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O jornalista que idealizou a ABI

Nelson Cadena*

Thales de Freitas foi o idealizador da Associação Bahiana de Imprensa-ABI, fundada em 17 de agosto de 1930, com um número recorde de 103 associados. Thales de Freitas era farmacêutico de profissão – proprietário da Farmácia Americana – um sujeito afável, moderador, talhado para a vida associativa. Não apenas idealizou a ABI como fundou um ano antes de falecer (1947) o Clube da Imprensa. Thales lançou junto aos colegas a ideia de retomar as frustradas experiências da criação do Círculo dos Repórteres, que funcionou dois anos apenas (1903-1905), presidido por Cosme de Farias, e da Associação de Imprensa (1910), presidida por Virgílio de Lemos.

Diretores e redatores de A Tarde, O Jornal, Diário de Notícias e Imprensa Oficial encamparam a ideia e constituíram comissão para visitar os jornalistas nas suas residências, ou locais de trabalho, que naquele tempo não eram as redações dos jornais. Todos tinham outras profissões: médicos, advogados, dentistas, militares, religiosos, engenheiros… A comissão se desfez aos poucos, ficando Thales de Freitas praticamente só na tarefa de arregimentar associados como contou o poeta e jornalista Aureo Contreiras, anos depois, em artigo para a revista Única.

Foi eleito vice-presidente da diretoria executiva da ABI, esta presidida por Altamirano Requião. Permaneceu na diretoria, por 17 anos, ocupando os cargos de vice-presidente e secretário da assembleia geral. E foi o primeiro jornalista a receber o título de sócio benemérito da ABI, em 1934. Na Associação, além dos cargos para os quais foi eleito, assumiu o papel de mestre de cerimônias nas comemorações, todo ano, do Dia do Jornalista, então celebrado em 10 de setembro. Vestiu a camisa de relações públicas, representando a ABI em eventos sociais e integrando comissões voltadas para diversas causas de iniciativa de outras associações.

Thales de Freitas atuou principalmente no segmento de revistas. Em 1920 fundou com Constantino de Souza a revista A Rua que circulou por mais de uma década; antes, 1913, foi redator da Gazeta do Povo e deve ter sido do jornal O Democrata que foi a continuação da Gazeta. Após, dirigiu a Revista Festa e foi colaborador ao longo da vida de vários jornais. A grande imprensa não foi nem um pouco generosa com ele, preconceituosa, diria eu. Não o reconheceu como jornalista. Referiam-se a ele como o farmacêutico Thales de Freitas, inclusive no obituário de sua morte, enquanto seus colegas eram chamados de jornalistas e não pela sua formação profissional específica.

Foi homem de muitas iniciativas. Presidiu o comité pro-Mangabeira na grande recepção dos baianos em 1913, quando retornava a sua terra natal. Na ABI propôs construir um monumento a Ruy Barbosa, o que não se concretizou pelo envolvimento, na comissão encarregada da arrecadação de recursos, de luminares da política baiana em busca de holofotes e não trabalhadores como Thales. O pouco dinheiro arrecadado foi revertido para a construção da sede da entidade. Foi ainda um grande incentivador das campanhas para arrecadação de recursos em prol da Casa do Jornalista e um dos organizadores do I Congresso de Jornalistas da Bahia, realizado em 1945.

A ABI o homenageou inaugurando seu retrato, em 10 de setembro de 1947, retrato este que por decisão da atual diretoria será transferido dia 14 de março próximo para o Salão Nobre da entidade, ao lado dos retratos dos ex-presidentes da Casa, durante a solenidade que rememorará o cinquentenário da morte de Cosme de Farias. Thales de Freitas como Cosme de Farias, também foi da guarda nacional, obteve a patente de Major e eram amigos. Cosme registrou sua admiração dedicando o hino do jornalista, de sua autoria, a Thales de Freitas.

* Nelson Cadena é jornalista, pesquisador e publicitário.

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI)
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