Em meio a diversas ações para aprimorar a atividade profissional, a Diretoria Executiva da Associação Bahiana de Imprensa aprovou, na manhã desta quarta-feira (13), um importante documento: o “Protocolo Antifeminicídio – Guia de boas práticas para a cobertura jornalística”. Na sessão realizada em formato híbrido, os dirigentes reforçaram a necessidade de aperfeiçoar o noticiário sobre o assassinato de mulheres cometido em razão do gênero – quando a vítima é morta por ser mulher.
O manual traz orientações para uma cobertura jornalística responsável e alerta sobre a importância de os profissionais de imprensa conhecerem as consequências legais das distintas formas de violências contra a mulher, além do claro entendimento do que é o crime de feminicídio. O Protocolo Antifeminicídio vai funcionar como um guia, se propondo a sugerir uma espécie de roteiro que possa ser adaptado à apuração e redação de notícias relativas a crimes contra a mulher.
Para a Diretoria da ABI, em um cenário onde a informação é disseminada rapidamente, a responsabilidade do jornalista transcende a mera transmissão de notícias e abrange a compreensão profunda dos temas abordados. A iniciativa de construção desse protocolo veio do entendimento do papel que as mídias desempenham no registro dessas ocorrências, já que, muitas vezes, a forma que o assunto é noticiado influencia a opinião pública e causa discussões importantes na sociedade.
Na análise do jornalista e radialista Ernesto Marques, presidente da entidade, o cenário atual do país e a necessidade de aprimorar a atuação da imprensa justificam a produção do manual. “Esse é um documento histórico da maior relevância. As mulheres são maioria na profissão, nas redações. Que ele sirva para qualificar a cobertura desses atos lamentáveis de violência contra a mulher”, pontuou Marques.
Para o presidente da Assembleia Geral da ABI, Walter Pinheiro, o documento tem caráter preventivo e é útil na divulgação responsável desses casos. “Venho declarar meu apoio a este protocolo que objetiva contribuir com a mídia no papel de bem divulgar atos e fatos relacionados com feminicídios, combatendo e nunca estimulando a expansão desta chaga que atormenta a sociedade contemporânea.”
Jornalista e delegado de polícia por mais de 50 anos, Antônio Mattos, diretor de Finanças da ABI, destacou o potencial da publicação. “Eu quero parabenizar a Associação Bahiana de Imprensa pelo excelente trabalho na elaboração do Protocolo Antifeminicídio. Destaco nessa cartilha as diversas legislações sobre o assunto, as estatísticas, as redes de acolhimento e enfrentamento, e como deve ser o tratamento a esse crime.”
Os jornalistas Emiliano José e Luiz Nova, membros do Conselho Consultivo da Associação, consideram a iniciativa pertinente e necessária para que a imprensa continue contribuindo para a sociedade.
Luiz Nova vê o momento como uma ocasião importante para a ABI. Para ele, o tema é de caráter urgente. “Por nós e pela dignidade do exercício profissional, apoio integralmente essa iniciativa.”
Em sua declaração de apoio, Emiliano José trouxe uma série de dados que comprovam a importância do projeto. Dentre eles, a triste classificação do Brasil entre os cinco países do mundo que mais matam mulheres de forma violenta – citando reportagem da jornalista Carolina Cunha, do UOL.
“Tal protocolo pode ser um elemento de educação a todas as jornalistas e todos os jornalistas. A cobertura sobre a morte de mulheres, sempre de modo violento e covarde, não pode ser objeto, como é, de um olhar espetacular, ou espetacularizado, normalmente fundado numa atitude de desrespeito às próprias vítimas”, enfatizou. Segundo o dirigente, “uma sociedade só chega à maturidade democrática se for capaz de considerar as mulheres em situação de igualdade”. (Confira a íntegra do texto)
Jorge Ramos, 2º secretário da Diretoria Executiva e pesquisador, também destacou o caráter educativo do guia. “Essa proposta representa um avanço extraordinário e um compromisso que todos devemos acatar e fazer cumprir. O protocolo vai nortear o trabalho do jornalista. Precisamos combater preconceitos e todas as formas de violência contra a mulher.”
Para Jaciara Santos, diretora de Comunicação da entidade, com a aprovação do protocolo, a ABI dá um passo importante na busca de um jornalismo mais responsável. “Majoritariamente, constituída por homens, a diretoria dá uma prova de maturidade e reforça o posicionamento de apoio à luta contra o feminicídio”, argumenta. “Não é uma questão de gênero. É uma bandeira a ser empunhada por toda a sociedade”, conclui a jornalista, uma das oito mulheres que integram a diretoria da instituição nonagenária.
Diretora de Defesa do Direito à Informação e Direitos Humanos, a jornalista Mara Santana vê com bons olhos a atitude tomada pela ABI. Em virtude do crescimento dos casos de feminicídio no Brasil e em especial, na Bahia, o protocolo representa o posicionamento e o compromisso da entidade. “O feminicídio é uma triste realidade que precisa ser enfrentada com seriedade e comprometimento. É imprescindível que os profissionais da comunicação compreendam sua complexidade e estejam aptos a abordá-lo de forma ética e responsável.”
Na última sexta-feira (8), diretoras e funcionárias da ABI participaram de uma confraternização em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Ao fim do dia, o protocolo foi anunciado publicamente pela primeira vez. Já em fase avançada de editoração, o documento será lançado oficialmente em abril, em meio às comemorações do mês do jornalista.
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