É com imensa tristeza que a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) comunica o falecimento de Anízio Circuncisão de Carvalho (95), símbolo do fotojornalismo baiano, nesta sexta-feira (12). Figura admirada e inspiração para gerações, Anízio deixa um legado inestimável à memória visual do nosso estado e do país, sete filhos e sua esposa, D. Terezinha, com quem foi casado por 69 anos.
Nascido em 23 de fevereiro de 1930, em Conceição da Feira (BA), Anízio “Zico” construiu uma trajetória de superação e talento. Aos 14 anos, mudou-se para Salvador, onde começou no ofício fotográfico na casa da família de Leão Rozemberg, iniciante laboratório que lhe abriu a porta para uma carreira brilhante.
Em 1957, ingressou profissionalmente no extinto Jornal da Bahia, tornando-se, em pouco tempo, repórter fotográfico e um nome referência por sua dedicação, coragem e olhar apurado. É dele o famoso registro da Rainha Elizabeth II durante visita ao Brasil em 1968, conhecido como o “joelho imperial”, um feito de sagacidade e sensibilidade que o projetou nacionalmente.
Sua lente registrou os episódios mais marcantes da história baiana e brasileira: o período da ditadura, protestos e campanhas políticas, festividades populares, manifestações religiosas, o incêndio da Feira de Água de Meninos, o Mercado Modelo, além de cenas do cotidiano que revelam a alma cultural da Bahia.
Tantas imagens não são apenas registros; são narrativas visuais que carregam a potência da simplicidade e do afeto, revelando a fé, força e ancestralidade do povo baiano.
Homenagem em vida
A ABI teve a honra de reconhecer sua genialidade em vida. Em abril de 2023, inaugurou no Museu de Imprensa a exposição “Ginga Nagô”, sob curadoria de Manu Dias, reunindo obras emblemáticas do fotojornalista e lançando um catálogo primoroso, distribuído nas versões impressa e digital. O evento foi emocionante e memorável: Anízio visitou a mostra, rememorou seus quase 60 anos de profissão, e se encheu de lágrimas ao ver sua obra exposta e celebrada.
A exposição e o catálogo representam um caminho que a ABI continuou a trilhar, sempre reforçando a necessidade de preservação do seu acervo, que reúne mais de seis mil negativos, câmeras lendárias como a Rolleiflex e a Speed Graphic, ampliadores, tanques e um espólio valioso de memórias visuais. Sua trajetória também foi contada pela Revista Memória da Imprensa.

Hoje, todos os membros da ABI estão profundamente consternados. Sua partida deixa um vazio irreparável, mas sobretudo o fortalecimento de sua obra e valores. O reconhecimento público, as homenagens, as trocas com estudantes, fotógrafos e jornalistas mostram que o mestre Anízio continuará vivo na memória coletiva.
A ABI expressa os seus mais sinceros sentimentos à família, aos amigos, colegas e admiradores do seu talento. Que seu legado de dignidade, ética, sensibilidade e amor à profissão continue a nos inspirar.
Descanse em paz, mestre Anízio. Sua imagem, sua história e seu exemplo permanecerão eternos.


