O ano começa com uma notícia animadora para quem atua em defesa dos direitos de grupos socialmente vulneráveis. Um projeto inovador no Brasil vai abranger temas como racismo, igualdade gênero, respeito à sexualidade, além de outros nichos desprestigiados da sociedade. É o Programa de Compliance em Direitos Humanos, criado com o objetivo de monitorar e auditar permanentemente a relação de grandes companhias com as pautas sociais. A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) conversou com o jornalista Yuri Silva (25), ativista baiano dos direitos humanos e do movimento negro. Ele será o coordenador de Direitos Humanos do IREE – Instituto para Reforma da Relação entre Estado e Empresa, organização independente responsável pelo projeto.
O programa surge em meio às recentes discussões sobre inclusão, combate ao racismo e a outras formas de discriminação, intensificadas após o caso Beto Freitas, no Carrefour. De acordo com o jornalista, a ideia é unir lideranças sociais e operadores econômicos dispostos a mudar a realidade do país. Militante LGBTQIA+ e coordenador nacional do Coletivo de Entidades Negras (CEN), Yuri Silva vai trabalhar ao lado do advogado paulista Walfrido Warde Jr., um dos maiores especialistas em litígios empresariais do Brasil e autor do best-seller ‘O Espetáculo da Corrupção’ (Leya), e do auditor fiscal Valdir Moysés Simão, ex-ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU) e ex-ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão do Brasil. Os dois juristas são, respectivamente, presidente e vice-presidente do IREE, que irá somar à tarefa os técnicos do instituto, considerados os melhores do compliance nacional.
Também se integram ao time inicial outras figuras de destaque no direito e no debate sobre o combate às desigualdades, como o doutor e mestre em Direito Administrativo Rafael Valim, que além de professor da PUC-SP e da Università Commerciale Luigi Bocconi (Itália), é um dos líderes da editora Contracorrente e diretor cultural do IREE; o estudante de direito e diretor institucional do IREE, Rodrigo Siqueira; e a economista-chefe do IREE Juliana Furno. Sediado na capital paulista, o IREE tem como objetivo promover o debate democrático, pluralista e suprapartidário, para aperfeiçoar a interação entre o setor público e o setor privado no país.
Enquanto faz as malas, Yuri Silva analisa o desafio que terá quando desembarcar em São Paulo, na segunda quinzena deste mês. “Chego e começo a montar uma agenda de diálogos com ativistas sociais, pessoas que vão ajudar a construir esse conjunto de regras, compromissos e metas a serem seguidas pelas empresas. É uma construção que requer paciência, conversa e convencimento”, avalia. “A expectativa é grande porque se trata de um projeto que tem potencial de incidir na realidade prática da vida das pessoas, de mudar um pouco as dores sociais que estruturam o Brasil, como o racismo, o machismo, a lgbtfobia”, avalia.
Segundo Yuri, todo preconceito contra as chamadas minorias sociais, que na verdade são ‘maiorias’, atrapalha o avanço social e econômico do país. “É um desafio civilizatório avançar nessas questões, sobretudo no diálogo com o setor privado. A gente costuma estabelecer esse diálogo com o Estado, com o poder público. Minha tarefa será dialogar com as grandes empresas, corporações nacionais e multinacionais, fazer os empresários entenderem que não há crescimento sem inclusão, porque ninguém cresce excluindo. Crescer sem incluir não dá mais”, enfatiza.
Yuri Silva é ex-repórter de A Tarde (2016-2018) e ex-correspondente do jornal O Estado de S. Paulo (2018-2019), onde especializou-se na cobertura dos poderes Executivo e Legislativo e em pautas relacionadas às questões sociais na sociedade e na política. “Como jornalista, eu me especializei em cumprir pautas relativas aos direitos humanos. Então, o jornalismo me colocou em exposição a fatos que eu já sabia, porque sou um homem negro, periférico e LGBT, mas também me expôs de forma mais profunda a realidades sociais que eu vou tratar agora nesse projeto”, disse. Para ele, o jornalismo é essencial nesse acúmulo de experiência. “O jornalismo me fez vivenciar muitas dessas mazelas que a gente trabalha agora: inclusão, diversidade, a construção de um país que inclua todas as pessoas. É um desafio bastante importante em minha trajetória social e profissional, porque vai me permitir juntar o conhecimento que acumulei até agora e aplicar na construção dessa iniciativa”, conclui o comunicólogo.
Trajetória
• Coordenador de Jornalismo e Imprensa da pré-campanha e da campanha da Major Denice Santiago (PT) à Prefeitura de Salvador – junho de 2020 até novembro de 2020
• Coordenador de Comunicação e Maketing Político na campanha a vereador de Salvador de Marcos Rezende – julho de 2019 até novembro de 2020
• Consultoria em Comunicação Digital e Marketing Político na campanha à reeleição do vereador de Salvador Zé Trindade – abril de 2020 até setembro de 2020;
• Consultoria em Comunicação Digital e Marketing Político no mandato do vereador de Salvador Zé Trindade – novembro de 2018 até junho de 2019;
• Conselheiro Estadual de Direitos Humanos do Estado da Bahia – dezembro de 2019 até agora (mandato até 2022)
• Assessor de Comunicação do Coletivo de Entidades Negras na Bahia (CEN-BA) – períodos diversos e intercalados, em projetos específicos, desde outubro de 2013;
• Coordenador Executivo do projeto Feira de Empreendimentos Negros Solidários – setembro de 2019 a novembro de 2019
• Assistente Técnico no projeto Terra Preta, parceria entre CEN e SETRE – julho de 2019 a outubro de 2019;
• Repórter Correspondente na Bahia no jornal O Estado de S. Paulo (Estadão), cobrindo eleições presidenciais e estaduais no Estado e no Nordeste – maio de 2018 a novembro de 2018
• Assessoria Técnica em Comunicação no projeto Feira de Empreendimentos Negros Solidários – julho de 2018 a novembro de 2018
• Assessor de Comunicação do mandato do vereador de Salvador José Trindade – setembro de 2017 até maio de 2018
• Repórter na editoria ‘Salvador’ do jornal A TARDE, com colaboração nas editorias ‘Brasil’, ‘Mundo’, ‘Economia’ e especialmente ‘Política’, atuando em coberturas especiais, como a votação do impeachment e as eleições municipais de 2016, além de passagem pela coluna de opinião ‘Tempo Presente’ em janeiro de 2017 e produção de dois cadernos especiais e uma reportagem especial multimídia para o Dia da Consciência Negra – janeiro de 2016 até março de 2018
• Assessor de Comunicação da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas (INNPD) – janeiro de 2016 até março de 2016
• Assessor de Comunicação do Observatório Popular de Política sobre Drogas (OPPD Racial) – maio de 2017 a dezembro de 2017
• Conselheiro Estadual de Políticas para a População LGBTQIA+ do Estado da Bahia – setembro de 2014 a dezembro de 2019
• Repórter-estagiário na editoria ‘Salvador’ do jornal A TARDE, com colaboração nas editorias ‘Política’, ‘Economia’ e ‘Brasil’ em plantões especiais – novembro de 2013 até novembro de 2015;
• Estagiário de jornalismo na Assessoria de Comunicação do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), autarquia vinculada à Secretaria da Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA) – março de 2013 até novembro de 2013.