ABI BAHIANA

Roda de conversa na ABI celebra os 474 anos de Salvador

Profissionais ligados à imprensa, educação e cultura refletirão sobre memória, sociedade e desafios contemporâneos, como mobilidade e infraestrutura

Em 29 de março de 1549, Tomé de Souza atracava onde nasceria a Cidade do Salvador, nos arredores da Ponta do Padrão, região do Farol da Barra, a primeira fortificação do Brasil. No seu aniversário de 474 anos, a capital baiana receberá uma homenagem da Associação Bahiana de Imprensa. Nos dias 28 e 29 de março, a Roda de Conversa “Salvador, 474 anos: Entre história, memória e luta” celebra a cidade e reflete sobre importantes desafios da sociedade soteropolitana. O evento acontece no Auditório Samuel Celestino, no edifício-sede da ABI, na Praça da Sé. 

No dia 28/03, às 10h, o debate “Túnel para pedestres: Qual o impacto na mobilidade do Centro Histórico?” reúne o arquiteto urbanista Paulo Ormindo, a engenheira Ilce Marília Dantas Pinto e o secretário municipal de Infraestrutura e Obras Públicas (SEINFRA), Luiz Carlos Souza. 

No dia 29/03, às 15h, o professor Rafael Dantas, historiador e artista plástico, guiará o bloco “O 29 de março e a Cidade do Salvador: Iconografia e História”. No segundo bloco, às 16h, a jornalista e palestrante Silvana Oliveira, gerente de Jornalismo da Rádio Sociedade, trará o debate “Negritude e gênero na imprensa de Salvador”.

“Túnel A” – A construção do túnel que ligará o Campo da Pólvora (Nazaré) ao Taboão (Comércio) foi aprovada pela Câmara Municipal de Salvador (CMS) no dia 15 de março. A iniciativa busca aproximar o Centro Histórico do dia a dia do soteropolitano, especialmente o Pelourinho e seu já conhecido circuito cultural. O projeto, que vem sendo chamado de “Túnel A”, rapidamente ganhou as páginas dos principais veículos de comunicação e provocou discussões que revelaram a necessidade de análises mais profundas.

“O principal objetivo da ABI com esse debate é contribuir para a qualificação da cobertura de todo e qualquer tema de interesse da cidade. A proposta do túnel, por exemplo, é um assunto muito importante para ser tratado na superfície”, explica o jornalista e radialista Ernesto Marques, presidente da ABI.

Arquiteto, professor e associado da ABI, Paulo Ormindo é doutor em conservação e restauração de bens culturais pela Università degli Studi di Roma, com mais de 50 anos dedicados à arquitetura e ao urbanismo. Ele fez parte dos primeiros passos dados por este projeto de integração da cidade. 

Já a professora Ilce Marília Dantas Pinto é engenheira civil, doutora em Engenharia de Transportes e, há 40 anos, integra o quadro de docentes da Escola Politécnica da UFBA – Universidade Federal da Bahia. Os especialistas abordarão os aspectos técnicos do projeto, tocando em temas relativos à mobilidade urbana, inclusão e cidadania.

Titular da SEINFRA – Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras Públicas de Salvador, Luiz Carlos Souza é formado em administração e vereador eleito por Salvador. O secretário falará sobre a estrutura do projeto, que desde 2019 passa por reformulações, o funcionamento, objetivos e os benefícios para a cidade.

Por que 29 de março? – A programação da quarta-feira, 29 de março, está dividida em dois blocos, com abertura a cargo do jornalista e publicitário Nelson Cadena, diretor de Cultura da instituição.

No primeiro bloco, intitulado “O 29 de março e a Cidade do Salvador: Iconografia e História”, o professor Rafael Dantas traz, através do recurso imagético, o aporte teórico sobre a fundação da cidade. Para Dantas, essa discussão é uma boa oportunidade de relacionar a história da cidade com o trabalho da imprensa baiana. “É uma grande alegria participar dessa ação promovida pela ABI, instituição importantíssima para a memória da Bahia. Nós, historiadores, temos um link direto com as fontes impressas, os jornais, porque são a base para entender contextos do passado”, explica.

Com mediação do jornalista e pesquisador Luis Guilherme Pontes Tavares, 1º vice-presidente da ABI, Rafael Dantas abordará os costumes e o funcionamento da cidade, com base em fotografias da antiga Salvador. “Estudo há mais de dez anos a iconografia de Salvador e da Bahia. Minha ideia é falar sobre as transformações ao longo do tempo”.

De acordo com o professor, é importante enfatizar que 29 de março não marca a fundação de Salvador. “É a chegada de Tomé de Souza. Foi uma data escolhida no século XX por uma comissão de notáveis. Vamos falar sobre essa história”, antecipa.

Representatividade – No segundo bloco, a jornalista Silvana Oliveira, gerente de jornalismo da Rádio Sociedade, discutirá relações raciais e gênero na imprensa de Salvador. A mediação é da jornalista Jaciara Santos, especializada em jornalismo policial e diretora de Comunicação da ABI. 

O jornalismo no Brasil é feito por uma maioria de mulheres (58%), brancas (68,4%), solteiras (53%), com idade de até 40 anos. Os dados são da pesquisa “Perfil do Jornalista Brasileiro 2021”, liderada pelo Laboratório de Sociologia do Trabalho (Lastro/UFSC) e articulada pela Rede de Estudos sobre Trabalho e Profissão (RETIJ), da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). O levantamento mostra que a presença de pessoas negras entre jornalistas no país cresceu de 23% em 2012 para 30% em 2021, num provável reflexo das políticas de ação afirmativa no acesso ao ensino superior. 

O estudo “Perfil Racial da Imprensa Brasileira 2021” traz números parecidos quanto ao aspecto étnico-racial. Apenas 20,10% dos jornalistas das redações declaram-se pretos e pardos (negros), número quase dois terços menor do que a efetiva representação da população negra do Brasil, que é de 56,20%, segundo projeções da PNAD/IBGE 2019. Somente 15,8% dos jornalistas nordestinos são negros. Mais de 80% dos soteropolitanos pretos e pretas não são representados quantitativamente na imprensa tradicional. 

Para Silvana Oliveira, os meios de comunicação não retratam com fidelidade uma Salvador conhecida como a cidade mais preta fora da África. “São grandes as minhas expectativas em torno desse encontro, afinal, Salvador é uma cidade negra e, em que pese o movimento de algumas emissoras em relação a repórteres, a presença de negros, especialmente mulheres, continua ínfima nos cargos de decisão. Acredito que podemos agir e sermos a mudança”, salienta. A gestora pretende discutir temáticas como pluralidade, representatividade e diversidade. Ela aproveita para lançar uma provocação: “Quantas mulheres negras, hoje, são diretoras, gerentes e editoras-chefe nas empresas de comunicação do nosso estado?”, questiona.

SERVIÇO

Roda de Conversa: “Salvador, 474 anos – Entre história, memória e luta”
Dia: 28 de março (10h) e 29 de março (15h)
Local: Auditório Samuel Celestino – 8° andar do Edifício Ranulfo Oliveira, Rua Guedes de Brito, 1 – Praça da Sé, Centro Histórico de Salvador

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