A estratégia de classificar notícias desagradáveis à campanha política como “fake news” não é nova. Mas, em Vitória da Conquista, no Sudoeste baiano, a jornalista Indhira Almeida foi pessoalmente atacada, sendo acusada de mentirosa, enquanto apresentava, em uma programa eleitoral, notícias de conhecimento público. O programa em que ocorreu o ataque à imagem de Indhira foi ao ar na última quinta-feira (05/11) e é de responsabilidade da coligação que busca a reeleição do atual prefeito de Vitória da Conquista, Herzem Gusmão (MDB). A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e outras entidades de classe repudiaram o ataque.
A peça publicitária acusou mais de uma vez a jornalista Indhira Almeida de ser mentirosa. O recurso escolhido não foi o de responder ou contrapor as informações passadas pela apresentadora do programa do adversário Zé Raimundo (PT), apresentado por Indhira, mas de personalizar a crítica na jornalista com os dizeres “ela é mentirosa” (sonora) e “é mentira dela” (imagem). Indhira é conhecida na cidade por ter trabalhado na TV Sudoeste/Rede Bahia.
Entidades repudiam
Em nota, os presidentes do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba) e da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) se solidarizaram com Indhira, defenderam que ela foi atacada no exercício da profissão e classificaram a ato de “injusto, irresponsável, mesquinho e covarde”.
Os jornalistas locais emitiram uma nota conjunta indicando que o ataque reverbera em “todos os profissionais da imprensa conquistense”. Eles esclarecem que: “o prefeito classificou como mentirosas as manchetes dos veículos jornalísticos que repercutiram o polêmico áudio em que ele afirma não querer aderir ao consórcio da policlínica de saúde do Governo do Estado por conta de um jogo político. Na ocasião, as declarações do prefeito repercutiram em toda a Bahia, sendo veiculadas inclusive em rádios e blogs da capital baiana.No entanto, a apresentadora não inventou notícias, não criou fatos ou repercutiu uma opinião pessoal, ela mostrou o que profissionais da comunicação e da imprensa escreveram e publicaram sobre o caso na época”.
O presidente da ABI, o jornalista Ernesto Marques, afirmou que os recursos utilizados pela campanha não são aceitáveis. “Jornalistas e radialistas são elementos fundamentais em qualquer campanha eleitoral, e justamente por isso precisam se preservar dos ataques entre adversários. Neste caso há um fato extremamente grave, quando uma campanha alveja a apresentadora. É um ataque direto à imagem da profissional, com efeito gráfico e locução acusando-a de mentir. Despolitiza e personaliza o embate. Foi um ataque desproporcional e desnecessário”, afirmou Ernesto.
O outro lado
Procurada, a coordenação da campanha do candidato e atual prefeito Herzem Gusmão não atendeu nossas ligações e, embora tenha visualizado as mensagens, não respondeu o pedido de posicionamento até o fechamento desta matéria.
Insegurança na campanha
O caso de Indhira não é isolado. Outros dois profissionais de comunicação que trabalham para a campanha de um candidato de oposição ao atual prefeito de Paulo Afonso, Luis de Deus (PSD), sofreram tentativas de intimidação e foram agredidos nesta eleição. Em setembro, a ABI manifestou preocupação com a violência contra profissionais da imprensa no interior da Bahia.