ABI BAHIANA

Exposição reverencia a genialidade do fotojornalista Anízio Carvalho

O Museu de Imprensa da Associação Bahiana de Imprensa serviu de cenário para uma homenagem à altura da genialidade de Anízio Circuncisão de Carvalho, 93 anos, na manhã desta quarta-feira (19). A abertura da exposição “Ginga Nagô” foi um momento único para reverenciar a obra desse grande fotojornalista, baiano de Conceição da Feira. Sob a curadoria do premiado jornalista de imagem Manu Dias, a mostra traduziu a potência da simplicidade, através do afeto, carinho e respeito pelo legado do mestre Anízio.

O lançamento reuniu membros da Diretoria Executiva da ABI, jornalistas, educadores, fotógrafos, antigos colegas e aprendizes de Anízio Carvalho, representantes de entidades ligadas à cultura e à memória da Bahia, no térreo do Edifício Ranulfo Oliveira, sede da Associação.

A jornalista Isabel Santos (blusa vermelha) com a família de Anízio Carvalho | Foto: Paula Fróes

Se Anízio não pôde comparecer ao evento de lançamento, por estar hospitalizado, sua presença nunca foi tão forte. Ele estava lá bem antes de ser iniciada uma videoconferência com o decano. Anízio já se fazia presente no sorriso de seus filhos e familiares que o representaram, e em cada colega visivelmente emocionado com a homenagem.

“Através do seu trabalho, meu pai viveu coisas que nunca imaginou. Tanto que ele viveu mais no jornal, na imprensa, do que para nós, os filhos. Estamos mais do que gratos com esse reconhecimento”, agradeceu Juarez Circuncisão. De acordo com Juarez, seu pai enfrenta problemas de saúde associados à idade e segue ainda sem previsão de alta médica.

As lentes de Anízio Carvalho eternizaram acontecimentos marcantes da história da Bahia e do Brasil, com destaque para as coberturas do período da ditadura militar e campanhas políticas, manifestações culturais e religiosas, além da cena artística e o cotidiano da vida baiana. Manu Dias encarou a difícil tarefa de selecionar amostras desses momentos em meio à riqueza que é o acervo de Anízio. As fotos eleitas compõem os quatro painéis exibidos em “Ginga Nagô”.

O fotojornalista Manu Dias, curador de “Ginga Nagô” | Foto: Paula Fróes

Reconhecimento

O presidente da ABI, Ernesto Marques, salientou a importância da mostra. Segundo ele, a intenção da entidade é incentivar instituições culturais a atuarem na preservação do acervo reunido pelo fotojornalista em quase seis décadas de atuação plena como repórter fotográfico. Ele falou da necessidade de prover o acondicionamento do acervo, para evitar que esse material se perca.

“Essa exposição deveria ter acontecido em fevereiro, no aniversário de Anízio. Decidimos não adiar mais, porque talvez o tempo não nos concedesse a graça de ter Anízio entre nós para vivenciar isso. Ele acompanhou todo o processo, participou ativamente, recebeu a equipe da ABI mais de uma vez em sua casa”, destacou o jornalista.

Ernesto Marques (centro) com parte da equipe que trabalhou na exposição | Foto: Paula Fróes

Marques agradeceu aos profissionais que tornaram possível a instalação e reforçou a beleza de reconhecer as pessoas quando estão vivas e podem receber todo o carinho. “Anízio é para todos nós uma referência. É muito importante fazer esse reconhecimento. Eu não gosto de homenagens póstumas, quando temos a oportunidade de reconhecer em vida”, observou. O dirigente aproveitou para chamar a atenção para a questão dos direitos autorais. Ele pediu à imprensa que credite corretamente as fotos publicadas, para respeitar e prestigiar o trabalho dos profissionais de imagem.

Contemporâneo de Anízio nas aventuras pelos melhores cliques, Valter Lessa, outro grande da área, falou sobre o amigo e se alegrou com a iniciativa da ABI. “A gente se sente leve e tranquilo ao dizer alguma coisa sobre esse companheiro, um dos pioneiros do fotojornalismo na Bahia. Ele é um exemplo de dignidade e merece o mais alto pedestal”, disse.

Foto: Paula Fróes

“Só Anízio mesmo para me fazer falar na frente dessa gente toda”, brincou a diretora de Comunicação da ABI, Jaciara Santos. “Eu tenho o privilégio de ser uma das ‘meninas de Anízio’. Eu, Isabel [Santos] e Mônica [Bichara]. Queria dizer da minha alegria com este momento e queria que ele estivesse aqui, talvez, resmungando, mudando a posição das fotos. Qualquer homenagem que se preste a Anízio, a meu pai ‘véio’, ainda é pouco. Mas é o que a gente pode oferecer. Obrigada aos envolvidos na organização”, completou a coordenadora geral da exposição.

A mostra Ginga Nagô abrilhantará o Museu de Imprensa até o final do mês de maio. A visitação ocorre de segunda a sexta, das 9h às 16h. A entrada é gratuita.

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