Após a primeira semifinal da Copa do Mundo FIFA 2014, as reações dentro e fora de campo expressavam um misto de tristeza e incredulidade. De forma negativa, a Seleção Brasileira protagonizou a maior partida da história das Copas e saboreou uma amarga derrota por 7×1 contra a Alemanha, na última terça-feira (8/7), no Mineirão (BH). Não à toa, o fracasso do Brasil foi o evento esportivo mais comentado nas redes sociais na história da internet, de acordo com o chefe do Departamento Digital da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Matt Stone. “Foram 35 milhões de tweets. O evento mais comentado nessa plataforma havia sido o Super Bowl 38 [futebol americano], com de 24.9 milhões”, comentou ele ao ressaltar que os comentários sobre o SuperBowl e o Oscar ainda não somariam o total de tweets ontem (9) sobre a disputa.
O jogo, que teve a maior audiência da história da televisão alemã, também foi o mais comentado no Facebook de todas as disputas da Copa, no qual mais de 66 milhões de usuários fizeram 200 milhões de comentários sobre a disputa. O evento bateu recorde em tweets por minutos ao alcançar 508.166 mil comentários após o quinto gol da Alemanha contra o Brasil, quase 100 mil a mais que o recorde anterior. “Para nós, brasileiros, o 08 de julho ficou marcado como o dia da #Derrota. Perdemos em educação, saúde, segurança e até no futebol”, lamentou um usuário no Twitter. Outro torcedor constatou: “É hora de calçar as sandálias da humildade e começar do zero”.
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O representante da Fifa declarou também que esta é a Copa do Mundo mais interativa virtualmente. A conta da Fifa no Facebook foi acessada 447 milhões de vezes e a plataforma criada pela entidade para usuários assistirem jogos ao vivo e interagirem online atingiu 230 milhões de usuários ao final da fase de grupos. “O número equivale a uma multidão capaz de lotar 3.078 Maracanãs”, informou Stone. Ele adiantou que após o final da Copa será detalhado um perfil dos usuários de plataformas virtuais da Fifa.
Na manhã seguinte, imprensa brasileira também repercutiu a derrota, através de manchetes que retratavam a decepção como o sentimento nacional. O carioca Meia Hora tingiu sua capa de preto e estampou “Não vai ter capa. Hoje não dá pra fazer graça. A gente ficou com vergonha. Amanhã voltamos”. E completou: “Enquanto você lia isso, mais um gol da Alemanha”. Com os olhares do planeta voltados para a disputa, o fato não passou despercebido pela imprensa internacional. No The Guardian, a manchete: “Alemanha está desmantelando o Brasil em Belo Horizonte”. O espanhol El Mundo cravou: “Alemanha humilha o Brasil em meia hora”. Diz também que o time alemão “deixou o Brasil em situação ridícula”.
Tristeza e esperança
Quando veio o quinto gol, brasileiros abatidos queriam fechar os olhos. Torcedores deixaram o estádio ainda do intervalo. Na TV, câmeras repetiam, insistentemente, a cena de um menino chorando na arquibancada do Mineirão, os jogadores chorando. Embora, desde o início da competição, o povo brasileiro estivesse dividido entre entusiasmo e revolta contra o mundial, enquanto a bola rolava a favor da equipe, o mal-estar estava adormecido. Agora, o encanto desapareceu. E a sombra dos protestos e as manifestações que colocavam o evento como símbolo de tudo o que está errado com o governo ressurgem quando, mesmo os apaixonados por futebol desaprovam os gastos com estádios, considerados um “desperdício” em meio a tantos investimentos necessários nas áreas de educação e saúde.
Através do Facebook, alguns torcedores demonstraram não ter levado a derrota tão a sério. Ou, pelo menos, usaram aquela velha fórmula de curar as coisas com o bom humor. Aí, choveu montagens com o campo inclinado, gente que dizia não saber se o lance era replay ou se realmente os alemães haviam feito outro gol, teve aqueles torcedores que aplaudiram a atuação da Alemanha e começaram a dizer que nem a Volkswagem (empresa de carro alemã) faz tanto Gol por minuto, e tantas outras piadas.
Para além da indignação ou do bom humor, houve também quem demonstrasse apoio à seleção brasileira. E até a seleção da Alemanha mandou mensagens pedindo que o Brasil mantenha o orgulho. Logo depois do jogo, alguns jogadores já haviam manifestado respeito pela seleção e surpresa com o resultado. Na manhã de ontem (9), o site da seleção alemã publicou em suas redes sociais mensagem de solidariedade à pentacampeã e lembrou sua queda em casa, também na semifinal, em 2006. Para Podolski, o Brasil sempre será o país do futebol. “Respeite a amarelinha com sua história e tradição”, disse no Twitter. “Vocês têm um país lindo, pessoas maravilhosas e jogadores incríveis. Essa partida não pode destruir seu orgulho!”, escreveu Özil na mesma rede social.
Mas, apesar da decepção causada pela saída do Brasil da Copa, a eliminação expôs as vulnerabilidades da equipe brasileira e podem impulsionar mudanças. A goleada sofrida levou a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a preparar um pacote de alterações na seleção brasileira – e até em outros cargos da entidade, que desde 2003 teve R$ 2,3 bilhões para ganhar uma Copa, mas falhou três vezes. Com o jogo ainda em curso, aliados da cúpula da confederação já pressionavam por uma “mudança geral” no comando da seleção, a começar pela saída de Luiz Felipe Scolari e de sua comissão técnica.
*Informações de Flávia Villela para a Agência Brasil, com Estadão e El País (Edição Brasil).