ABI BAHIANA

Ativistas, acadêmicos e moradores debatem o futuro do Centro Histórico na ABI

Evento organizado pelo Fórum A Cidade Também é Nossa levantou questões dos moradores do Pelourinho que serão levadas às autoridades

Morando em Salvador há 32 anos, 20 deles em um imóvel na Rua do Passo, no Centro Histórico da cidade, a paulistana Maura Cristina é uma das ativistas que travam a batalha diária pela preservação do Pelourinho. Ela esteve entre os convidados que usaram o microfone da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) nesta quinta-feira (10/04), durante um encontro promovido pelo Fórum A Cidade Também é Nossa para discutir os caminhos para renovar o Pelourinho. O evento teve a participação de membros do coletivo, lideranças de movimentos sociais ligados à moradia, professores, diretores da ABI e moradores.  

Além de Maura Cristina, que é coordenadora estadual do Movimento Sem Teto da Bahia, a mesa de abertura do evento foi composta por Ernesto Marques, presidente da ABI; Paulo Ormindo, arquiteto e palestrante do evento; Cláudio Mascarenhas, coordenador do Fórum; Clarindo Silva, jornalista e ativista cultural; e Daniel Colina, presidente do Instituto dos Arquitetos da Bahia. 

Debate

Ernesto Marques deu boas-vindas aos convidados, e destacou a participação da ABI na criação do Fórum A Cidade Também é Nossa – durante a gestão do jornalista e advogado Samuel Celestino, em 2008 – e como a Associação está honrada em receber o debate. “Estamos aqui na vizinhança. A ABI enquanto proprietária de imóvel na localidade não pode deixar de se envolver ativamente em todas as discussões sobre o futuro do Centro Histórico de Salvador”, comentou ele.

O arquiteto Paulo Ormindo, que ministrou uma palestra com o tema “A importância dos centros históricos” durante o evento, celebrou a presença da comunidade do Pelourinho e criticou a postura das autoridades municipais e estaduais para com esses moradores. Para o arquiteto, as autoridades precisam reconhecer que o maior patrimônio do Pelourinho são as pessoas. “O Centro Histórico de Salvador tem um potencial enorme, até econômico, desde que seja repovoado. […] Por exemplo, hoje eu acho que o que atrai o turista à Bahia é essa cultura popular, e se você tentar recuperar gentrificando e expulsando aquela população, você perde exatamente isso”, pontuou.

A ativista Maura Cristina ecoou esse sentimento, relatando a sua experiência como moradora da região. Ela também defendeu a ocupação do MST em edifícios abandonados na região: “Estou há 20 anos neste imóvel, sem nenhuma resolução. Temos muitos apoiadores, como a Faculdade de Arquitetura da UFBA, mas o Centro Antigo está caindo, com imóveis que poderiam estar ocupados por famílias. Morar é um direito. É um absurdo não haver por parte do poder público um diálogo sério com as pessoas”, protestou. 

Outro articulador ferrenho da preservação e repovoação do Pelourinho, Clarindo Silva chamou atenção para a importância desse lugar para a memória da Bahia e do mundo. “O Centro Histórico não é só nosso, é patrimônio da humanidade. Somos o coração da cidade e nenhum coração funciona se as artérias não estiverem oxigenadas; as artérias são as nossas ruas. Onde está a nossa memória? Não queremos mais projetos, isso temos aos montes. Queremos ações. Preservar para perpetuar”, declarou. 

PDDU

Formado por entidades como o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA), a Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam) e a própria ABI, o Fórum A Cidade Também é Nossa vem debatendo uma revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) de Salvador desde a sua elaboração, em 2016. Cabe ao PDDU orientar a política de desenvolvimento e expansão urbana do município.

A revitalização do Centro Histórico é um dos temas que o Fórum está reivindicando para incluir no Plano Diretor, em articulação com a Câmara Municipal de Salvador. Durante o evento, o coordenador do Fórum A Cidade Também é Nossa, Claudio Mascarenhas, explicou que a organização está trabalhando para incluir os apelos dos moradores do Pelourinho nos documentos que serão levados às autoridades. “Nosso papel é articular para que essas questões sejam incorporadas ao PDDU. Precisamos de um Termo de Referência para podermos cobrar o cumprimento das ações. Esse é o papel do Fórum”, disse ele.

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