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80 anos do Sinjorba: Assim nasceu o Sindicato

Por Nelson Cadena*

O Sindicato de Jornalistas Profissionais da Bahia-Sinjorba comemorou ontem, 14 de abril, com solenidade realizada no auditório da Federação das Indústrias- FIEB, oito décadas de existência e de lutas em defesa da categoria. O Sindicato nasceu como Associação, etapa inicial de representação e organização, conforme estabelecido pelo Ministério do Trabalho, para o requerimento e obtenção da Carta Sindical.

Nasceu em 14 de abril de 1945. Era para ser 15 de abril, data simbólica, correspondente à da fundação do Sindicato de Jornalistas de São Paulo, 15 de abril de 1937, que naqueles idos já se tornara a mais representativa entidade sindical do país. Modelo para os congêneres. Como 15 de abril seria um domingo, antecipou-se a fundação do Sinjorba para o sábado.

Três jornalistas foram eleitos, para compor a diretoria: Aureo Contreiras, presidente; Alberto Vita, vice-presidente e Mário Sandes, Tesoureiro. Aureo era um poeta consagrado, integrara o grupo de intelectuais da revista Samba, em 1928, celeiro do movimento modernista na Bahia. No campo associativo foi diretor-secretário da ABI, presidente do Sinjorba, presidente da Associação Baiana de Cronistas Esportivos-ABCC, diretor da Casa-Museu Ruy Barbosa e representante do Clube de Imprensa Baiana. Correspondente do Correio da Manhã (RJ) e colaborador de vários jornais e revistas. Fundou uma agência de notícias baiana. Na década da fundação do Sinjorba filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro-PCB

A militância no jornal O Momento

Alberto Vita, também militante do PCB, foi um destacado redator e mais tarde diretor- secretário do jornal O Momento, fundado na Bahia cinco dias antes do Sinjorba, inicialmente um semanário, mais tarde jornal diário com representação nos bairros populares. As lideranças dos bairros vendiam assinaturas do jornal, distribuíam e faziam as cobranças. Tornou-se o órgão oficial do Partido Comunista, não apenas na Bahia, mas, no Brasil, o título lançado em vários estados. Vita, no cargo de Secretário de Redação, preparava as pautas. Seu sobrinho, o ex-conselheiro do TCM Fernando Vita, certa feita, o definiu como “um comunista daqueles de primeira hora e camarada muito querido da imprensa baiana”. Quando de seu falecimento, Luís H. Dias Tavares destacou “a sua bondade e doçura.

O Momento reuniu dentre outros expoentes Alberto Vita, Almir Matos, Ariovaldo Matos, Aristeu Nogueira, Inácio Alencar, James Amado, José Gorender, João Falcão (fundador em 1958 do Jornal da Bahia), João Batista Lima e Silva, Luís Henrique Dias Tavares, Mário Alves, Nelson Araújo, Quintino de Carvalho (que viria a ser um dos fundadores da Tribuna da Bahia, em 1969). As atas de diretoria da ABI registram vários episódios de repressão ao O Momento, com prisão de seus diretores e redatores. Guarda documentos sobre a prisão e devassa na residência de Ariovaldo Mattos. Sempre que a ABI intercedia junto à Secretaria de Segurança Pública, esta, justificava como álibi: “Eles não portavam carteira da ABI”.

Aureo na linha de frente, de terno preto, o segundo à esquerda, durante o desfile que celebrou o translado dos restos mortais de Ruy Barbosa para a Bahia | Foto: Acervo Museu de Imprensa/ABI

O terceiro protagonista desta história era o Mário Sandes, eleito como tesoureiro. O homem do dinheiro, melhor, da falta de dinheiro. O Sinjorba como as outras entidades de jornalistas sobreviviam com subsídios da Prefeitura Municipal e do Governo do Estado, como principal fonte de renda. Sandes devia ser um bom captador de recursos. Foi tesoureiro de várias entidades, muito bem relacionado com empresários e com o poder público.

Os três fundadores do Sinjorba foram diretores da ABI, em diversos períodos, Contreiras por mais de três décadas. O ambiente político com a queda de Vargas em 1945; a posse de Eurico Gaspar Dutra em janeiro de 1946; a constituinte do mesmo ano; a eleição de uma boa bancada de deputados comunistas na Câmara Federal e de Luís Carlos Prestes, no Senado; a posterior cassação dos mandatos; o retorno de Vargas em 1951, retardaram a concessão da carta sindical, ao Sinjorba. A recebeu em 17 de abril, dez semanas depois da posse do ex-presidente para um novo mandato, desta vez eleito pelo voto popular.

A sede provisória

O Sinjorba, desde 1949, funcionava na Casa de Ruy Barbosa, na rua do mesmo nome, sede da ABI. Aureo Contreiras, presidente do Sinjorba era o diretor da Casa. E foi na sede da ABI que o Sinjorba promoveu a renovação de sua diretoria, em 1952, realizando as eleições no espaço e empossando Heron de Alencar como presidente, Otacílio Lopes como vice-presidente e Mário Sandes como Tesoureiro; Edgard Curvelo, avô de André Curvelo e Claudio Tavares, um dos fundadores da série Cadernos da Bahia e ardente defensor da cultura popular, foram eleitos representantes na Federação Nacional de Jornalistas-FENAJ. Curvelo faleceu meses depois, ao seu funeral compareceram o ex-governador Otávio Mangabeira, governador Regis Pacheco, prefeito Osvaldo Veloso Gordilho, dentre outras autoridades.

A chapa do Sinjorba incluía em outros cargos, como suplentes da diretoria: Alberto Vita, Kleber Pacheco, Raimundo Mata. E no Conselho Fiscal: Antônio Brochado, Manoel de Souza Durão e Miguel de Souza Martins; na suplência: Raimundo dos Prazeres, Virgílio Sobrinho e Walfrido Moraes. Teve bate-chapa na eleição, entre dois jornalistas de A Tarde, ambos militantes, com destaque nacional, da campanha “O Petróleo é Nosso”. Heron de Alencar venceu com sete votos de vantagem a chapa encabeçada por Roschild Moreira, irmão de Zilhá Moreira, correspondente de O Estado de São Paulo.

Zilah que teve papel de destaque no enfrentamento à ditadura militar, antes foi setorista da editoria de esportes e trabalhou com Carlos Navarro Filho, diretor da sucursal do Estadão na Bahia, por três décadas, um dos ex-presidentes do Sinjorba, presentes na solenidade de ontem.

Foto: acervo pessoal

*Nelson Cadena é jornalista, pesquisador, publicitário e diretor de cultura da ABI.

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI)

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