Por Valter Lessa*
A construção da Ponte Ilhéus-Pontal, denominada Ponte Lomanto Júnior, sobre a foz do rio Cachoeira, era a maior reivindicação de Ilhéus junto ao poder público. O primeiro a prometer foi o imperador D. Pedro II, quando de uma visita a Salvador em 1859, recebendo uma caravana de Ilhéus. Depois dele, por mais de um século, muitos governantes prometeram a construção da ponte, a maior reivindicação ilheense. Em 1950, Getúlio Vargas, na campanha política a presidente da República em Ilhéus, assim se pronunciou: “Construam-me uma ponte ao Palácio do Catete e eu construirei a ponte Ilhéus-Pontal”. Não obstante ter obtido expressiva votação não cumpriu o prometido.
Em 1955, Ademar de Barros, também candidato à Presidência da República, foi recebido no Aeroporto de Pontal pelo presidente do seu partido, o PSP (Partido Social Progressista), o médico Luiz Tôrres, demais correligionários políticos, autoridades e um grande número de pessoas. Após os cumprimentos de praxe, se deslocaram até a beira-mar e, através de uma prancha, teve acesso a uma das cinco balsas que faziam a travessia até Ilhéus (estive presente). Era o único meio de transporte.
A travessia constituía um atraso muito grande para o desenvolvimento do município, que ao longo de dezenas de anos cobrava das autoridades, em nível municipal, estadual e federal uma travessia rápida, segura e confortável, notadamente para as pessoas que desfrutavam das águas da Estância Hidromineral de Olivença a 18 quilômetros de Ilhéus, e também, numa estrada de péssima qualidade, ainda carroçável.
Ademar de Barros naquele dia também prometeu a construção da ponte, ficando a dúvida se construiria ou não, pois não foi eleito. Nessa eleição, disputaram a presidência os seguintes candidatos: Juscelino Kubitschek de Oliveira, eleito com 35,70% – 3.077.411 votos, Juarez Távora, 30,26% – 2.610.142 votos, Ademar de Barros, 25,70% – 2.222.725 votos, Plínio Salgado, 8,28% – 714.739 votos.
Mais de um século depois, o candidato ao governo do Estado, Lomanto Júnior, em comício realizado na praça São Sebastião, em Ilhéus, dia 18 de setembro de 1965, plagiando Getúlio Vargas: “Construam-me uma ponte ao Palácio Rio Branco e eu construirei a Ponte Ilhéus-Pontal” (testemunhei o fato), uma promessa arrojada e da qual se desincumbiu em prazo recorde de sete meses. A obra foi fruto de um convênio, pelo qual o Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis, através do seu diretor, Almirante Luiz Clóvis de Oliveira, delegou sua execução ao governo do Estado, através do Derba. Para a edificação dessa grande ponte, o Derba contratou a Construtora Norberto Odebrecht, empresa conhecida pela sua capacidade técnica e pela rapidez e eficiência executivas. Através da Odebrecht, o Derba iniciou a construção da ponte em 1965 e concluiu em 15 de agosto de 1966 e seu custo foi de 1.425.000.000 de cruzeiros, dos quais o Derba contribuiu com 1 bilhão e duzentos milhões e o DNPVN com apenas 225 milhões.
Acompanhei e documentei toda sua construção até a inauguração em 15 de agosto de 1966, com a presença do Presidente da República, marechal Humberto de Alencar Castello Branco, do marechal Juarez Távora, general Ernesto Geisel, Chefe da Casa Militar, Luiz Viana Filho, chefe da Casa Civil do governador Lomanto Júnior e outras autoridades.
Após a solenidade de inauguração, a comitiva visitou as obras de construção do Porto do Malhado e, em seguida, o presidente recebeu o título de Cidadão de Ilhéus, na sede da Prefeitura Municipal. O governador Lomanto Júnior foi agraciado com o título de “Cidadão Benemérito”, outorgado pela Câmara Municipal, e com um busto em bronze na avenida que dá acesso a Ilhéus Assim como a ponte, a rua recebeu o nome de Lomanto Júnior. Houve apenas um discurso, o do Diretor Geral do Derba, Eng.º Franz Gedeon. O presidente Castello Branco, ao despedir-se, disse ao governador Lomanto Júnior: “Agradeço, comovido, a gestão de V. Ex.ª, que dividiu comigo a maior festa popular que o meu governo assistiu”.
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*Valter Lessa é fotógrafo e diretor da Associação Bahiana de Imprensa – ABI
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