Liliana Peixinho*
País topo de megabiodiversidade, berço de água doce, o Brasil possui 12% do total existente no planeta. É mais que todo o continente europeu ou africano, por exemplo, que detêm 7% e 10%, respectivamente.
Por outro lado, existe a falta de práticas preventivas, descuidado com os ambientes onde a vida requer atenção para a garantia de direitos básicos, como acesso à água potável e saneamento.
Dados do Instituto Trata Brasil informa que o país desperdiça 40,3% da água tratada. O país perde 3,6 bilhões de metros cúbicos de água potável anualmente, por conta de vazamentos e erros de medição. Volume que poderia abastecer 54 milhões de brasileiros. No entanto, mais de 32 milhões de pessoas padecem sem água tratada no Brasil.
Em meio ao desperdício, má gestão pública, falta de manutenção do sistema e comportamentos humanos descuidados com água, a desigualdade no acesso à essa fonte da vida mostra desafios cotidianos em ambiente onde a vida acontece.
Lutas históricas
Letícia Teixeira da Silva Barros, o marido, Manoel Gonçalves Barros, as crianças Rafael, Lunna Emanuelly, dona Isaura Pereira da Silva, Eliane Pereira da Silva, Maria Facionila, Pedro Manoel, netos, entre outros familiares, cresceram às margens de afluentes do rio São Francisco, na Fazenda São Sebastião – em Cabrobó, local que, antes do marco zero do Projeto de Transposição das águas do Velho Chico, era paraíso para plantar, pescar, viver.
Essa família foi anfitriã das manifestações pela Revitalização do Rio São Francisco, em 1995, durante a greve de fome, de 18 dias, do bispo Dom Luiz Cappio.
Diversos coletivos de comunidades tradicionais, agricultores familiares, ativistas ambientais do Nordeste e do Brasil, montaram plantão pela luta de preservação das águas do Velho Chico.
A família da anfitriã ” Mãe Isaura”, não mora mais nessa Fazenda. Tiveram que ir morar na Comunidade Quilombola Catinguinha, em Orobó, onde o acesso à água tratada não é garantia frequente nas torneiras.
“Quando a caixa d’água de reserva seca, não cai água nas torneiras, no chuveiro” – diz Letícia. A conta de água é paga com uma taxa mensal para tentar garantir o funcionamento da bomba comunitária.
“Mãe Isaura”, recentemente, amputou o perna direita e, numa cadeira de rodas, o filho dá banho na mãe, com uma vasilha onde pega a água num reservatório instalado no quintal.
Em meio aos desafios diários donas de casa como a economista Ana Rita Sepúlveda, moradora da cidade de Feira de Santana, Bahia, Nordeste do Brasil, cria alternativas de reutilização doméstica eficientes, em compromisso de desperdício zero, com essa fonte da vida.
Através de grupos de amigos no WhatsAp, Ana Rita compartilha suas experiências em cuidados com o ambiente, inspirando amigas em práticas harmoniosas para o bem viver.
Atenta aos problemas ambientais do planeta, Ana Rita encara desafios cotidianos com soluções de adaptações no ambiente doméstico. Para reutilizar a água da máquina de lavar roupas, por exemplo, fez pesquisas de engenharia, comprou, por 100 reais, com entrega em casa, um tonel com tampa – para evitar criadouros de mosquito da dengue-, e instalou uma torneira no tonel com saída para mangueira.
Nesse arranjo doméstico, Rita explica que a máquina de lavar joga a água no tonel e daí reutiliza para lavar pisos no quintal.
Em zonas rurais, onde o abastecimento de água por empresas credenciadas não é regular, queixas são frequentes de que “chega a conta em casa, mas na torneira é mais difícil garantir”.
A família de Vanusa Ribeiro, moradora do Sítio umburana zona rural do Norte da Bahia, pega água na cisterna, em balde, para lavar pratos, panelas, roupas e reutiliza essa água em molhações do quintal.
Maria Almeida e vizinhança, também moradora na zona rural, guarda a água que apara das chuvas, em garrafas plásticas e outros vasilhames, para diversos usos em casa.
A agricultora Gildete Cardoso, moradora de Passagem Velha, município de Senhor do Bonfim, Bahia, tem a prática diária de aparar água da torneira, que vem de um tanque instalado na casa, e numa bacia, depois de lavar os pratos, reutiliza essa água nas plantas do seu quintal, de terra.
Antônio das Abelhas, morador de Barreira do Tubarão, distrito de, Heliópolis- próximo à divisa com o estado nordestino de Sergipe, fala que a comunidade tem o propósito de reutilizar a água usada em casa, na irrigação de plantas, como bananeira. A experiência integra um processo de aproveitamento na produção de alimentos, de forma sustentável, harmoniosa com o ambiente.
Em tempos de crise climática, com impactos como os que acontecem no Rio Grande Sul, comportamentos domésticos, com atitudes proativas, racionais, cuidadosas,com a água, fazem a diferença, em desafios coletivos.
Em países como a França, por exemplo, a água que chega em residências, instituições, empresas, é potável e assim se pode beber diretamente da torneira. Quando a água não é potável é obrigatório informar ao público, através de placas educativas.
Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI)