ABI BAHIANA

Sob forte chuva, 46ª Marcha da Consciência Negra em Salvador reúne líderes e militantes

Concentração começou por volta de 14h, mas o mau tempo levou ao cancelamento da caminhada até a Praça Municipal

A 46ª Marcha da Consciência Negra Zumbi-Dandara dos Palmares, realizada em Salvador no dia 20 de novembro de 2025, enfrentou um desafio incomum: uma forte chuva que interrompeu a caminhada, mas não apagou o espírito de resistência e união que marca este importante ato político-cultural. A concentração começou por volta das 14h, no Campo Grande, onde militantes, movimentos sociais, lideranças políticas e integrantes de entidades negras permanceram até o final da tarde, para reafirmar seu compromisso com a memória negra.

Organizado pela Coalizão Marcha da Consciência Negra Zumbi-Dandara e pela Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN), o ato teve entre os apoiadores a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi/Bahia) e a Associação Bahiana de Imprensa.

Após a leitura do Manifesto, a chuva intensa levou ao cancelamento da participação do Trio da CONEN. Outro obstáculo à marcha foi a iluminação de Natal instalada ao longo do trajeto no Centro Histórico. De acordo com a organização, não seria possível ao trio passar pelos portais, até a Praça Municipal, sem risco de descarga elétrica, o que comprometeria a segurança dos participantes.

Foto: Cleber Sandes

O evento prestou tributo a duas referências fundamentais do pensamento anticolonial e antirracista, reverenciando os 90 anos de Lélia Gonzalez (1935-1994) e o centenário de Frantz Fanon (1925-1961). A participação de Mireille Fanon Mendès France, presidenta do Instituto Fanon (Paris) e filha do homenageado, também foi cancelada por causa da intensidade da chuva. Nesta sexta-feira, 21, a intelectual é a conferencista principal da “Conferência Baiana do Centenário de Frantz Fanon: Legados e Perspectivas”, realizada no Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia.

Professora Edenice Santana | Foto: Cleber Sandes

A presidente da Conen e represetante da Coalizão, Edenice Santana, falou da importância do movimento. “A chuva pode ter impedido a marcha, mas não desviou o propósito do ato: resistir, lembrar e exigir reparação para a população negra, reforçando o legado histórico e a urgência política de transformações estruturais no país”, afirmou a professora.

Suely Temporal, presidente da ABI, destacou que a Bahia é território de memória, luta e identidade. “Aqui, cada gesto em defesa da igualdade racial é também um compromisso com a verdade, com a justiça e com a dignidade humana. Para nós, que atuamos na comunicação, essa responsabilidade é ainda maior: temos o dever de combater estereótipos, ampliar narrativas, fortalecer vozes e garantir que a imprensa seja instrumento de inclusão, e não de silenciamento”, disse a dirigente, que esteve acompanhada pela diretora de Cultura da entidade, Yara Vasku.

Segundo Temporal, a participação no ato é mais uma afirmação da Associação Bahiana de Imprensa sobre o seu compromisso por um jornalismo plural, inclusivo, diverso, representativo. Por uma imprensa antirracista, todos os dias. “Esse marco é importante para nos lembrar que, enquanto houver desigualdade, preconceito e violência racial, não podemos descansar. Sigamos juntos – imprensa, movimentos sociais, instituições e sociedade – na construção de um futuro verdadeiramente igualitário”, completou a jornalista.

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