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“Imprensa tem papel duplo” em relação aos direitos humanos, diz jornalista do Intervozes

DEU NO PORTAL IMPRENSA – Em outubro, o coletivo de comunicação carioca Intervozes lançou o “Guia Mídia e Direitos Humanos” em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. A obra faz parte do Ciclo de Formação em Mídia e Educação em Direitos Humanos, campanha do grupo que pretende acabar com os estereótipos no discurso da imprensa. A redatora do guia é a jornalista Iara Moura, integrante do Intervozes. Segundo ela, a obra faz parte de um projeto maior, que passou por cinco capitais brasileiras, com o objetivo de formar comunicadores no tema “direitos humanos”. “A imprensa tem um papel duplo: ela pode atuar tanto como defensora quanto violadora de direitos humanos. Caso de programas policiais, que não respeitam a privacidade de vítimas, a intimidade de crianças e adolescentes em conflito com a lei etc.”

“São violações constantes. E a gente entende que elas também são causadas por falta de conhecimento no tema”, explica a jornalista. O guia traz um índice de fontes, históricos de grupos sociais e étnicos que são constantemente vítimas de preconceito, marcos legais internacionais, entre outras informações, para oferecer aos repórteres uma base para tratarem corretamente do assunto.

Para a redatora do guia, porém, não é apenas uma questão de “ingenuidade” do repórter. Os veículos de comunicação também têm responsabilidade em difundir a ideia de que direitos humanos significam “direitos de bandido”. “A questão da formação é uma das dificuldades, mas não é só isso. As empresas de comunicação, a grosso modo, não têm interesse editorial em pautar esses temas. Mas há uma abertura, tem crescido muito a procura”, acrescenta.

O que demonstra essa crescente preocupação de jornalistas e veículos em tratar de maneira mais adequada questões de direitos humanos e minorias é a Parada da Diversidade do Rio de Janeiro (RJ). Evento que muitos jornais insistem em categorizar como “parada gay”, segundo Iara. “Se a gente pegar a cobertura de cinco anos atrás, era bem pior. Ela vem melhorando, pela própria pressão do movimento, mas algumas coberturas – não vamos generalizar – ainda tendem para o estereótipo, a destacar a questão da festa, deixando encobertas as pautas políticas”, diz Iara.

Para a jornalista, a informação fundamental desse tipo de movimento, que é a luta por mais direitos aos homossexuais, dificilmente chega ao público. Questões menos relevantes, como os shows populares de drag queens e o aumento de faturamento das redes de hotéis, por exemplo, acabam tendo muito mais destaque no noticiário.

Iara conclui dizendo que a construção de estereótipos ainda existe em diversos veículos de comunicação, mas que uma abertura para o fim dessa barreira já começa a ser notada. O “Guia Mídia e Direitos Humanos” foi lançado oficialmente no Rio de Janeiro (RJ) no dia 18 de outubro, como última etapa do projeto do Intervozes que circulou o Brasil. Uma versão em PDF pode ser encontrada para download neste link.

*Lucas Carvalho para o Portal Imprensa.

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