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Atlas da Notícia mostra avanço de jornalismo digital no Nordeste

Pesquisa divulgada pelo Observatório da Imprensa no mês de novembro aponta que dos 109 novos veículos cadastrados no NE, 53 são digitais. Desertos de notícias, demissões em massa e diminuição da qualidade marcam mudanças na imprensa da região.

Pesquisa divulgada pelo Observatório da Imprensa no mês de novembro revela avanço do jornalismo digital na região Nordeste. Dados da segunda edição do Atlas da Notícia apontam que dos 109 novos veículos cadastrados na região, 53 são digitais. Entre as causas responsáveis pelo fenômeno estão o enfraquecimento no modelo de negócios tradicional e a expansão do acesso à internet em alta velocidade. O quadro se completa com o acirramento dos desertos de notícias, que impactam principalmente cidades do interior das regiões Norte e Nordeste. Pela primeira vez o Atlas inclui todas as mídias — jornais impressos, sites de notícias, emissoras de rádio e de televisão. Ao todo foram 12.467 veículos de comunicação mapeados no Brasil.

Os resultados deste ano mostram ainda uma reviravolta em relação aos números da pesquisa no mesmo período do ano passado. No ano de 2017, havia o predomínio dos meios impressos (63% contra 37% dos digitais). A edição de 2018 registrou um crescimento de cerca de 13% dos digitais em relação os veículos impressos.

As mudanças ocorridas com a migração do impresso para o digital não devem ser interpretadas como consequência do aprimoramento do jornalismo nordestino. O cenário dessa transição se configura num contexto de crise, enxugamento de redações e acúmulo de trabalho para os profissionais que permanecem empregados nos veículos. É uma situação que afeta a qualidade das notícias, uma vez que a capacidade de apuração dos fatos é comprometida em função do volume de trabalho.

A maior região do país também registra casos de demissão em massa que se multiplicam em vários estados. Por outro lado, o estudo realizado pelo Observatório da Imprensa identificou a proliferação de páginas de cunho opinativo não vinculadas a jornalistas, principalmente em cidades do interior, onde figuram como as poucas opções para se obter informação. Dos 53 novos veículos online cadastrados, 19 estão fora das capitais. Uma parcela significativa da população, 30 milhões de pessoas – 51% dos municípios brasileiros – não contam com um veículo jornalístico local, ocasionando a existência de desertos de notícias.

Esses desertos atingem especialmente municípios menores, com 11 mil habitantes ou menos. Há também os “quase desertos”, que representam 30% dos municípios brasileiros e abrigam 34 milhões de pessoas. São localidades que possuem apenas um ou dois veículos de comunicação e podem se tornar desertos caso eles deixem de existir.

Outro dado que traz preocupação é que os produtores de conteúdo dessas páginas também são os mesmos responsáveis pela veiculação de publicidade, o que pode significar o comprometimento de pautas jornalísticas de interesse público por conflitos de interesse, na investigação de empresas e governos locais, os quais são, por sua vez, os principais anunciantes nesses veículos.

O Atlas da Notícia é um estudo realizado pelo Projor (Instituto para o Desenvolvimento de Jornalismo), mantido pelo Observatório da Imprensa, em parceria com a agência Volt Data Lab. 

*Sob a supervisão de Joseanne Guedes.

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