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Emiliano José lança em Salvador “Os comunistas estão chegando”

Um documento obscuro produzido por um agente da ditadura militar, infiltrado nas redações baianas nos anos 1970, tornou-se a faísca para o novo livro do jornalista e escritor Emiliano José, membro do Conselho Consultivo da Associação Bahiana de Imprensa. O relatório classificava como “perigosos comunistas” profissionais que atuavam no extinto Jornal da Bahia e na resistente Tribuna da Bahia. Décadas depois, com a abertura dos arquivos da repressão, esse material virou base para “Os comunistas estão chegando”, 17º título da carreira de Emiliano, que será lançado no dia 26 de novembro, às 17h30, no auditório do Museu de Arte da Bahia (MAB), no Corredor da Vitória.

Já disponível em e-book, a obra reúne histórias de 18 jornalistas, contemporâneos do autor, contadas a partir do olhar atrapalhado do informante, que misturava fatos, ampliava suspeitas e via comunismo até onde não existia. Integrante da Academia de Letras da Bahia, ocupando a cadeira nº 1, Emiliano transforma o absurdo da vigilância clandestina em narrativa histórica, revelando tanto as fragilidades do regime quanto a força das redações que resistiram à censura.

O livro é também um experimento interativo. Parte da série #MemóriasJornalismoEmiliano, nasceu de textos publicados no Facebook desde 2019 e traz, incorporados à narrativa, comentários de leitores que ampliam memórias, tensionam versões e reacendem debates. Emiliano recomenda que ninguém os ignore: para ele, são peças essenciais dessa história compartilhada. O primeiro título da série, “Balança, mas não cai”, marcou o início desse projeto memorialístico, resgatando a trajetória do autor logo após quatro anos de prisão política.

Com prefácio do jornalista Ernesto Marques, ex-presidente da ABI, o lançamento traz à tona nomes que moldaram o jornalismo baiano em tempos de repressão. São personagens da obra Jadson Oliveira, Alex Ferraz, José de Jesus Barreto, José Carlos Menezes, José Sérgio Gabrieli, Quintino de Carvalho, Césio Oliveira, Gustavo Falcón, Luiz Manfredini, Aécio Pamponet, HAF – Hamilton Almeida Filho, Marcos Palácios, Oldack de Miranda, Mirtes Semeraro de Alcântara Nogueira, Sóstrates Gentil (em nome do pai, também Ludmilla Duarte), Othon Jambeiro, Joca – João Carlos Teixeira Gomes e Fred Matos.

A edição, assinada por Mônica Bichara, integrante da Comissão de Ética do Sinjorba, e publicada pela Edufba, ganha capa de Gabriel Galo, criada a partir de foto histórica de Manoel Porto que registra Luiz Carlos Prestes em entrevista coletiva. É um mergulho nas memórias de uma geração que ousou enfrentar a censura e voltou às ruas para lembrar que a história, quando bem contada, nunca perde atualidade.

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