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No rastro do fogo 

Por Liliana Peixinho *

Mais que registro histórico sobre cultura ancestral com fogos, o documentário “No Rastro do Fogo” é uma provocação poética e política sobre o direito de existir e persistir diante uma expressão genuinamente popular. É um filme que gera reflexões e reacende o debate sobre a preservação do patrimônio imaterial brasileiro.

Dirigido e roteirizado pelo cineasta Guto Peixinho, olhos, ouvidos e sensibilidade  humana de atenção aos rituais populares de sagração ao fogo ganham potência nas câmeras de filmagens para captar o espetáculo de movimentos  humanos entre luz e som das espadas de fogo nas ruas durante os festejos juninos. 

Com cenas reais gravadas durante o manuseio na produção de espadas de fogo em ambientes adversos, o curta-metragem abre questionamentos em direções sobre limites entre tradição e transgressão. O movimento das câmeras de filmagem detalha  bastidores do envolvimento e paixão de famílias na produção, artesanal do artefato pirotécnico.

Na China, os fogos de artifício têm uma longa história e são usados para celebrar o Ano Novo Chinês e outras ocasiões festivais. Na Europa, os fogos de artifício foram introduzidos no século XVII e se tornaram uma tradição em muitas cidades, especialmente durante as celebrações de Ano Novo e festivais.  No Japão, a arte da espada é uma parte importante da cultura samurai e é praticada ainda hoje em forma de kendo e iaido.

As tradições culturais e históricas são importantes para preservar a identidade e a memória de uma sociedade A combinação de fogos de artifício e guerra de espadas pode ser vista em algumas culturas como uma forma de celebrar a vitória, a coragem e a habilidade.

Com visão futurista, o filme foi lançado em 2016. Em 2017 foi sancionado pela prefeitura de Senhor do Bonfim, o projeto de lei que transformou a tradicional guerra de espadas em patrimônio cultural e imaterial da cidade. Nesse mesmo ano a prática da tradição esperada com alegria, ano a ano, foi proibida. 

Batalha legal 

Segundo informações da Associação Cultural dos Espadeiros de Senhor do Bonfim (ACESB), a entidade vem se consolidando como a principal responsável pela articulação técnica e institucional em defesa da legalização da Guerra de Espadas na Bahia. Criada em 2017, em meio a um cenário de forte repressão à prática dessa manifestação cultural centenária, a entidade tem protagonizado ações concretas e estratégicas para garantir a continuidade da tradição dentro da legalidade, da segurança e do respeito às normas vigentes.

Realizado de maneira independente o curta-metragem, em  25 minutos, expõe com sensibilidade e vigor visual, um olhar potente sobre a “Guerra/show de espadas” como prática centenária,  conduzindo o espectador por um território onde a cultura popular se mistura ao risco, à emoção e à luta por reconhecimento.

O filme “No Rastro do fogo” tem apoio institucional da Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado (FUNCEB/SecultBA). O projeto foi contemplado nos Editais da Paulo Gustavo – Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal.

*Liliana Peixinho – Jornalista, memorialista, ativista humanitária. Especialização em Jornalismo Científico, Cultura e Meio Ambiente.  Fundadora de mídias e grupos independentes: AMA- Amigos do Meio Ambiente, Reaja- Rede Ativista de Jornalismo e Ambiente, Cuidar do Cuidador, Catadora de Sonhos, O outro no Eu. Colaboradora  de mídias, Brasil afora, com pautas prioritárias em Desigualdade, Fome, Direitos Humanos, Crianças, Defesa do  Ambiente.  Autora da ação permanente e itinerante “imersões Jornalísticas Caatinga adentro, Sertão afora, Brasil no meio”.

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI)
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