Seja na televisão, rádio, internet ou em veículos impressos, todo jornalista deve se manter informado diariamente. Saber de tudo que acontece no Brasil e no mundo é fundamental para contextualizar suas produções e escrever bem. Para isso, o hábito da leitura precisa acompanhar o estudante de jornalismo e o profissional para fora do ambiente acadêmico ou de trabalho.
A ABI resgatou uma lista feita pela Revista IMPRENSA, com o auxílio de 40 jornalistas. A publicação questionou-lhes quais os 10 livros que mais contribuíram para suas carreiras e seriam indispensáveis para o profissional da área. O resultado final, feito com base em 40 respostas, você confere abaixo.
Você sabia? Segundo dados da última pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil, feita pelo Instituto Pró-Livro em 2016, entre 2011 e 2015, 44% da população não lê e 30% nunca comprou um livro. O estudo realizado a cada quatro anos pela entidade, indicou que a quantidade anual média de livros lidos por habitante passou de 4 para 4,96. No entanto, desse total, 2.43 foram terminados e 2.53 lidos em partes. No mesmo período, outro levantamento divulgou números desanimadores e que deixam o Brasil fora de um cenário relevante sobre os maiores índices de leitura: o faturamento do setor editorial encolheu 18% em valores atualizados, segundo pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). A pesquisa mostra que jovens leem mais e que se lê menos com o aumento da faixa etária.
1 – “A SANGUE FRIO”, DE TRUMAN CAPOTE (1966) |
“Se há uma obra literária que define o jornalismo investigativo, esta é a ‘A Sangue Frio’. A jornada conduzida por Capote não é somente pela busca da reportagem perfeita ou mesmo pela verdade absoluta dos fatos. Ele nos ensina que qualquer história se torna mais interessante à medida em que nos aprofundamos no que há de mais verdadeiro nelas: o coração dos protagonistas. Uma verdade pessoal é relativa, mas pode ser mais contundente do que qualquer fato consumado. Capote enxergou (e sentiu) isso.”
2 – “CHATÔ, O REI DO BRASIL”, DE FERNANDO MORAIS (1994) |
“O livro marca o encontro de duas figuras memoráveis: o repórter Fernando Morais e Assis Chateaubriand. Ele era o dono de um império que inaugurou a moderna comunicação no país, a qual ele dominou como uma versão real, ainda mais poderosa de Cidadão Kane. Chefe de uma centena de emissoras de rádio e TV, jornais e revistas, Chatô tinha o estilo de um jagunço, a ousadia de um conquistador, a criatividade de um revolucionário, e teve a sorte de encontrar Morais, responsável, talvez, pela mais impressionante biografia do jornalismo brasileiro.”
3 – “FAMA E ANONIMATO”, DE GAY TALESE (1970) |
“‘Fama e Anonimato’ demonstra porque lugar de repórter é na rua. E ensina: é preciso saber olhar, despir-se de todos os preconceitos e surpreender ao escrever. O texto-símbolo, o perfil de Sinatra, está longe de ser a única joia. Toda a seção de perfis, nos quais Gay Talese olha com carinho para o boxeador decadente ou o autor dos obituários do The New York Times, é uma aula de jornalismo. A série de reportagens sobre Nova York, outra. E o conjunto sobre a construção da ponte Verrazzani-Narrows, um épico.”
4 – “O ANJO PORNOGRÁFICO”, DE RUY CASTRO (1992) |
“Em grande parte por culpa de o ‘Anjo’, acabei publicando dois livros sobre biografias, esse universo vasto e extraordinário para o qual convergem as ciências e as artes. Além do start intelectual, Ruy Castro me pôs em contato com um Nelson mais fascinante que aquele que eu tinha em mente. O florescimento do dramaturgo é antecedido por um levantamento espetacular das peripécias da família Rodrigues no início do século XX por jornais como A Manhã e A Crítica. Sob esse aspecto, continua valioso para o processo de formação de novos jornalistas.”
5 – “NOTÍCIAS DO PLANALTO”, DE MÁRIO SÉRGIO CONTI (1999) |
“Quando o livro saiu, em 1999, Collor estava mais no passado do que hoje, pois nem mandato tinha. Os escândalos do ex-presidente e sua turma jaziam esquecidos. O livro mobilizou as redações pelo que revelava sobre elas mesmas ao mostrar como os mios de comunicação construíam e destruíam Collor, do governo de Alagoas ao impeachment. Enquanto críticas acadêmicas costumam analisar apenas o que chega ao público, as 141 entrevistas de Conti ajudam a entender quem são os olhos, bolsos, corações e mentes por trás das notícias.”
Emiliano Urbim – repórter da revista O Globo
6 – “O REINO E O PODER”, DE GAY TALESE (1969) |
“A história do The New York Times é uma saga que vale a pena ser conhecida. Talese contou com o apoio da família Suzberger, que lhe franqueou arquivos, e nem por isso a biografia é chapa-branca. Ao contrário, mostra como até mesmo críticas à direção eram assimiladas dentro do espírito democrático que rege o jornal. O leitor constata que o livro não de uma grande reportagem no estilo do new journalism, que introduziu na narrativa jornalística mais subjetividade, mais emoção na descrição da realidade, mondando-a até hoje.”
7 – “MINHA RAZÃO DE VIVER”, DE SAMUEL WAINER (1987) |
“O livro é um relato, sem precedentes, da relação entre imprensa e poder no Brasil republicano. As memórias, sem censura, deixam perplexo o leitor desavisado. Usei o livro como leitura obrigatória para uma turma de primeiro ano do curso de jornalismo da PUC-SP. Os garotos ficaram revoltados e odiaram a figura do Wainer. Épicos furos de reportagem se misturam com o jabá descarado. Idealismo e obstinação são confrontados com interesses particulares e conluios regados a uísque. Se a coisa mudou, cabe ao leitor responder.”
8 – “DOM CASMURRO”, DE MACHADO DE ASSIS (1900) |
“Se alguém percorresse as bibliotecas dos grandes escritores brasileiros, certamente, encontraria pelo menos um exemplar de “Dom Casmurro”. No meu caso, o livro foi eleito quando eu ainda era adolescente, porque tem tudo o que um grande romance deve ter para o meu gosto: humor, elegância, enredo, sabedoria, riqueza de linguagem e mistério. O mistério de “Dom Casmurro” também é clássico: afinal, Capitu traiu Bentinho ou não? Grandes sabichões já cravaram que sim. O adolescente que fui nunca teve tanta certeza. Por isso, a obra me conquistou para sempre.”
9 – “A REGRA DO JOGO”, DE CLÁUDIO ABRAMO (1988) |
“As palavras de Abramo ganham maior importância na sociedade de hoje quando as tecnologias aceleram a divulgação de notícias. Ficou mais difícil suportar a pressão para divulgar primeiro e depois apurar o fato. Seu lembrete de que o jornalismo é o exercício cotidiano da inteligência e a prática diária do caráter precisa ser lido todos os dias. Quando fui gerente de jornalismo da CBN, pedi que uma placa com esses dizeres fosse colocada na entrada da redação. Todos os dias, lia em voz alta e me perguntava baixinho se estava praticando o que o mestre Abramo dizia.”
10 – “1984”, DE GEORGE ORWELL (1949) |
“Orwell materializou sua visão tenebrosa do futuro: o mundo dividido em estados que vivem em eterna beligerância com aliados/inimigos alternantes, em extrema pobreza material e espiritual, orquestrado por ditaduras coletivistas e idiotizantes. O protagonista é encarregado de adaptar os arquivos de notícias à ‘realidade’. Rebela-se, sem sucesso. Muito do que Orweel descreveu já existe: uma sociedade onde câmeras onipresentes vigiam os indivíduos e que caminha para o desaparecimento consensual, em nome da segurança, do conceito de privacidade.”
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