Outubro é logo ali e os 5.568 municípios por todo o Brasil (417 só na Bahia) se preparam para eleger prefeitos e vereadores. Embora o período eleitoral tenha início somente a três meses do pleito, a pré-campanha já tem dado o que falar no interior baiano. Diante de denúncias cada vez mais frequentes sobre violências cometidas contra profissionais de imprensa, a Associação Bahiana de Imprensa tem intensificado o monitoramento das ocorrências. Na última sexta-feira (14), o jornalista Jeremias Santos, apresentador do programa “Política’s”, do canal TITV, de Ilhéus, usou as redes sociais para relatar que John Ribeiro, assessor do pré-candidato a prefeito, Jabes Ribeiro (PP), teria tentado encerrar uma entrevista em andamento (íntegra da entrevista neste link).
“O irmão do candidato Jabes também é assessor dele. Durante a entrevista foram feitas algumas perguntas sobre assuntos sensíveis no que diz respeito à administração pública em gestões passadas. Em dado momento da entrevista, o assessor invadiu uma área não permitida para terceiros, que é o estúdio de transmissão, no momento em que o irmão tentava responder uma pergunta. Além de invadir o estúdio, ele exigia o fim da entrevista, por entender que as perguntas eram fora do contexto. Ele dizia ‘que perguntas são essas, rapaz? Encerra esse negócio! A TV armou para cima de Jabes’. Coisas do tipo”, conta Jeremias Santos. O trecho da entrevista pode ser assistido abaixo:
“O comportamento do assessor, além de ser destemperado, vai de encontro ao que prega a nossa Constituição, onde a duras penas, assegura as liberdades de imprensa e expressão. Atitudes como a do assessor, é um retrocesso e, como tal, devemos combatê-la”, defende o comunicador.
Santos não registrou boletim de ocorrência e afirmou que o veículo não acionará judicialmente. Ele acrescenta que observou comentários nas redes sociais com acusações de que teria recebido valores para atacar o candidato. “É uma inverdade. Estou analisando a possibilidade de acionar algumas dessas pessoas, defensoras ferrenhas do ex-prefeito”, adianta. “Em se tratando de um veículo de comunicação, temos um relevante papel social, contribuindo com o cidadão, levando informação com credibilidade, para que ele faça um crivo no momento de escolher seus candidatos”, afirma.
John Ribeiro emitiu nota na qual rejeita as acusações de Jeremias Santos. Segundo ele, não houve invasão “porque trata-se de um espaço com dois ambientes de locomoção livre entre os presentes”. Quanto ao motivo da interrupção da entrevista, ele atribui à necessidade de cumprimento de outros compromissos da agenda do pré-candidato à Prefeitura de Ilhéus. “A entrevista agendada foi prevista para encerrar-se às 20 horas, tendo sido prolongada por 25 minutos (…). “Nesse instante, me dirigi aos operadores e ponderei sobre o atraso no encerramento da entrevista sem reportar nenhuma palavra ao entrevistador”, diz o documento. (Confira a íntegra da nota ao final deste texto).
Procurado pela ABI, o ex-prefeito Jabes Ribeiro também rechaçou a possibilidade de invasão do estúdio e observou que a entrevista “continuou normalmente” até o final. “Estamos aguardando até hoje a prova dessa acusação, porque não corresponde à verdade. Cadê a prova disso? Cadê o áudio disso? Esse canal tem uma posição muito contrária à nossa pré-candidatura, o que é democrático, normal. Mas em momento algum, por mais que percebesse a parcialidade, eu reagi, sempre respondendo aquilo que foi perguntado” afirmou.
“Estávamos na entrevista e não consegui ouvir nada, nem acredito que Jeremias tenha ouvido porque ele estava ao meu lado. Nossa posição é de respeito integral à imprensa. Eu lamento tudo isso. Se a coisa tomar um rumo de mentira, leviandade, com prejuízos à minha campanha, vou passar para a área jurídica analisar”, informou o político.
Questionado sobre a possibilidade de pedir direito de resposta ou acionar a justiça, Jabes Ribeiro disse que não pensou nisso. “Eu tenho 40 anos fazendo política e nunca processei um jornalista. Fui prefeito de Ilhéus quatro vezes. Tenho história, um relacionamento com as pessoas. Muitas vezes, não gosto, mas respeito. Eu acho que ele estava a serviço de algum projeto, porque as perguntas eram recorrentes, coisa de sete anos atrás. Houve uma clara montagem para me desgastar. O objetivo é me prejudicar eleitoralmente. Eu espero que a ABI, até pela sua história e pelo compromisso que tem com a liberdade de imprensa, e sobretudo com a verdade, analise bem isso”, pediu.
Monitoramento
O jornalista e radialista Ernesto Marques, presidente da ABI, destaca o papel do jornalismo local para levar informações de qualidade à sociedade e estimular a participação popular nos processos decisórios dos municípios, principalmente em período eleitoral. Segundo ele, a Associação está atenta a qualquer tentativa de impedimento do livre exercício da atividade de imprensa em todo o estado, com cuidado especial em regiões onde historicamente há o emprego de medidas pouco democráticas no ambiente político.
“O tempo da violência política na terra dos coronéis do cacau precisa ser mantido no passado e só merece revisitas no cinema, no teatro e na literatura. Espero que episódios de violência fiquem longe de um momento tão importante para a democracia. Isso em nada combina com o soerguimento da economia e da cultura da região”, observa.
Marques destaca que a censura à imprensa se torna ainda mais acentuada no período pré-eleitoral, quando os interesses políticos atingem seu ápice e a disputa pelo poder se intensifica. Nesse contexto, a tentativa de controlar a narrativa e sufocar vozes críticas se revela uma tática comum entre os que exercem influência nas regiões. “A violência contra jornalistas e veículos de comunicação, perpetrada direta ou indiretamente por políticos, busca não apenas silenciar denúncias e investigações, mas também intimidar qualquer oposição que ameace suas campanhas”.
De acordo com ele, a contenção dessa violência é crucial para assegurar eleições livres e justas, onde a informação circula sem amarras e a população pode escolher seus representantes de forma consciente e bem informada. “A garantia de segurança para os profissionais da imprensa é, portanto, uma necessidade imperativa para a integridade do processo democrático, principalmente no interior da Bahia. Nós seguimos atentos”, garante o dirigente.
Em Rede
Desde abril de 2023, a sociedade baiana conta com a Rede Agostinho Muniz Filho de Combate à Violência Contra Profissionais de Imprensa. Coordenado pela ABI e pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba), o coletivo é formado por órgãos de segurança pública, do sistema jurídico e por empresas de mídia, com o objetivo de formular estratégias e ações concretas para conter a escalada de ataques que coloca o Brasil entre as nações mais inseguras para o trabalho jornalístico.
Em caso de agressões, intimidações e demais condutas violentas contra profissionais de imprensa, envie denúncia para o e-mail <[email protected]> ou faça contato direto com o Sinjorba. E-mail: <[email protected]> | Telefone: 71 3321-1914.