Multifacetado. Ruy Barbosa foi jornalista, jurista, político, diplomata, pesquisador – um homem com paixões brilhantes, capaz de reunir multidões após mais de 100 anos do seu falecimento. Depois de Ruy, suas ideias permanecem vivas e, acima de tudo, atuais. Na noite desta segunda-feira (4), o lançamento do longa-metragem “A Voz de Ruy” reuniu autoridades, profissionais de imprensa, cultura, pesquisadores e estudantes no Cine Glauber Rocha, no Centro Histórico de Salvador.
O filme, que tem o patrocínio do Governo do Estado da Bahia, via Secretarias da Cultura e da Fazenda, através do Programa Estadual de Incentivo ao Patrocínio Cultural – Fazcultura e ACELEN, é uma produção da DPE Entretenimento e Giros Filmes, com apoio da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) – uma das instituições dedicadas a preservar a memória de Ruy no estado, por meio da Casa da Palavra Ruy Barbosa e seus acervos raros. O coquetel de lançamento teve o apoio do Instituto Rui Barbosa-IRB, Caixa de Assistência dos Advogados da Bahia-CAAB, OAB/BA e Sebrae.
O evento buscou resgatar e valorizar o legado de Ruy Barbosa, uma das figuras mais importantes da história brasileira e contou com profissionais de diversas áreas, mostrando a amplitude do trabalho do Águia de Haia.
Na sala de cinema, a equipe executiva dividiu com o público detalhes da produção e idealização da obra prestes a ser exibida.
Entre os principais executivos de marketing do Brasil, Maurício Magalhães, CEO da Giros Filmes, destacou os desafios da indústria cinematográfica no país e a importância de fomentar a cultura por meio de iniciativas como essa. “Eu queria fazer um convite para que a gente levasse muito a sério as políticas culturais aqui na cidade de Salvador”.
O diretor geral da DPE entretenimento, Maurício Xavier também abordou a questão e salientou a necessidade de olhar para todos os estados brasileiros com igual atenção e importância na cena audiovisual. “A gente só vai ter um cinema verdadeiramente nacional quando todo o Brasil estiver produzindo cinema”, defendeu o diretor geral.
Para o embaixador Carlos Cardim, foi imprescindível que o lançamento nacional do documentário acontecesse em Salvador. O sociólogo e professor é autor da biografia A raiz das coisas – Rui Barbosa: o Brasil no mundo. “Um filme sobre Ruy Barbosa estrear na Bahia é fundamental, porque a Bahia tem uma consciência histórica. O Brasil começou aqui, a primeira capital do país foi Salvador. Aqui estão as raízes do Brasil”, ressaltou o diplomata.
Casa cheia
Foram necessárias duas salas do Glauber Rocha para comportar todo o público presente na noite de pré-estreia. “Para mim, foi uma surpresa ver essa sala lotada, com tanta gente interessada. Não esperava essa recepção”, disparou o co-diretor Pedro Sprejer. Ele dividiu a função com os cineastas Fernanda Miranda e Belisário França, diretor geral da obra. “O que despertou nosso interesse em fazer o filme foi a defesa que ele fez da democracia ao longo de toda a sua vida, seja na política, no jornalismo ou no direito”, detalhou Sprejer.
Fernanda Miranda falou sobre o tempo de pesquisa até o longa chegar à telona. “O projeto partiu da Associação Bahiana de Imprensa e a gente mergulhou em uma pesquisa de aproximadamente 6 meses, o que foi possível por conta das leis de incentivo à cultura e do nosso patrocinador, a Acelen”, afirmou.
A diretora reconhece que um personagem complexo como Ruy não poderia ser integralmente representado em um único documentário. “Não tivemos o objetivo de fazer uma enciclopédia sobre Ruy Barbosa, precisamos direcionar as nossas escolhas, muita coisa ficou de fora. Mas eu estou muito satisfeita com o que alcançamos”.
Sem dúvidas, Ruy Barbosa marcou positivamente a história de diversas instituições brasileiras, desde os órgãos de cultura, do direito, passando pelos órgãos dedicados ao aperfeiçoamento da administração pública em benefício da sociedade.
De acordo com o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado da Bahia (TCE/BA) e representante do Instituto Rui Barbosa, Inaldo da Paixão, o papel de educador desse baiano ilustre é uma das suas principais contribuições.
“Sempre será importante exaltar a figura de Ruy Barbosa como jurista, como político, como jornalista, patrono do Supremo, do Senado, do Tribunal de Contas. Mas, sobretudo, como educador, alguém que se importava com uma educação pública de qualidade. Ruy precisa estar presente hoje e sempre, na vida de todos que acreditam na liberdade, que acreditam na república e em um país melhor. Hoje é dia de festa.”
Diretor de Economia da Cultura do Governo do Estado da Bahia, o advogado Fernando Santos considerou o documentário como uma oportunidade de entender melhor a vida e a obra de Ruy.
“A gente sabe que ele era um homem muito à frente do seu tempo, defensor intransigente da liberdade de todos, inclusive da população escravizada. Mas eu não sabia do grau de comprometimento que ele tinha e da abdicação pessoal que isso gerou na vida dele”, observou. “Esse documentário é necessário para que todos nós possamos resgatar a importância de Ruy.”
Em breve, o filme entrará em cartaz no circuito comercial e plataformas digitais, além de ser levado às escolas e universidades para servir como ferramenta educativa.
Acervos e preservação da memória
Com o ator baiano Ricardo Bittencourt atuando como Ruy, o longa exibe cenas históricas e bastidores da vida do jurista, ilustrado com imagens da Cinemateca Brasileira, Fundação Casa de Rui Barbosa, acervo do documentarista Isaac Rozemberg e fotos e documentos da Fundação Casa de Rui Barbosa, ABI, Biblioteca Nacional e Arquivo Nacional. Esse apoio foi fundamental para viabilizar a construção do argumento idealizado.
“Trabalhar com memória é uma questão no Brasil de forma geral. É muito gratificante quando a gente percebe que a nossa memória está bem guardada. Infelizmente, não é a maioria dos casos, tem muita coisa sendo perdida agora e muita já foi perdida. Mas, pelo menos, os acervos que tratam do tema Ruy Barbosa estão bem cuidados, existe atenção sobre essa memória”, pontou a diretora Fernanda Miranda.
A Fundação Casa de Rui Barbosa, representada pelos diretores José Antônio da Silva e Andreia Lyrio, também prestigiou o lançamento e resgatou essa questão.
“Eu acho que o filme reforça o legado de Ruy Barbosa. Ele certamente vai proporcionar uma reflexão sobre o papel de Ruy como a representação para a democracia, muito em voga no momento. É também importante para entender a valorização dos acervos que tratam da memória dele e da nossa cultura como um todo. É uma oportunidade para reconhecer Ruy Barbosa no tempo presente”, destacou José Antônio.
Casa da Palavra Ruy Barbosa
Ernesto Marques, presidente executivo da ABI, enxerga no filme uma oportunidade de reunir esforços para outra iniciativa importante: a reconstrução da casa onde nasceu Ruy Barbosa.
Ao todo, o projeto tem custo estimado de R$ 7 milhões. Assinado pelo curador, arquiteto e artista visual Gringo Cardia, a reabertura do museu buscará um paralelo entre o grande homem que foi Ruy Barbosa, enquanto comunicador e propagador de ideias, e a juventude de hoje por meio de soluções tecnológicas dialogando com o visual clássico.
“O filme era uma das metas traçadas desde quando instituímos a comissão para o centenário da morte de Ruy. Tínhamos previsto fazer o filme, algumas publicações e, claro, a culminância seria a reabertura do museu já repaginado como a Casa da Palavra Ruy Barbosa”, relembra o dirigente. “A nossa expectativa é que o filme sirva também para impulsionar, ampliar as informações e viabilizar o projeto.”