Maria Raquel Brito
Na primeira conferência do III Simpósio de Jornalismo e Literatura, nesta quinta-feira (12), o jornalista, professor e coordenador da pós-graduação em Comunicação da Universidade de Coimbra, João Figueira, traçou um panorama da ascensão das notícias falsas e suas consequências no sistema democrático, na palestra ”As fake news no cotidiano das fricções democráticas”.
Em uma apresentação que mesclou a prática jornalística e referências teóricas, o professor falou sobre as tendências simplistas do jornalismo e quão prejudicial isso é para a democracia, através de referências como os filósofos Gilles Lipovetsky e Byung Chul Han. Explicou ainda que o simplismo acontece pelo domínio da lógica mercadológica no jornalismo, que valoriza a informação mais facilmente consumível, o “infotenimento” que foca no divertimento e na espetacularização da esfera pública.
Segundo o professor, a aparente lentidão gerada pela lógica midiática fez com que houvesse desconfiança e críticas constantes às instituições. A imagem desfavorável e fragilizada que surgiu a partir disso propiciou o desenvolvimento do que ele descreveu como “a lucrativa indústria da desinformação”.
O professor criticou também a “pressa pela pressa” na profissão, ou seja, a agilidade que vem às custas da falta de apuração, visando apenas o furo jornalístico. “Ser ágil na confirmação da informação deve ser o objetivo de cada profissional”, reiterou, “porém veicular o que quer que seja sem apurar os dados, apenas com o objetivo de ser o primeiro, é aquilo que eu chamo a ‘doença infantil do jornalismo’”.
Outra questão levantada pelo público foi a checagem de dados em meio às fake news: é possível pensar uma estrutura de legitimação de informações? Como resposta, o professor pontuou que uma ferramenta do tipo, pautada em regras computacionais, se afastaria do papel humano do jornalismo, essencial para a prática.