“Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro”. Com esse trecho bíblico do livro de Eclesiastes, o arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger, traduziu o sentimento de familiares e amigos de Jorge Calmon reunidos na Basílica do Senhor do Bonfim, no dia em que o jornalista completaria 100 anos. A missa realizada na manhã desta terça-feira (7) é parte de uma série de homenagens organizada pela Associação Bahiana de Imprensa, com o apoio de outras instituições baianas, para celebrar o centenário do jornalista falecido em 18 de dezembro de 2006, aos 91 anos. Diretores da ABI e representantes de diversas entidades que tiveram a história marcada pela passagem de Dr. Jorge, como era conhecido, também participaram da celebração.
A homilia foi um emocionante culto à amizade. Para o arcebispo, as homenagens de tantas entidades ajudam a perceber a importância de Jorge Calmon para a sociedade. “Não é um acontecimento privado, pois ele ajudou a escrever a história deste estado. Essa celebração religiosa tem duas funções principais. A primeira é rezar pelo jornalista, a segunda finalidade é olhar para a vida dele com o olhar da fé. Através de cada pessoa, Deus nos ensina uma coisa. Seria muito pouco se sobrevivêssemos apenas na memória humana, que é efêmera. Os livros de história são mudados, assim como as placas e monumentos das ruas. Só o pensamento de Deus é sempre o mesmo. Ele nos enviou o seu filho Jesus para refazer os laços de amizade com ele”, lembrou dom Murilo Krieger.
Um coral regido pelo maestro Francisco Rufino entoava a canção “Amigo”, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, quando o presidente da ABI, Walter Pinheiro, falou em nome de todos os amigos de Jorge Calmon. “Com essa homenagem, estamos trazendo para junto de nós essa figura inesquecível. É o papel que cada um de nós desempenha que influencia na vida das pessoas. Poucos são os que entram para a história. Repetir aqui os talentos desse homem multifacetado seria redundância, pois essa foi a chave para a sua importância em todas as entidades por onde passou”, afirmou o dirigente, tendo ao seu lado o presidente da Assembleia Geral da ABI, Samuel Celestino, e o diretor da ABI, Nelson de Carvalho.
O mais jovem dos seis filhos do jornalista, o auditor fiscal Jorge Calmon Filho (56), agradeceu as homenagens. “Estamos muito emocionados. Tem menos de nove anos que ele faleceu, mas poderia estar aqui porque ele estava bem, muito ativo. Para nós, é um orgulho homenagear uma pessoa que tanto fez pela Bahia, em diversas áreas. Ele deixou um exemplo de que a gente tem que fazer mais do que se dedicar à nossa carreira”, destaca Jorge Calmon Filho, acompanhado pelos irmãos Mário Jorge Calmon, Eleonora Calmon, Maria Edith Calmon, Maria Virgínia Calmon Santos e Maria Tereza Calmon Carvalho.
Prestigiaram a celebração o ex-governador Roberto Santos, os diretores da ABI: Luís Guilherme Pontes Tavares, Aloísio da Franca Rocha, Nelson de Carvalho, Sérgio Mattos, Eliezer Varjão e Valter Lessa, além da presidente da Academia de Letras da Bahia (ALB), Evelina Hoisel; entre outras entidades. Na noite desta terça-feira (07), Jorge Calmon também foi lembrado em uma sessão especial na Câmara Municipal. Seguindo as comemorações, haverá na noite de 9 de julho (quinta-feira), uma sessão especial da Academia de Letras da Bahia (ALB). O jornalista Samuel Celestino, amigo e substituto de Jorge Calmon na cadeira 23 da instituição, será o orador. A exposição itinerante “100 anos de Jorge Calmon” está aberta à visitação no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). A mostra que tem curadoria do fotógrafo Valter Lessa reúne 20 fotos que retratam momentos marcantes carreira e atuação de Jorge Calmon.
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Jorge Calmon presidiu a Associação Bahiana de Imprensa entre os anos de 1970 e 1972, integrou a Academia de Letras da Bahia, a Associação Cultural Brasil-Estados Unidos (ACBEU), a Fundação Casa de Jorge Amado (FCJA), a Associação Comercial a Bahia e o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, além de ter participado da organização e implantação do atual curso de Jornalismo da UFBA e da própria Faculdade de Comunicação. Sua história se confunde com a do jornal A Tarde, ao qual se dedicou durante toda sua vida profissional. Começou a carreira de jornalista em 1935, como repórter geral. Passou pelas funções de redator, secretário de redação e, após 14 anos, assumiu o cargo de redator-chefe, que ocupou por mais de 40 anos. Ele também foi, em paralelo à atuação jornalística, diretor da Biblioteca Pública do Estado e do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP), deputado estadual, secretário da Justiça, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE).