Nesta segunda-feira (12), estudantes do primeiro semestre do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFBA (FACOM) trocaram a sala de aula pelos corredores históricos da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), no Centro Histórico de Salvador. A visita, parte da disciplina “História do Jornalismo”, ministrada pelo professor Fernando Conceição, proporcionou um mergulho na memória da comunicação baiana — e foi também um dos primeiros contatos práticos de muitos alunos com instituições que moldaram o fazer jornalístico no estado.
A atividade começou às 10h30, com a recepção calorosa no Museu de Imprensa. A aula do dia foi comandada por Nelson Cadena, pesquisador e diretor de Cultura da ABI.

Com precisão histórica, Cadena conduziu os estudantes por uma linha do tempo do jornalismo baiano, destacando veículos pioneiros e episódios marcantes da imprensa local. A aula trouxe também comparações instigantes entre as coberturas de eleições papais.
De forma bem-humorada, por meio de uma apresentação intitulada “Habemus mídia”, o pesquisador mostrou como coroação de Leão XIII não teve publico, tendo sido em ambiente fechado só para os religiosos. “Os jornais falavam no papa prisioneiro no seu reduto no vaticano”, lembrou. “Já o conclave de Leão XIV foi uma overdose de mídia no mundo inteiro e na presença de centenas de milhares de pessoas”, comparou.
O presidente Ernesto Marques compartilhou com os calouros uma visão ampla sobre o papel da entidade de 95 anos na defesa da liberdade de imprensa e no fortalecimento da comunicação na Bahia.
Em um bate-papo aberto, Marques respondeu perguntas dos estudantes sobre temas atuais que já os inquietam: da chamada “juniorização” nas redações e o etarismo na profissão à relevância crescente dos veículos independentes, do jornalismo hiperlocal e das transformações tecnológicas no dia a dia da reportagem.
“Não tem problema em nós, jornalistas, virarmos produtores de conteúdo. O que não podemos é abrir mão de de questões elementares da nossa profissão, como o cuidado com a apuração”, ponderou o jornalista.

Para os novos alunos, a manhã foi uma mistura de encanto e descoberta. Ver de perto onde se constrói a história da comunicação no estado e ouvir diretamente de profissionais atuantes e pesquisadores apaixonados pelo jornalismo foi, segundo eles, um estímulo potente para os anos que têm pela frente.
“Foi inspirador ver como o jornalismo se transforma, mas também como ele carrega memórias e lutas que seguem atuais, como a participação da imprensa no combate ao feminicídio. Com certeza, é uma experiência que não vamos esquecer pois foi bastante enriquecedora”, comentou a estudante Beatriz Moutinho.
Entre painéis, arquivos e histórias compartilhadas com brilho nos olhos, os futuros jornalistas saíram da ABI com algo que não se ensina nos livros: a sensação de fazer parte de uma tradição — e a responsabilidade de reinventá-la todos os dias.