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ABI participa de bate-papo sobre o Dia da Liberdade de Imprensa

Evento organizado pela Fundação Pedro Calmon reuniu cinco jornalistas em mesa de conversa

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) participou nesta terça-feira (10/6) da mesa de conversa “Desafios e oportunidades da imprensa no século XXI”, organizada pela Fundação Pedro Calmon, na Biblioteca Central dos Barris, em alusão ao Dia Nacional da Liberdade de Imprensa – comemorado em 07/06.

O presidente da ABI, Ernesto Marques, se juntou ao 1º vice-presidente da instituição, Luis Guilherme Pontes Tavares, e aos jornalistas Mariana Alcântara, James Martins e Fernando Conceição para uma conversa sobre múltiplas questões sem respostas fáceis do jornalismo na contemporaneidade, incluindo os limites da liberdade de expressão e as amarras econômicas da imprensa.

Mediadora da mesa, a professora e pesquisadora das inovações no jornalismo Mariana Alcântara abriu a conversa com uma observação sobre o lugar da imprensa nas redes sociais e a dificuldade de sustentar um modelo de negócios de notícias nas grandes plataformas. “A gente compete com fake news, a gente compete com discursos de ódio. E essa disputa pela atenção do público não é justa, porque a lógica dos algorítmos tem outras prioridades. E o serviço que nós produzimos precisa ser remunerado”, pontuou ela.

Já o presidente Ernesto Marques contextualizou o Dia da Liberdade de Imprensa na história da imprensa brasileira, lembrando os jornalistas que se colocaram em perigo para protestar contra a censura no dia 07/06. “Nesta data em 1977 houve uma mobilização de jornalistas em plena ditadura militar, um manifesto contra a censura que recolheu mais de 3 mil assinaturas. Então, essa data é importante para lembrar de todos os veículos que foram violados pela ditadura militar, dos jornalistas que foram presos, torturados e daqueles, sobretudo, que fizeram a luta de resistência para fazer jornalismo com censor dentro das redações”, relembrou ele.

Retomando a discussão sobre a situação atual do jornalismo no Brasil, o Luis Guilherme Pontes Tavares advertiu sobre a necessidade de perceber as formas menos explícitas pelas quais a imprensa pode ser diminuída em seu papel. “A minha opinião é que o jornalismo brasileiro foi enfraquecido no século XXI. Recordemos que a asfixia da imprensa, às vezes, ocorre de forma sutil, através de simulacros econômicos, dentre os quais a redução de verbas publicitárias”, comentou.

Complementando o argumento de Luis Guilherme, o jornalista e agitador cultural James Martins também enfatizou a dependência do jornalismo baiano ao Estado, e a forma como isso limita as possibilidades de cobertura. “Na ausência de uma censura direta, a imprensa baiana contemporânea tem uma dificuldade em relação à sua viabilidade que se deve muito às verbas públicas. Praticamente todos os veículos não sobrevivem sem a verba pública e, portanto, precisam de alguma forma dourar a pílula, interagir com quem paga o salário, e isso gera inúmeros problemas”, disse ele. 

O professor Fernando Conceição, responsável pela criação do antigo periódico independente “A Província da Bahia”, fez uma colocação polêmica sobre a liberdade de imprensa. Para ele, a liberdade de expressão deve ser defendida de maneira absoluta e sem limites. “Para mim, o maior desafio dos jornalistas no século XXI é defender o que diz o artigo 5º da constituição, de forma radical. A liberdade de expressão é ou não é. Não existe liberdade de expressão relativa. Não é o ministro do Supremo que deve dizer o que é fake e o que é news, o que é mentira ou que é verdade”, afirmou.