Programador e jornalista, o australiano Julian Assange seguiu sua carreira em busca de informações confidenciais, mas de interesse público. No momento, Assange é prisioneiro na penitenciária de segurança máxima em Belmarsh, Londres. Nesta semana, o mundo se mobilizou para impedir sua extradição para os Estados Unidos, a ser julgada nos dias 20 e 21 de fevereiro de 2024. Na manhã desta segunda-feira, manifestantes se reuniram na Biblioteca Central da Ufba.
Ex-diretora da Faculdade de Educação da Ufba, Celi Taffarel, foi uma das responsáveis pela mobilização do grupo. Membro da Rede Nacional Universitária em Solidariedade ao Povo Palestino, ela destaca a necessidade de convocar os estudantes e a sociedade em prol desta causa. Ela entende que a mobilização das autoridades mundiais e da população é essencial para a segurança do jornalista.
“O que nos motiva é a solidariedade internacional na defesa de uma causa: a imprensa livre, o jornalismo livre, a verdade e a vida de Assange”, afirma Taffarel. “Esse é um ato internacional porque ele se liga a outros atos que estão sendo organizados no mundo inteiro. Amanhã, nós vamos ter (na Inglaterra) o julgamento da extradição de Assange. Se isso for aprovado, ele será entregue para os Estados Unidos e será detido da prisão de Guantánamo, um lugar terrível. Eles pretendem matar esse jornalista”.
Para os manifestantes, a libertação de Assange significa um avanço em direção à liberdade de imprensa e à democracia no cenário internacional. Um calendário de manifestações movimenta a semana decisiva para o fundador do Wikileaks, organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia.
Processado nos Estados Unidos por ter publicado mais de 700 mil documentos confidenciais sobre as atividades militares e diplomáticas do país norte-americano, especialmente no Iraque e no Afeganistão, desde 2010, Julian Assange foi detido pela polícia britânica em 2019. Antes, passou sete anos confinado na embaixada do Equador em Londres, onde se refugiou para evitar extradição para a Suécia. Caso seja extraditado, ele poderá ser condenado a uma pena de 175 anos em prisão de segurança máxima em condições desumanas.
Em torno de 30 pessoas compareceram ao ato convocado pelo Comitê Baiano em Defesa da Libertação de Assange, com o apoio do Comitê Poético Contra O Golpe, CEBRAPAZ e CONEN. Dentre elas, o manifestante Márcio Sampaio de 45 anos. Ele conta que a causa inspirava seus ideais por justiça e que assistir o documentário Ithaka – A Luta de Assange, aguçou seu interesse pelo caso.
“A luta de Assange é uma coisa que me mobiliza porque é muito nítido o processo de silenciamento que os EUA querem fazer sobre ele. A pergunta que exemplifica muito isso é ‘Qual crime ele cometeu?’, divulgar a verdade não pode ser crime. A prisão de Assange é uma mensagem para o mundo. Para todos nós. Se você quiser falar a verdade, se você quiser lutar por uma causa justa, o que eles estão querendo dizer é ‘tome cuidado, você também pode ser vítima”, reflete Sampaio.
A concentração para o ato começou às 9h e seguiu até às 10h, quando o Comitê Poético Contra O Golpe abriu a programação com uma performance em grupo. Com jornais em mãos e placas representando a imprensa, a mídia e as nações, membros do comitê representaram o silêncio e a cegueira dessas entidades para a situação de Julian Assange. Durante o pronunciamento dos membros organizadores do evento, a artista Deusi Magalhães representou a Estátua da Liberdade em ataque a Assange e reafirmou a importância de momentos como este para a manutenção da democracia.
“Esse é o momento da gente colocar o mundo em alerta, por mais difícil que seja e por pequeno que comece, não podemos aceitar essa retórica e o avanço imperialista americano. A pergunta que não quer calar é qual é o sentido da OTAN? O mundo hoje, em todos os lugares, está sendo bombardeado por uma extrema-direita criminosa e muitas pessoas inocentes têm morrido.”
Doutor honoris causa na Faculdade de Comunicação da Ufba
Além da manifestação ocorrida na entrada da Biblioteca Central, os representantes trouxeram uma proposta para a Faculdade de Comunicação da Ufba. Com a solicitação em mãos, guiados pela professora Celi Taffarel, o grupo pleiteou a concessão de um título honorífico a Julian Assange por sua luta em defesa da democracia.
O diretor e professor associado da Facom, Leonardo Costa, recebeu o comitê pessoalmente e declarou conhecimento acerca da manifestação sobre Assange, aceitando o documento para apresentá-lo na próxima reunião de congregação.