A 5ª edição da Revista Memória da Imprensa, projeto da Associação Bahiana de Imprensa que se dedica ao registro da história de personalidades da comunicação na Bahia, foi lançada hoje (28) com debates acalorados sobre o combate à desinformação. Tema de capa da publicação, a problemática das chamadas fake news foi abordada em mesa-redonda com o cientista de dados Leonardo Nascimento, a especialista em jornalismo científico Mariana Alcântara, a advogada Luciana Marques, e o público que lotou o auditório da ABI no centro histórico de Salvador.
O presidente da ABI, Ernesto Marques, explicou que a mesa de conversa não teve a intenção de esgotar esse tema amplo, mas que foi pensada justamente para tentar tocar em algumas das diversas discussões que são suscitadas pelo assunto. “O que nós quisemos foi exatamente essa pluralidade de olhares, por isso convidamos um pesquisador, uma jornalista e uma advogada, para ter olhares diferentes sobre o assunto. Fiquei muito satisfeito com a qualidade do debate e com a participação das pessoas também”, comentou ele.
O lançamento atraiu visitas como o estudante de jornalismo Matheus Rocha e seu pai, o analista de sistemas Carlos Frederico. Matheus soube desse evento durante o III Simpósio de Jornalismo e Literatura, que foi realizado pela ABI em parceria com a Academia de Letras da Bahia e o Gabinete Português de Leitura de Salvador, no último dia 12. “Achei muito legal a conversa sobre desinformação, a saída do X do país e o acompanhamento de fake news no Telegram. Estou interessado em ouvir mais sobre isso, inclusive”, comentou ele.
Já Carlos deixou um recado sobre a participação de estudantes de jornalismo nos eventos da ABI. “Eu acho que um evento como esse é muito importante, mas é triste ver que quase não tem nenhum jovem jornalista aqui. Por que será? Por que não comentam isso dentro das faculdades? Acho que a experiência que todos esses jornalistas mais antigos têm é importante para eles”, avaliou.
Debates
Durante a rodada de falas dos convidados, a professora Mariana Alcântara apresentou a sua pesquisa sobre desinformação, feita junto às agências de checagem e sobretudo na recepção do público a essas notícias falsas. Compartilhando suas observações sobre a falta de entendimento das mídias entre jovens e idosos, ela defendeu a inserção da educação midiática nos currículos escolares. “Temos que ir para a escola ensinar educação midiática. Ensinar a ler a informação, diferenciar os conteúdos midiáticos. Somente dessa forma haverá uma compreensão das lógicas das big techs que permeiam a nossa vida”, pontuou ela.
Trazendo uma abordagem de humanidades aplicadas à ciência de dados, o pesquisador Leonardo Nascimento descreveu seu trabalho de mapeamento da difusão de desinformações no aplicativo Telegram. Leonardo explicou a dificuldade em rastrear os conteúdos de fake news e as ferramentas que usa para fazer esse rastreio, incluindo a análise das Interfaces de Programação de Aplicações (conhecidas pela sigla API, em inglês), que permitem acessar dados das redes sociais que ficam ocultos para a maioria dos usuários.
“As agências de checagem acabam fazendo um trabalho de redução de danos, porque até a agência checar a pessoa já leu, já compartilhou [a desinformação], e as postagens originais no Telegram já foram apagadas. Com a API eu consigo computacionalmente acessar os grupos, salvar os conteúdos de maneira organizada e analisar depois”, disse ele.
Já a advogada Luciana Marques frisou tanto a importância quanto os limites da liberdade de expressão pela perspectiva legal, explicando as leis que estabelecem esse direito no Brasil e como ele é limitado por outras garantias como o resguardo da honra e direito à imagem. Ela também repercutiu o caso da proibição da rede social X, antigo Twitter, pelo Supremo Tribunal Federal. “No caso da X houve um esgotamento de todos os mecanismos legais para que a empresa cumprisse a lei. O Brasil não é terra sem lei. Pode ter essa aparência, mas as empresas estrangeiras precisam se submeter às leis daqui”, afirmou.
Fotos: Paula Fróes