ABI BAHIANA

Rede Agostinho Muniz apura caso de violência contra a imprensa em Itapebi (BA)

Jornalista acionou o coletivo depois de ataques do prefeito do município; político emitiu pedido de desculpa à imprensa

“Tá precisando de propina, de dinheiro, radialista? Fala comigo, que vocês radialistas, jornalistas, chega na época da política, vocês começam a ir atrás de propina. Eu já conheço vocês”. Nesta semana, às vésperas do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, celebrado hoje (03), a Associação Bahiana de Imprensa foi surpreendida por um áudio (completo aqui) no qual o prefeito Juarez Oliveira (“Peba”), do município de Itapebi, no sul do estado, oferece propina a Alinne Werneck, repórter e editora do site noticioso Leitura do Dia. Os ataques ocorreram depois de uma denúncia de supostas irregularidades na obra da maternidade de Itapebi. O caso está sendo acompanhado pela Rede Agostinho Muniz de Combate à Violência contra Profissionais de Imprensa.

De acordo com o texto publicado por Aline Cabral Guerra, que assina como Alinne Werneck, a obra se estende por quase uma década e a prefeitura “gasta milhões em locais terceirizados” para assistir às gestantes. “Adolescentes grávidas já morreram, mulheres perderam o bebê em gravidez de alto risco e nem isto faz com que o atual prefeito finalize a obra da maternidade”, diz trecho da matéria.

A jornalista afirma que se sentiu intimidada com a reação do prefeito e chegou a registrar boletim de ocorrência por injúria, na 1ª Delegacia Territorial de Eunápolis. “Jamais imaginei que uma simples matéria jornalística, onde evidenciei que a maternidade do município de Itapebi já deveria ter sido entregue, uma vez que há anos a mesma recebe verba para isto, desencadeasse a fúria do gestor, a ponto de me ofender com palavras de baixo nível, e ainda se disponibilizar a me conceder propina caso eu precisasse”, disse Werneck ao Sinjorba – Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia.

O Sindicato e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) repudiaram a declaração de Juarez Oliveira. “Se o prefeito considera que uma matéria não é jornalística e baseia-se em mentiras, deve procurar a justiça para exigir reparação, mas nunca acusar todos os profissionais, que em sua ampla maioria são idôneos e sérios”, diz texto divulgado pelas entidades.

A Rede Agostinho Muniz de Combate à Violência contra Profissionais de Imprensa – formada por órgãos de segurança pública, do sistema jurídico e por empresas de mídia – recebeu com preocupação as declarações do político e está atenta a agressões verbais, ameaças nas redes sociais, intimidações e até mesmo ataques físicos que se tornam riscos ocupacionais, aumentando não apenas a tensão, mas também o estigma contra esses trabalhadores essenciais.

“A atmosfera de um ano eleitoral pode transformar arenas políticas em campos minados para profissionais da imprensa. Precisamos garantir que a imprensa possa cumprir o seu papel de fornecer à sociedade informações claras, precisas e bem apuradas. Não podemos naturalizar que jornalistas sejam alvos de agressões e hostilidades”, defende o jornalista e radialista Ernesto Marques, um dos coordenadores do coletivo.

De norte a sul, repórteres que cobrem comícios, entrevistam políticos e investigam as campanhas são frequentemente confrontados não apenas com a resistência de seus interlocutores, mas também com o perigo iminente de ataques físicos e verbais. Segundo Ernesto Marques, à medida que se aproxima o ciclo eleitoral, torna-se imperativo não apenas discutir, mas também agir em defesa dos profissionais de imprensa.

Outro lado

Procurado pela ABI nesta quinta-feira (02), Juarez Oliveira contestou a versão da jornalista sobre as obras da maternidade. “Eles falaram que o dinheiro veio e eu gastei. Isso tem que ter prova. Essa é uma obra do governo federal, que foi emenda do deputado [Ronaldo] Carletto. Naquela época [2017], eu joguei no chão o hospital para reconstruir. O dinheiro não deu porque atrasou muito a obra. Mas a obra já está em acabamento. Acredito que até julho a gente entrega a maternidade”, disse.

“Aline veio fazer denúncias, depois veio me pedir propina. Eu tenho os áudios. Até bloqueei [no WhatsApp] para ela não apagar. Aí eu disse a ela que essa época de política chegou a hora, entendeu?”, afirmou o prefeito, em contato com a ABI. Ele revelou ter registrado um boletim de ocorrência contra a jornalista.

Foto: Reprodução

Questionado sobre as provas dos pedidos de propina por parte de Alinne Werneck, Juarez Oliveira explicou que foi orientado a não divulgar. “Os áudios em que ela me pediu propina eu não vou poder mandar para você, porque meu jurídico pediu para não mandar para ninguém. Eu já entreguei na delegacia de Itapebi. Fiz o BO contra Alinne para ela respeitar as pessoas, ok?”. O gestor ignorou os pedidos da ABI para ter acesso ao boletim registrado por ele.

Sobre as agressões proferidas no áudio enviado ao celular pessoal de Alinne Werneck e no vídeo direcionado ao locutor Roque Saldanha, o prefeito se limitou a enviar a mesma nota que havia sido emitida no dia 29 de abril (leia o texto na íntegra abaixo). Na nota, o candidato à reeleição se desculpa pelas “palavras inapropriadas”.

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