Notícias

Manifestação exige respeito ao Centro Histórico de Salvador

Ato teve a participação de membros da diretoria da ABI

Na manhã desta sexta-feira (28), o Largo do Terreiro de Jesus funcionou como concentração de manifestantes que exigiam respeito pelo Centro Histórico de Salvador. Além de empreendedores e comerciantes da região, se juntaram ao ato dezenas de artistas, produtores culturais, educadores, profissionais da imprensa e representantes de instituições públicas e privadas ligadas à cultura e ao turismo na Bahia. Membros da diretoria da Associação Bahiana de Imprensa participaram do ato, que contou com intervenções artísticas, como grupos de palhaçaria e o som do tambor da banda Swing do Pelô.

A manifestação convocada pela Associação Centro Histórico Empreendedor (ACHE) teve o objetivo de cobrar do poder público ações concretas na resolução dos problemas enfrentados pela comunidade local e turistas que o visitam. Para a entidade, as principais pautas são segurança pública, ordenamento dos trabalhadores informais, a questão do assédio e extorsão aos visitantes, preservação do patrimônio e falta de infraestrutura.

Ato reuniu comerciantes, trabalhadores, representantes de movimentos sociais e instituições de classe | Foto: Joseanne Guedes/ABI

O ato ocorreu um dia após o prefeito de Salvador, Bruno Reis, anunciar medidas para a revitalização da localidade. As propostas têm foco nas áreas de segurança pública, cultura, turismo, desenvolvimento urbano, econômico e habitação. No pronunciamento feito no Palácio Tomé de Souza, Reis apresentou Coronel Humberto Sturaro, ex-oficial da Polícia Militar, como coordenador da nova Prefeitura-Bairro do Centro Histórico de Salvador. A estrutura do chamado Distrito Cultural do Centro Histórico foi montada no Terreiro de Jesus, para abarcar as regiões da Gamboa de Baixo, Comércio, Pelourinho e Santo Antônio Além do Carmo.

Segundo a ACHE, as ações da Prefeitura de Salvador para a região são uma resposta ao documento encaminhado pela entidade à Prefeitura e ao Governo do Estado no dia primeiro de março. O relatório listava problemas enfrentados pela comunidade e propostas para solucionar. Durante o ato realizado ontem, o presidente da ACHE, José Iglesias Garcia, defendeu a parceria e cooperação entre os poderes municipal, estadual e federal.

Jornalista com quase quatro décadas de atuação, Doris Pinheiro, assessora da ACHE, dedicou os últimos seis anos ao Pelourinho. Engajada na luta pela revitalização região, ela destaca que o problema vai muito além da insegurança. “Essa manifestação é a explosão de algo que vem acontecendo há muitos anos. Toda a comunidade que vive e trabalha no Pelourinho sabe que não é só a violência”, ressaltou.

Segundo ela, embora tenha sido impulsionado pela agressão sofrida no dia 22 de maio pelos turistas romenos, o ato já era previsto. “Planejamos antes do Carnaval. Fomos chamados a negociar com o poder público, apresentamos um relatório de 12 páginas, que foi usado agora pela Prefeitura ao traçar essas ações”, explicou a jornalista. Com o visível reforço policial da região nos últimos dias e a sinalização da implantação de outros projetos, Doris garantiu que o grupo não sofrerá desmobilização.

“Vamos continuar atentos, acompanhando os trabalhos, colaborando e criticando, para que essas propostas sejam cumpridas. Esperamos que os governos estadual e federal se pronunciem. Não queremos ficar no meio de disputas entre as instâncias governamentais. Queremos que este lugar tenha o respeito que merece. Ele é de todos”, defendeu.

Na última segunda-feira, 24, a ACHE protocolou um pedido de audiência com o governador Jerônimo Rodrigues, para tratar da situação de abandono do Centro Histórico, mas ainda não recebeu resposta. O documento foi enviado com cópia, protocolado e endereçado aos gestores do IPAC, Secult, Secretaria de Turismo, Casa Civil e Comando da Polícia Militar.

“O Pelourinho é nosso”

Situada na Praça da Sé, a ABI atua na preservação da memória e da cultura no estado. A entidade mantém em sua estrutura importantes equipamentos culturais e a segurança do entorno de sua sede é pauta constante nas discussões da Diretoria Executiva.

“Essa mobilização é um broto que pode germinar. Senti falta das representações de entidades importantes, para ouvir a voz de um povo que vem construindo isso aqui com muitos sacrifícios e a força do seu entusiasmo”, avaliou Luis Guilherme, 1º vice-presidente da ABI.

Maurício Bacelar, secretário de Turismo do Estado da Bahia (Setur-BA); Amália Casal, diretora da ABI; o prefeito de Salvador, Bruno Reis; e o presidente da ACHE, José Iglesias Garcia

A 1ª secretária da ABI, Amália Casal,  é também coordenadora da Série Lunar, um projeto da Associação em parceria com a Escola de Música da UFBA, que acontece uma vez por mês. O evento embeleza as noites do Centro Histórico com boa música e a vista privilegiada do auditório da ABI.

“Essa luta é para tornar o Pelourinho mais habitável, acolhedor e pacífico. Para isso, necessitamos de ações responsáveis dos gestores públicos. Colocar policiamento é válido, mas não é o principal. Temos aqui uma questão social que demanda alianças para estruturar projetos para atacar as causas. Precisamos de políticas públicas que priorizem saúde, educação, trabalho, tudo isso envolvendo equipes multidisciplinares”, pontuou a assistente social, que também possui formação em Psicologia.

Joana Angélica | Foto: Joseanne Guedes/ABI

A autônoma Joana Angélica é moradora do bairro de Cajazeiras. Ao ver a notícia sobre a manifestação na televisão, ela fez questão de participar. “A segurança precisa ser fortalecida em nosso Centro Histórico. A população e os visitantes não merecem isso. Eu não sou moradora, mas sou apaixonada por nossa cidade e acho que muito mais gente deveria estar aqui lutando”, opinou.

Para uma comerciante que não quis se identificar, o medo impede que a população local participe dos atos por melhorias. “Criminosos não deixam os moradores participarem, ameaçam os comerciantes. Quanto mais o mundo souber o que acontece aqui, mais as atenções serão voltadas para a situação de insegurança do local. Eles não querem o reforço policial e por isso proíbem a participação nas manifestações”, denunciou.

publicidade
publicidade