Em 11 de setembro de 1973, o Chile testemunhou um dos eventos mais impactantes de sua história, quando um golpe militar liderado pelo general Augusto Pinochet depôs o presidente eleito Salvador Allende. Na manhã desta quarta-feira (11), a Associação Bahiana de Imprensa recebeu em sua reunião mensal de diretoria a jornalista chilena Cecilia Soto. Ela analisou os eventos que culminaram no golpe, a forte repressão sofrida pela imprensa e discutiu os reflexos do período no cenário de mídia do país 50 anos depois.
Soto nasceu em Santiago, morou em Linares e fez faculdade de Técnico em Turismo, na antiga Universidade Técnica del Estado, na cidade de Valdivia. Chegou ao Brasil em 1986 para fazer intercâmbio em Curitiba. Em 1988, desembarcou em Salvador. Em 1991, formou-se em Comunicação Social pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/UFBA), onde atuou como professora nas disciplinas de Assessoria de Comunicação e Comunicação e Atualidade.
De acordo com Soto, o golpe não apenas mudou o curso político do país sul-americano, mas também deixou cicatrizes profundas na liberdade de imprensa. “As manipulações e mentiras foram muito grandes. Não havia uma imprensa de oposição para denunciar as violações. A gente vê que o Chile ainda é um país dividido e muito conservador”, destacou.
O golpe de Estado ocorreu em plena Guerra Fria e não foi um fenômeno isolado. Soto traçou uma espécie de linha do tempo, correlacioando os fatos históricos que aconteciam em países vizinhos, como a Bolívia de Hugo Banzer, o Uruguai de Juan María Bordaberry, a Argentina sob o domínio das Forças Armadas e o Brasil, que enfrentaria 20 anos de regime militar.
Linha do tempo
Euforia e censura (1973-1989)
Após o golpe de 1973, o governo militar de Pinochet instaurou um regime autoritário que se caracterizou pela censura à imprensa. Vários veículos de comunicação, considerados críticos ao regime, foram fechados, e jornalistas enfrentaram perseguições e ameaças. A liberdade de imprensa praticamente desapareceu e o fluxo de informações estava sob controle estrito do governo.
Transição democrática (1989-1990)
Em 1989, o Chile deu um passo crucial em direção à democracia com o plebiscito que resultou na saída de Pinochet do poder. A transição democrática trouxe consigo um novo fôlego para a liberdade de imprensa. Muitos jornais e meios de comunicação que haviam sido fechados sob o regime militar foram reabertos, e o país começou a se reconectar com a comunidade internacional.
Consolidação da liberdade de imprensa (1990-atual)
Desde o retorno à democracia, o Chile tem mantido um compromisso com a liberdade de imprensa. Há agora uma expectativa, principalmente por parte da imprensa, em torno da reforma da Constituição de 1980, herdada do regime militar.
Segundo Cecilia Soto, o novo processo tenta deixar para trás o documento dos tempos de Pinochet. É a segunda tentativa de mudança no texto constitucional chileno, após um plebiscito ter recusado a primeira proposta, em 2022.
“O país tem fortalecido sua tradição de jornalismo independente, com diversos meios de comunicação informando sobre uma ampla variedade de tópicos e questões políticas. O povo chileno consegue manifestar pela internet, por meio da imprensa alternativa, o que não é denunciado na imprensa oficial”, afirma a jornalista.
Desafios atuais
Apesar dos avanços, ataques cibernéticos a sites de notícias e a desinformação são ameaças crescentes ao jornalismo de qualidade. “O financiamento e a sustentabilidade dos meios de comunicação são preocupações constantes, para garantir um ambiente de mídia livre e responsável”, observa Soto.