Profissionais de peso fizeram parte do início da televisão no Brasil e trouxeram o mundo até o conforto de nossas casas. Na Bahia, a TV Itapoan, nascida em 1960 com o sinal da TV Tupi, fez história ao realizar a primeira transmissão televisiva. Nesta sexta, 2 de junho, a imprensa baiana se despediu de um dos seus personagens fundamentais: Carlos Alberto Santiago (79), o primeiro operador de videotape da emissora igualmente pioneira. Carlinhos, como era chamado por familiares e amigos, foi sepultado na tarde de hoje, no Cemitério Campo Santo, Salvador.
Carlos Alberto ingressou na TV Itapoan aos 17 anos, durante sua implantação, e dedicou à empresa toda a sua trajetória profissional, como destaca a família Santiago no anúncio da cerimônia fúnebre. Foram mais de quarenta anos em atividade, formando gerações de profissionais da imprensa, no dia a dia da notícia.
Nos grupos de aplicativos de mensagens, na TV e nas redes sociais, amigos lamentaram a perda e compartilharam histórias de aprendizado, registrando o carinho pelo companheiro de tantas jornadas.
“Sempre me tratou como um filho, orientando mesmo. Me ensinou que não existem degraus entre cargos e funções, mas sim que somos um time, e o objetivo é a imagem boa que passamos para os telespectadores”, conta César Brandão, produtor executivo do Globo Esporte, na Rede Bahia. “Sou incapaz de conseguir palavras que contemplem tudo que Carlinhos me doou. Tenho imenso orgulho de poder dizer que fui um dos privilegiados por aprender com ele. Cabo Wilson, Seu Zé Maria, Cezidio, Seu Walter, os irmãos Pettersen e tantos outros estão a recebê-lo, para transmitir a sua simpatia e alegria”, completa Brandão.
O repórter cinematográfico Júlio César também falou com a reportagem da ABI. “Pessoas como Carlinhos, que sempre trabalharam com carinho e empatia, amor pelo próximo, chegam do outro lado com grande galardão. Eu aprendi muito, ele estava sempre ensinando com paciência e boa vontade”, afirma. Júlio César atuou com Carlos Alberto por vários anos e pôde ver toda a desenvoltura do colega. “Ele formou muita gente, era um educador. Carlinhos era sinônimo de amor, carinho e atenção”, lembra. Nomes como Antônio Pastori, Hugo Brito e Zé Eduardo também manifestaram pesar.
Em 2006, Santiago foi entrevistado pela graduanda em Jornalismo e pesquisadora Joana Maltez e falou em detalhes sobre a criação da TV Itapoan, sob a ótica privilegiada de quem fez parte dessa história. A entrevista fazia parte de um projeto da Universidade Federal da Bahia e sua trajetória profissional foi registrada no artigo: “Do ceticismo à consolidação: a TV na Bahia – Notas sobre a primeira década de televisão em Salvador”, escrito pelas pesquisadoras Juliana Cíntia Menezes, Lourivânia Santos e a própria Joana, sob orientação da professora Ana Cristina Spannenberg.
Carlos Alberto participava do processo de montagem do aparato técnico da emissora e era um dos responsáveis por colocar no ar os programas preferidos de muitos baianos. Ele acompanhou a fase de corte e colagem dos filmes, quando os caracteres ainda eram gerados artesanalmente a partir de rolos de papel, posteriormente testemunhando a chegada das inovações tecnológicas ao setor.