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Ataques à imprensa no Brasil sobem 54% em 2019, segundo a Fenaj

Relatório da entidade agrupou as ocorrências em dez categorias: assassinatos; agressões verbais; ameaças e intimidações; agressões físicas; censura; cerceamento à liberdade de imprensa por meios judiciais; impedimentos ao exercício profissional; injúria racial; violência contra organização sindical; e descredibilização da imprensa.

Ataques contra veículos de comunicação e jornalistas no Brasil aumentaram 54% em 2019 em relação ao ano anterior, de acordo com os dados gerais do relatório da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), publicados no último dia 14. De acordo com a entidade, foram registradas 208 ocorrências em 2019 – no ano anterior, foram 135. O relatório agrupou as ocorrências em dez categorias: assassinatos; agressões verbais; ameaças e intimidações; agressões físicas; censura; cerceamento à liberdade de imprensa por meios judiciais; impedimentos ao exercício profissional; injúria racial; violência contra organização sindical; e descredibilização da imprensa.

Para elaborar o documento, a Fenaj contabiliza todos os casos que chegam ao conhecimento da entidade, seja por meio de denúncia da própria vítima, notas veiculadas pela imprensa e até publicações nas redes sociais. Antes de incluir os dados no relatório, a Fenaj verifica a veracidade dos relatos.

“Sabemos que há uma subnotificação, porque muitos profissionais ainda não perceberam a importância de denunciar. Às vezes, uma agressão não parece ser grave, mas, somada às outras, caracteriza um clima de desrespeito à atividade profissional. Por isso é preciso denunciar, para que a categoria como um todo pense na sua atuação, em medidas protetivas, e cobre do Estado brasileiro ações de garantia do exercício profissional”, disse a presidente da Fenaj, Maria José Braga, ao Centro Knight. Ela destaca que, mesmo com a subnotificação, 208 ocorrências é “um volume alarmante”.

Do total, 121 casos são de falas do presidente Jair Bolsonaro contra jornalistas específicos ou contra a imprensa. Por isso, em 2019, a Fenaj decidiu criar uma nova categoria, a de descredibilização da imprensa, para agrupar os ataques recorrentes do chefe do Executivo.

“Até 2018, a categoria de agressões físicas era a mais predominante, mas agora é a de descredibilização da imprensa. Foram as falas do presidente que pesaram na balança para esse aumento em 2019. Ele, sozinho, é responsável por 58% das agressões, e isso é extremamente preocupante. Houve uma institucionalização dos ataques à imprensa, o que nunca tinha ocorrido antes”, diz Braga.

Dos 121 ataques feitos por Bolsonaro, sete foram contabilizados como agressões diretas a jornalistas. “As falas do presidente estão divididas entre categorias como descredibilização da imprensa, quando são gerais, e ameaças ou intimidação, como foi contra o jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept, por exemplo”, afirma Braga. Em julho de 2019, Bolsonaro disse que o jornalista tinha cometido um crime e que “talvez pegue uma cana aqui no Brasil“.

Braga espera que o aumento em 2019 não se configure em uma nova tendência para os próximos anos e cobra medidas de proteção por parte das empresas de comunicação e do governo. “A Fenaj defende a criação de comissões de segurança nas redações, para avaliar os riscos e medidas mitigatórias. A Rede Globo no Rio, por exemplo, já criou essas comissões, mas é preciso que isso seja adotado por outras empresas. E elas precisam cobrar ações do governo brasileiro também”, afirma.

O total de ocorrências em 2019 representa um pico de registros no histórico do relatório, que é realizado ao menos desde 1998 com diferentes periodicidades. De acordo com Braga, houve uma explosão de agressões em 2013, durante as manifestações de rua no país, com 189 ocorrências. “Foi um ano atípico, mas ainda assim foi um total menor do que o registrado em 2019”, diz ela.

Um ponto positivo destacado pelo relatório foi a diminuição das agressões físicas – tipo de violência mais comum até 2018. Foram quinze casos em 2019, contra vinte profissionais. Em 2018, foram 33 ocorrências. “As agressões têm se tornado mais verbais com o advento das redes sociais, mas quinze casos ainda é um número muitíssimo elevado para uma democracia”, afirma Braga.

Por outro lado, o número de assassinatos cresceu. Os jornalistas Robson Giorno e Romário da Silva Barros, que trabalhavam em Maricá (RJ), foram mortos. No ano anterior, havia ocorrido um assassinato e, em 2017, nenhum. Da mesma forma, houve um aumento de injúrias raciais contra jornalistas. Em 2019, foram duas, contra nenhuma em 2018.

*Publicado originalmente no blog Jornalismo nas Américas (Knight Center/Universidade do Texas)

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