A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) realizará no próximo dia 29 de abril eleições para escolher sua nova diretoria. A jornalista e escritora Cristina Serra e Helena Chagas, sua vice na chapa 1 “Democracia e Renovação”, disputam o pleito com a chapa 2 “ABI Luta pela Democracia”, encabeçada pelo jornalista Octávio Costa, com a também jornalista Regina Pimenta como vice. A votação acontece de forma virtual, permitindo que os associados de todo o País participem.
Conversamos com os candidatos à presidência e com o atual presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Pagê, como Paulo Jeronimo de Souza é conhecido, para conhecer os planos para o futuro da entidade. As duas chapas concorrentes enfatizam já no nome a necessidade de defender a democracia.
- A nominata das chapas pode ser acessada AQUI.
Octávio Costa, premiado jornalista carioca, acumula meio século de atuação na imprensa nacional, principalmente como repórter de economia. Atualmente integrando o Conselho Deliberativo da ABI, ele chegou à entidade no início dos anos 70 e começou sua militância política e sindical. Costa lembra que em 1984, a ABI participou ativamente da campanha das diretas e, em 1992, seu presidente Barbosa Lima Sobrinho apresentou o pedido de impeachment de Fernando Collor. “Essa é a ABI que marcou minha vida. Acredito que, com uma gestão democrática e participativa, podemos voltar aos anos de ouro”, afirma.
“A ABI tem compromisso histórico com a defesa da democracia. Esta luta faz parte do DNA de nossa entidade. Hoje, isso significa enfrentar Jair Bolsonaro e suas ameaças fascistas ao processo eleitoral”, defende. Ele afirma inclusive que, durante a campanha deste ano, tem a intenção de exigir a garantia da segurança dos jornalistas, em nome da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa.
“Nós, da chapa ABI Luta Pela Democracia, consideramos prioritária a defesa do Estado de Direito e da Democracia. E também defendemos uma gestão democrática no interior da própria ABI. Queremos que a ABI volte a ser efetivamente a Casa dos Jornalistas. A atual diretoria isolou-se e deu as costas às demais instâncias de decisão de nossa entidade, como o Conselho Deliberativo e o Conselho Consultivo”, critica.
Segundo o candidato, o principal objetivo é revitalizar a ABI, com uma gestão participativa. Outra bandeira de sua chapa é a luta pela democratização dos meios de comunicação, item com previsão constitucional.
“‘Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio’”, é o que determina o parágrafo 5 do artigo 220. No mesmo sentido, o art. 223 prevê a complementaridade dos sistemas de comunicação privado, público e estatal. Defendemos o debate e a adoção de uma Lei de Meios em nosso país”, destaca.
Nacionalização da ABI
Um dos pontos comuns às duas chapas é o desejo de fortalecer a ABI nos estados e criar representações onde a entidade ainda não esteja presente.
Octávio Costa revela propostas para ramificar a atuação para fora do eixo Rio/São Paulo/Brasília. “Garantimos a inclusão de representantes de mais oito estados em nossa chapa, a saber: RS, SC, PR, ES, MG, BA, PE e RN. A escolha desses nomes foi feita em reuniões regionais para estruturar uma rede de representações estaduais”, explica. “Assim que eleitos, vamos lançar uma Campanha Nacional de Filiação. O novo estatuto, que pretendemos aprovar logo no início do mandato, prevê a criação de uma diretoria de representação, com subdiretores para as regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul”.
A candidata Cristina Serra ressalta a necessidade de uma participação efetiva de todos os estados brasileiros. “É um orgulho imenso afirmar que temos jornalistas de todas as regiões na nossa chapa e também estamos propondo a criação de cinco diretorias regionais, uma para cada região do Brasil”, conta. O objetivo é, de acordo com a jornalista, a partir das diretorias regionais, ter pelo menos um núcleo representativo da ABI em cada estado. Com relação especificamente ao Nordeste, ela demonstra que os estados do Ceará, Pernambuco e Bahia estão presentes de forma representativa na chapa. “Precisamos da participação de todos. Os jornalistas de todo o Brasil precisam se ver e sentir representados na ABI porque a ABI é de todos os jornalistas e é patrimônio da sociedade brasileira”, salienta.
Conhecida por sua atuação na cobertura política, Cristina está acostumada a ocupar espaços majoritariamente masculinos. Se sair vencedora deste pleito, será a primeira vez que uma mulher preside a instituição de 114 anos. Em sua análise, isso significa um aumento da representatividade da ABI, já que a profissão de jornalista hoje é predominantemente feminina. “Temos um total de 19 mulheres em todos os setores da chapa. É preciso ter mulheres no comando para enfrentar a onda de violência contra mulheres jornalistas. É uma violência específica e que parte, muitas vezes, do próprio presidente da República”, lamenta.
O programa da chapa “Democracia e Renovação” conta com dez eixos de atuação, dois principais são a defesa da democracia e dos direitos humanos e a defesa do jornalismo e dos jornalistas. Outro ponto central na plataforma da chapa 1 é a defesa da regulação da mídia. “Precisamos de um ambiente regulatório que impeça ou, pelo menos, reduza os oligopólios de mídia no Brasil, para termos uma comunicação mais democrática, que represente, de fato, diversidade e pluralidade de opiniões”, avalia a jornalista.
Foi exatamente a luta pela democracia que a inspirou a integrar o quadro associativo da Associação. “Foi muito por conta do Barbosa Lima Sobrinho e sua atuação na campanha pelas eleições diretas, nos anos 1984-1985. Eu achava incrível ver aquele senhor de cabelos brancos no palanque, lutando por democracia. Ele mostrou que é preciso lutar pela democracia a vida inteira. É o que a ABI faz hoje”.
Eleito para a presidência em 2019, Pagê encerra o mandato no final deste mês e pode passar a membro do Conselho Deliberativo, uma importante instância da Casa. “O primeiro passo é ganhar as eleições. Temos duas chapas concorrendo”, sinalizou, antes de adotar uma postura otimista quanto ao pleito. “Cristina é uma candidata de peso. É uma das mais brilhantes jornalistas deste país. O seu programa de ação é sensacional. A jornalista Helena Chagas também dispensa comentários”, elogia o presidente. “Nós vamos transformar a ABI realmente numa instituição nacional”, afirma.
A ideia, segundo Pagê, é continuar as transformações que ele iniciou em seu mandato. “Hoje a ABI recuperou seu protagonismo político e democrático e as nossas finanças estão em dia”, comenta. Ele reconhece que a luta da instituição pela manutenção da democracia brasileira exige atenção constante. Nesse período, o jornalista recorda as ações promovidas pela entidade por conta do período político turbulento atravessado pelo país: os pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, o ex- ministro da Saúde, Gen. Eduardo Pazuello, e o atual ministro Marcello Queiroga, e o pedido de impeachment do Procurador – Geral da República, Augusto Aras.
Essas, entre outras ações, como a participação nas ações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra as fake news, são para ele sinal do protagonismo da ABI no cenário político. “A ABI esteve presente em todos os grandes acontecimentos políticos deste país. Estivemos em todas as manifestações políticas, sempre visando a liberdade de imprensa e a democracia. Acho que cumprimos a nossa missão”.
Em março, Pagê foi homenageado com a Medalha Tiradentes pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A comenda, proposta pela deputada Mônica Francisco (Psol), foi concedida em reconhecimento ao trabalho do jornalista e da ABI na garantia da liberdade de expressão no país. O jornalista confessou sua surpresa ao receber a honraria e garantiu que se mantém na luta pela liberdades democráticas e pelos direitos humanos.