ABI BAHIANA

Música e emoção em família marcam o Recital Paulo Gondim na ABI

A Associação comemorou seu aniversário de 94 anos nessa edição da Série Lunar

Oito andares acima da Praça da Sé, o auditório da Associação Bahiana de Imprensa está completamente lotado. Sobre o tablado e  no auge dos seus noventa anos, o professor Paulo Gondim acaricia o teclado com enorme facilidade: no início de cada música, faz questão de fazer pouco caso. “Essa aqui é uma valsinha”, “um romancezinho”. Ao fim de cada canção, sempre levanta e agradece as palmas com uma mesura – e o mestre Clarindo Silva, sentado em uma das  primeiras fileiras, engrossa o coro com suas palmas trovejantes. Em alguns instantes, o auditório começará a cantar junto com o arranjo de Paulo Gondim para “Carinhoso”, de Pixinguinha, e logo mais ele estará acompanhado por flautas e vocais da sua própria família. Quem reparar atentamente, verá que a voz da filha Teca Gondim está embargada de emoção.    

Assim foi a mais recente edição da Série Lunar na noite da última quarta-feira (21): cheia de risadas, calor humano e uma lagrimazinha aqui e ali. Também teve bolo comemorando os 94 anos da Associação, junto com os 90 que Paulo Gondim completou há dois meses. O repertório, repleto de composições do próprio Paulo e interpretações de clássicos como o Prelúdio II de George Gershwin e a canção “De manhã” de Caetano Veloso, estava repleto de misturas fluidas e habilidosas de gêneros musicais. A plateia, que riu forte da melodia atonal que o Professor depois explicou ser “uma piada de músico”, estava repleta de nomes de peso da música soteropolitana, como o diretor da Escola de Música da UFBA, maestro José Maurício Brandão. 

Foto: Paula Fóes

Tudo isso, como foi explicado ao público, não foi fácil de realizar. A Série Lunar, evento cultural realizado mensalmente pela ABI na sua sede, vinha ameaçada pela situação financeira da entidade, que tem as contas afetadas pela defasagem do aluguel do Edifício Ranulfo Oliveira para a Prefeitura de Salvador. A jornalista Amália Casal, 1ª secretária da ABI e coordenadora do evento, fala sobre o desafio para a realização desse recital: 

“Por conta da nossa situação com o aluguel, chegamos a discutir uma pausa na Série Lunar. Algumas pessoas aqui se insurgiram, eu inclusive, e conseguimos continuar com ajuda de amigos como o presidente do Sebrae, Jorge Khoury, que patrocinou essa noite. Tem sido muito bom, pois temos notado o carinho que as pessoas têm pela Série Lunar. Eu sou apaixonada por esse evento e fico muito feliz de comemorar os 94 anos da ABI com ele”, declarou ela.   

Já o presidente da ABI, Ernesto Marques, aproveitou para falar da importância do Edifício Ranulfo Oliveira e sobre o desequilíbrio financeiro nos seus contratos de aluguel.

“Quero frisar que esse edifício é um lugar que pode ser compartilhado, não é só uma propriedade exclusiva da ABI. As pessoas precisam saber desse prédio, tem muita gente,  inclusive jornalistas, que acham que ele é da Prefeitura. Ele foi concebido pelos fundadores da ABI para que os espaços não ocupados por nós rendessem o suficiente para garantir a nossa independência, e hoje os alugueis ainda são o nosso principal ativo. Faço questão de registrar aqui: o que nós queremos em relação à prefeitura não é absolutamente nada de ilegal, nem de imoral, e também não engorda. O que a gente quer é respeito”, pontuou. 

Foto: Paula Fróes

O professor Paulo Gondim refletiu sobre o seu recital em família, e sobre preocupações que ninguém na plateia enxergou. “Estava com receio, porque o teclado para mim é muito diferente do piano. Mas senti uma grande responsabilidade e fiquei também muito orgulhoso, muito emocionado com esse auditório cheio de pessoas muito queridas. Muitos ex-alunos e muitas pessoas importantes na música, colegas meus que eu aprecio muito, de grande qualidade musical. Isso me deixou muito contente, eu estou muito feliz com essa noite por isso”, disse.

E a filha Teca Gondim, que seguiu sua carreira no piano e na docência na UFBA, falou sobre as sensações de performar ao lado do pai e da família. “Muitas vezes eu me emocionei, eu só me segurava porque sabia que se me emocionasse demais a voz não ia sair. Todas as memórias de meu pai tocando na minha infância inteira, essas músicas que eu conheço como a palma da minha mão de tanto ouvir ele tocando, deixam a gente viajar, né? Tocar com ele, com meu irmão e com meu marido, que foi aluno também de meu pai, foi muito, muito gostoso, muito emocionante”, compartilhou.

“Esse momento pra mim é um momento verdadeiramente histórico. Os 94 anos da nossa ABI sendo festejados com a participação de uma família de músicos. Não só a importância desse espaço, mas sobretudo a presença da família, do povo no centro histórico. Eu acho que a ABI está cumprindo o seu papel quando chama a comunidade para se apropriar desse lugar. Esse momento para a gente é um momento de reflexão, um momento que eu diria até  apelo dramático para a sociedade. O povo que não preserva o passado não vive o presente e jamais poderá construir o futuro. Viva o Pelô!
– Clarindo Silva, jornalista e agitador cultural.

“Foi maravilhoso ver o grande pianista Paulo Gondim, de toda essa experiência que ele tem no piano, na Ufba, na Bahia, no Brasil. É muito importante a música dele, e a família, né? A Teca Gondim, que se formou também como musicista em piano, também com uma vasta experiência, ou seja, a experiência musical passada de pai para filho, muito lindo. E inda tem um filho flautista também. Foi realmente memorável e a escolha das músicas foi muito feliz”
– Simone Caetano, jornalista.

“Toda vez que a ABI abre para música, eu sempre venho. E hoje foi um dos melhores dias. Gostei muito. Teve outros dias muito bons, mas esse foi um dos melhores. O Pianista é muito bom, a filha dele e o esposo dela eu já tinha assistido aqui. Toda vez eu tenho que aparecer. Às vezes eu tenho outras coisas pra fazer, mas eu desfaço para vir”
– Dona Marisa, musicista.

Confira os cliques da fotojornalista Paula Fróes:

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