Os comunistas estão chegando’
Quando: 11 de dezembro, às 19 horas
Onde: Canal do Youtube do jornalista Franciel Cruz
Livro já disponível para compra. 

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Artigos

Imprensa comunista sitiada na Bahia

Emiliano José*

Primeiras horas da noite de 22 de maio de 1947.

Jornalistas, empenhados no fechamento. Redação, na Ladeira de São Bento, próxima à Praça Castro Alves, vizinha do secular Mosteiro de São Bento, Salvador, Bahia.

Fumaça, muita fumaça – naqueles tempos, pessoal fumava demais. Horas barulhentas, animadas, momentos de decisão sobre as matérias a ocupar a primeira página, qual a manchete, quais os títulos das páginas internas, revisão dos textos, um corre-corre, trabalho intenso.

De repente, um estrondo. Machadadas na porta.

Oficiais e soldados do Exército irrompem na redação, arrebentando tudo. Os militares arrombaram a porta da gerência, invadiram oficina. Nada sobrava. Não houve tempo para qualquer reação. Danificaram as máquinas impressoras e a linotipo, os móveis, tudo. Um terremoto, próprio daqueles tempos de intensificação da Guerra Fria sob Dutra. Destruição completa.

Capa da Revista Seiva de 1940, n° 7 | Foto: Acervo da Biblioteca Virtual Consuelo Pondé

Jornal O Momento, do Partido Comunista Brasileiro, PCB. Lançado em 1945, primeiro jornal comunista na nova fase política iniciada naquele ano. João Falcão, veterano militante apesar de jovem, diretor. Fora o principal articulador da revista Seiva, publicação surgida em 1938, a congregar comunistas e liberais-democratas, experiência encerrada em 1952, tendo publicado 23 números. Tinha experiência.

João Batista de Lima e Silva, secretário de redação. Mário Alves, redator-chefe. Os dois, também muito jovens, tinham já alguma experiência e protagonizarão papéis fortes na história do PCB.

Primeira edição circula no dia 9 de abril de 1945. Surge como semanário, origem ligada à luta contra o Estado Novo e pela redemocratização do país. Em 1946, passa a diário. Resistirá por 12 anos. Foram 55 números como semanário, 2700 como jornal diário – não foi pouca coisa, não.

Reuniu jornalistas e intelectuais de grande prestígio. Já nos referimos a João Falcão, a João Batista de Lima e Silva, a Mário Alves. Há, ainda, Alberto Passos Guimarães, Almir Matos, Aristeu Nogueira, José Gorender, Jacob Gorender, Ariovaldo Matos, Luís Henrique Dias Tavares, Maurício Naiberg, entre tantos.

Alguns, continuarão como jornalistas. Outros tantos, dirigentes do PCB e mais tarde de outras organizações revolucionárias. E, ainda, homens da literatura, e ao menos um notório historiador, caso de Luís Henrique Dias Tavares, cujo ingresso no jornal se deu no segundo número. Teóricos a marcar história, entre os quais Jacob Gorender e Alberto Passos Guimarães.

O PCB lutava pela ampliação da democracia, acreditava numa conjuntura de mais liberdade, e por isso vai constituir uma rede sólida, ampla, de jornais por todo o país.

Logo depois do surgimento de O Momento, pouco mais de um mês, em 1945, surge a Tribuna Popular, no Rio de Janeiro.

Em outubro, o jornal Hoje, em São Paulo.

Em novembro, a Folha do Povo, de Pernambuco.

Em março de 1946, ressurge A Classe Operária, órgão do Comitê Central do partido.

E foram nascendo a Tribuna Gaúcha, em Porto Alegre, Folha Capixaba, no Espírito Santo, O Democrata, no Ceará, e a Voz do Povo, em Alagoas, entre outros.

O partido sabia: a chamada imprensa burguesa não lhe daria espaço, muita vezes o combateria.

O Momento, no surgimento, pedia a liberdade de Prestes e até a volta de Otávio Mangabeira, exilado nos EUA – mais rápido do que se imaginava, Mangabeira vai se tornar duro adversário dos comunistas.

O PCB queria um governo de coalizão de todas as forças democráticas. Afinal, saía-se da ditadura do Estado Novo. E o término da Segunda Guerra, com o papel decisivo da URSS, dava aos comunistas muitas esperanças de crescimento, e isso só poderia acontecer em meio à democracia.

Vargas e o Queremismo, no entanto, foram derrotados. Dutra deu o golpe. O PCB apoiava a continuidade do presidente, convocação de novas eleições, com a participação dele e Assembleia Constituinte. Dutra era opção da direita nacional e dos EUA. Intensificou o clima de Guerra Fria, de perseguição aos comunistas, e a Bahia não estava fora disso obviamente. De modo especial, perseguição à sua imprensa, ao jornal O Momento.

A cassação do registro do PCB ocorreu em 7 de maio de 1947, poucos dias antes do empastelamento d’O Momento. O partido havia obtido quase 10% de votos para a presidência da República e elegera 14 deputados federais, entre os quais o baiano Carlos Marighella. E Luís Carlos Prestes, senador.

O empastelamento foi uma espécie de estopim para a rápida deterioração das relações entre os comunistas e o governador.

Em 1946, o PCB, terminadas as eleições, intensifica sua atuação entre os trabalhadores. É reprimido desde o primeiro momento. Houve repressão a repórteres de O Momento, o governo proíbe o diário de promover sabatinas com os trabalhadores nas empresas e nas fábricas. Comícios nas portas das fábricas também são proibidos.

João Falcão chegou a se defrontar com impressionante aparato policial no cais do Porto, em Salvador, à frente da reportagem d’O Momento, quando seria realizada uma reunião com portuários e estivadores. Após o episódio, houve reações de parlamentares, entre os quais de Carlos Marighella, Nestor Duarte, Rui Santos e Aliomar Baleeiro. E a imprensa baiana naquele momento se solidarizou com o jornal, condenando as proibições das sabatinas. A repressão ganhou intensidade com a cassação do registro do PCB.

O empastelamento de maio de 1947 aconteceu nesse quadro. O argumento para a repressão: o jornal publicou matérias ofensivas ao general Dutra. O jornal não deixou de circular, e caracterizava o empastelamento como coisa de “desordeiros fascistas” a serviço da ditadura Dutra, tentando inocentar o Exército, inutilmente.

Viria mais em fevereiro de 1948, aí já ação direta de policiais baianos sob ordens de Mangabeira, rompimento estabelecido.

A polícia argumentou ter ouvido estouros vindos do jornal – acreditava serem tiros. A repressão tentou invadir o jornal, forçou as portas, ameaçou jogar gás lacrimogêneo. Os jornalistas ofereceram resistência: recusaram-se a sair, abrir portas, fizeram barricada. Há depoimentos admitindo a possibilidade de a redação ter reagido à bala de fato. Nessa época, tal a repressão, havia jornalistas preferindo andar armados, dispostos a resistir, como Ariovaldo Matos teria admitido. Clima de confronto, desigual fosse, mas de confronto. Imprensa comunista sitiada.

O jornal comunista denunciava a traição do governador. Durante a eleição, fizera juras de defender o direito do partido de participar da vida democrática. Não cumpriu. Liberais, defendem a liberdade de expressão até um limite. Ultrapassados os seus interesses de classe, mandam descer o porrete, como ocorreu na Bahia, sob Mangabeira.

Não cessariam aí as perseguições à imprensa comunista.

As conjunturas se modificavam, mas o combate aos comunistas, não. Vargas havia voltado ao poder, Régis Pacheco governava a Bahia. E a partir de 1952, houve intensificação do anticomunismo. Guerra Fria seguia à toda, e o pau cantava no  lombo do PCB.

O jornalista e militante do PCB, José Gorender, foi preso no início do mês de dezembro daquele ano, solto somente no final do mês, dia 29, por força de um habeas corpus.

Boris Tabacoff, secretário do Comitê Estadual do partido, também jornalista, preso, passou 50 dias na prisão, incomunicável, acusado de ter conclamado o povo se organizar e lutar contra o Acordo Militar Brasil-EUA.

O jornalista Nelson Schaun, dirigente da sucursal de O Momento em Ilhéus, no Sul do Estado, foi agredido por policiais.

Vida que segue e em março de 1953 um estafeta de O Momento foi preso e os jornais, apreendidos. A repressão também prendeu vários militantes do Movimento Baiano dos Partidários da Paz, entre os quais,  jornalistas, Simão Schinitman, um deles.

Jornal O Momento, 17 de junho de 1948 | Foto: Acervo da Biblioteca Nacional

O secretário de Segurança Pública, Laurindo Régis, afirmava: as prisões eram de rotina. Prometia manter sob vigilância rigorosa “os elementos ou setores considerados subversivos”. Alimentava particular convicção: comunista era sempre potencialmente perigoso, e quando organizado passava a ser um fora da lei. João Falcão o qualificava como um “provocador anticomunista” desde o episódio do cais do porto, quando se defrontou com ele, então ainda um simples comissário.

Em maio daquele ano, 1953, repressão invade a sede da sucursal do jornal A Voz Operária, publicação oficial da direção do PCB no Brasil. Invade e interdita a sede. E além de queda, coice: realiza diligências nas casas dos jornalistas Ariovaldo Matos e Altamirando Marques, ambos de O Momento.

Jogo bruto. Vida dura, a dos jornalistas – se comunistas.

No dia 30 de julho, estamos ainda em 1953, um comissário de polícia, Heleno Lima, faz ofício ao capitão Durval Carneiro. Informa ter apreendido duas carroças abarrotadas de material comunista e subversivo. Grave: tais veículos trafegavam “livre e ostensivamente” no dia 27 daquele mês, do Edifício Coqueijo, na Praça Municipal, para a sede do jornal O Momento, na Ladeira de São Bento, onde o farto material era “depositado”.

Aí se vê o perigo do “guarda da esquina” a que se referiu o então vice-presidente Pedro Aleixo na fatídica noite em que se decidiu pelo AI-5, 13 de dezembro de 1968, em reunião presidida pelo ditador Costa e Silva. Lembram? – “o problema de uma lei assim não é o senhor, nem os que com o senhor governam o país. O problema é o guarda da esquina”.

Em razão da “gravidade do fato”, Heleno Lima dizia ser necessária uma diligência no jornal para busca e apreensão do “material subversivo”. Solicitava a presença do capitão Durval  Carneiro, delegado do DOPS, e a assistência do Ministério Público, de modo a revestir o arbítrio de algum manto de legalidade.

Dia seguinte, 31 de julho, ouvindo o “guarda da esquina”, de manhã bem cedo, ocorre o segundo empastelamento de O Momento.

O capitão Durval Carneiro, à frente de um grande número de policiais invade o jornal – vocês sabem, jornalista é um ser muito perigoso, ainda mais se comunista. Acompanhado, ainda, de um grupo de choque, metralhadoras à mão.

Outra vez, violência, quebra-quebra, apreensão de todo o material encontrado, prisão de todas as pessoas presentes, jornalistas ou não, interdição da sede, e logo depois, determinada a apreensão das máquinas.

Vá, vá ser comunista na vida, vá: é sina perigosa, torna o viver arriscoso demais.

Instaurado inquérito, presos recolhidos à Casa de Detenção durante alguns dias para interrogatório, residências deles invadidas, vasculhadas, e novas prisões no decorrer do inquérito. Aristeu Nogueira, diretor do jornal, dirigente do PCB, impetra mandado de segurança contra as medidas policiais, solicitando, ainda, a volta do funcionamento do jornal, e consegue liminar.

Janeiro de 1954: o próprio Aristeu Nogueira é preso. O Momento, acusado de desrespeitar a Lei de Imprensa por publicar o “Programa de Salvação Nacional”, do PCB.

Liberdade de imprensa, sim. Menos para os comunistas.

O Momento sobreviveu entre 1945 e 1957. Duramente perseguido, teve o seu fim apressado pela turbulência decorrente do Relatório Kruschev, com denúncias duríssimas contra o stalinismo. No PCB, caiu como bomba. Houve divisões, a afetar também a imprensa do partido, e o próprio jornal comunista baiano.

O fundador de O Momento, João Falcão, rompido com o partido em razão do Relatório Kruschev, não com o pensamento de esquerda, fundará o Jornal da Bahia em 1958.

A história da imprensa comunista no Estado, aqui no recorte de O Momento, desmascara o pensamento liberal de maneira nítida – durante toda a sua existência, houve a luta das classes dominantes locais, nos vários governos, para coibir a livre expressão do pensamento. Tudo podia – pensamento comunista, não.

Nota do autor: Mergulho nesses episódios sobre a repressão à imprensa comunista na Bahia, impulsionado pela minha chegada à Academia de Letras da Bahia (ALB), empossado em março deste ano. Sucedi Luís Henrique Dias Tavares na Cadeira Número 1, um dos mais notórios historiadores brasileiros, cuja trajetória iniciou-se n’O Momento, no segundo número do jornal. Nesse texto, ele aparece rapidamente. Virá de modo mais abrangente em outras publicações, ainda suscitadas pelas pesquisas realizadas sobre o trabalho de Tavares, a redundar no discurso de posse, base para esses escritos.

Referências bibliográficas

SERRA, Sônia. O Momento: História de um jornal militante. Dissertação apresentada à Universidade Federal da Bahia como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências Sociais (área de concentração em História Social). Salvador – Bahia, 1987.

FALCÃO, João. O Partido Comunista que eu conheci (20 anos de clandestinidade). Rio de Janeiro : Editora Civilização Brasileira, 1988.

FALCÃO, João. Valeu a pena (Desafios de minha vida). Salvador : Ponto & Vírgula, 2009.

FALCÃO, João. Comunicação sobre a Revista Seiva, feita aos 26 de setembro de 1990, no 1º Seminário de Revistas e Movimentos Literários da Bahia, na Academia de Letras da Bahia. Revista da Academia de Letras da Bahia, n. 39, maio/1993. Salvador, Academia de Letras da Bahia, p. 251-259.

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*Jornalista, professor, escritor.

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).
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Notícias

Primeiro e-book de Emiliano José resgata memórias do jornalismo

Exatamente dois anos após o início da publicação das crônicas diárias que compõem a série #MemóriasJornalismoEmiliano, em sua página no Facebook, o escritor, jornalista e professor Emiliano José lança, dia 11 de maio, o primeiro volume desse baú que envolve lembranças dele e de vários colegas de profissão, reproduzindo sobretudo os bastidores do jornalismo no período da ditadura militar. “Balança mas não cai: Memórias do jornalismo Vol.1” retrata os primeiros passos do autor após quatro anos de prisão política, a descoberta como repórter, o acolhimento pelas redações da Tribuna da Bahia e Jornal da Bahia, os tantos “cúmplices” que encontrou pelo caminho.

O livro, 16º da carreira e primeiro no formato virtual, já está liberado para pré-venda na Amazon. O lançamento, entretanto, será com a live “Balança mas não cai”, dia 11 de maio, às 20h, no Youtube do também jornalista e escritor Franciel Cruz (clique aqui), autor do livro “Ingresia”. O evento conta com a participação de diversos jornalistas e profissionais envolvidos com a obra, como Mônica Bichara, jornalista autora do prefácio; o fotógrafo Agliberto Lima, Bel, autor da foto da capa; Ernesto Marques, presidente da ABI; Moacy Neves, presidente do Sinjorba; Gabriel Galo, escritor e responsável pela diagramação do livro; o sociólogo Crisóstomo de Souza; os jornalistas Césio Oliveira, Zeca Peixoto, Carlos Navarro, Cleidiana Ramos, Joana D’Arck e outros.

“Esse livro tem um sabor especial de recomeço, por ser o primeiro e-book, um mundo que eu ainda não domino. Mas por onde vou caminhar, a partir de agora, lado a lado com o impresso”, admite Emiliano José, autor de títulos como “Lamarca, o capitão da guerrilha” (este em coautoria com o jornalista Oldack Miranda) e “Carlos Marighella: o inimigo número um da ditadura militar”. Mais novo imortal da Academia de Letras da Bahia, lançou recentemente “O cão morde a noite”, pela Edufba, também autobiográfico, relembrando da infância aos terríveis quatro anos de prisão política.

Rumo da prosa

Na introdução, ele anuncia: “Nesse primeiro livro, sou o protagonista. Digo com franqueza: prefiro os meus colegas, os meus parceiros, minhas parceiras de jornada. Confiem: logo depois desse livro, virão outros, com histórias maravilhosas, personagens novos, eu só escrevendo, olhando, de soslaio. Por enquanto, contentem-se com os primeiros passos de minha trajetória. Vou torcer para uma boa leitura nesse novo caminho, o do livro digital. Não está descartada a hipótese do impresso, paralelamente”.

Transformar os artigos da série em livros foi sugestão de vários seguidores do perfil do escritor, diante de verdadeiras biografias de profissionais que marcaram e marcam o jornalismo baiano. Apaixonado por contar histórias e descobrir bons personagens, Emiliano José intercala suas próprias memórias com as de outros protagonistas. Por isso, as crônicas têm sequências diferentes de datas. E estão só começando. O autor tem muito que revirar ainda os subterrâneos de sua vivência nas redações, na faculdade como aluno e professor, na política como deputado estadual e federal, no mundo literário, sem deixar, nem por um minuto, de ser o repórter atento que sempre foi.

“O jornalismo tornou-se minha droga, meu vício, paixão…”, confessa o escritor ao longo da narrativa. E isso fica bem claro com essa série #MemóriasJornalismoEmiliano, que despertou o interesse dos colegas de profissão e seguidores da página no Facebook. Tanto que os comentários foram integrados à edição de “Balança mas não cai”, pela importância das contribuições, algumas decisivas para “o rumo da prosa”. E fotos da época que também foram chegando, como a da capa de autoria do repórter fotográfico Agliberto Lima, que retrata Emiliano na redação da extinta sucursal do jornal O Estado de São Paulo.

O prefácio de “Balança mas não cai” é da jornalista Mônica Bichara, do Blog Pilha Pura (https://pilhapuradejoaninha.blogspot.com/), onde as crônicas da série estão sendo reproduzidas no formato mantido no livro, incluindo fotos e comentários. A capa e design gráfico são do também escritor Gabriel Galo.  

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Jornalista Emiliano José toma posse na Academia de Letras da Bahia

Eleito em novembro para ocupar a cadeira de número 1 da Academia de Letras da Bahia (ALB), o jornalista, escritor e professor Emiliano José toma posse nesta sexta-feira (19/03), às 19h. O evento ocorre de forma virtual, em decorrência da pandemia de Covid-19, assim como foi a posse histórica da nova diretoria da ALB, realizada no último dia 11, pelo Youtube (canal da ALB aqui). A solenidade será dirigida pelo acadêmico Ordep Serra, recém-eleito presidente da entidade. Depois do discurso de agradecimento, o mais novo imortal será saudado pelo arquiabade do Mosteiro de São Bento, Dom Emanuel D’Able do Amaral, membro da Academia.

Em entrevista à Associação Bahiana de Imprensa (ABI), Emiliano José falou sobre a honraria de ocupar a cadeira deixada pelo historiador Luís Henrique Dias Tavares, falecido em  junho passado. “A minha fala vai tentar traduzir o agradecimento e ao mesmo tempo lembrar os meus antecessores, e de modo muito especial do professor Luís Henrique Dias Tavares, provavelmente o mais importante historiador da vida baiana. Será um momento muito significativo”, destaca.

“É um momento muito honroso para mim. Não foi uma luta para chegar à Academia, foi uma generosidade dos acadêmicos e acadêmicas, que me acolheram com imenso carinho”, afirma. Segundo ele, o principal esforço foi do arquiabade Dom Emanuel d’Able do Amaral. Aos 74 anos de idade e com 16 livros publicados, Emiliano considera a indicação um reconhecimento de sua trajetória como jornalista e escritor. Ele tinha 28 anos quando chegou como “foca” à redação do jornal Tribuna da Bahia, sua primeira casa, anos depois de deixar a prisão no período da ditadura.

O professor contribuiu para formação de gerações de jornalistas e escritores baianos, por sua atuação de mais de 20 anos na Faculdade de Comunicação da UFBA (Facom). “Chego à Academia graças ao jornalismo. Agradeço profundamente ao mundo do jornalismo, aos meus colegas e minhas colegas, aqueles que conviveram comigo e me ensinaram, deram o caminho das pedras. Eu fico muito comovido ao lembrar que essa trajetória é devida principalmente aos amigos e amigas jornalistas, que me deram régua e compasso”, afirma Emiliano José.

Pandemia e posse virtual

Acostumado a reunir dezenas de pessoas em eventos políticos e culturais, Emiliano lamentou a posse no formato virtual, mas reforçou a necessidade de se respeitar as medidas de distanciamento, como forma de combater o coronavírus. “Eu sempre conto com muita gente nos lançamentos dos meus livros e nas atividades que participo, mas amanhã terei que tentar juntar algumas pessoas na web. Vivemos sob uma pandemia, seriamente agravada por um governo negacionista, genocida. Não tem outra palavra, já que ultrapassamos 3 mil mortes por Covid ao dia. É uma trágica situação a nossa. A posse não poderia ser de outra maneira”, defende. “Melhor seria um encontro caloroso, cheio de abraços e beijos, mas estamos enfrentando este momento. Fomos levados a outro tipo de convivência, de natureza virtual. Não deixemos, no entanto, de conviver. Esses encontros são nossa maneira de manter acesa a fraternidade, celebrar a amizade, manter o diálogo entre nós”, convoca o jornalista.

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