Jaciara Santos*
Conheci Jorge Luiz Ramos, Jorginho, na primeira metade dos anos 1970. Chegávamos ao finalzinho da adolescência e nos encontramos na antiga Escola Técnica Federal da Bahia (ETFBa.), atual IFBa., no bairro do Barbalho. Ingressamos no curso básico, nível comum a todos, com um ano de diferença: ele em 1973 e eu em 1974.
Seguimos áreas diferentes – ele optou por Telecomunicações, guarda-pó verde; eu escolhi Geologia, guarda-pó azul. Não éramos próximos, uma vez que, nessa idade, meninos e meninas costumam se enturmar por gênero. Mas tínhamos uma saudável convivência de colegas.
Não posso precisar quando voltamos a nos encontrar, já adultos, jornalistas. Mas vêm à memória alguns flashes e a constatação de que estivemos sempre a meio caminho um do outro. Pra começar, nascemos no mesmo ano, 1955, em um dia 22: ele, em abril; eu, em setembro, embora minha certidão de nascimento tenha sido registrada em 1º de novembro. Cursamos jornalismo na Faculdade de Comunicação da Ufba. (Facom), ainda que em turmas distintas – ele se graduou na turma de 1980/1981, eu, 1982/1983. Trabalhamos no extinto jornal Diário de Notícias, em períodos diferentes. Ele foi subsecretário municipal de Comunicação; eu, repórter da Secom. Acompanhei sua trajetória à frente do Sinjorba, sindicato ao qual sou filiada.
Nas nossas andanças por aí, sempre lembrávamos do nosso passado na chamada “escola do mingau”. Porque a gente sai da ETFBa. , mas parece que a ETFBa. não sai da gente…
Nesse meio tempo, conheci sua Aninha, um casamento de almas. Sempre que os via juntos, pensava: “Não existe Jorginho sem Aninha, nem Aninha sem Jorginho”. Continuo pensando assim, mas em outra perspectiva: “Não existe Aninha sem Jorginho porque Jorginho continua existindo dentro de Aninha”.
A roda do tempo girou e quis o universo que eu e Jorginho voltássemos a dividir um mesmo espaço de aprendizagem: a Associação Bahiana de Imprensa. Desde 2022, fazendo parte do quadro de diretores e diretoras da ABI, nossos encontros se tornaram mais frequentes – por força regimental para reuniões mensais, participando de atividades culturais ou em eventos externos.
Neste pouco mais de um ano de reencontro, pude conhecê-lo mais de perto. Não o profissional, o pesquisador, o literato, o intelectual, o cara brincalhão. Esse, todos conhecem. No dia a dia do trabalho, conheci uma figura conciliadora, agregadora, justa, avessa a polêmicas vazias e disputas imotivadas. A partida brusca de Jorginho abre um vazio não apenas no jornalismo e no ambiente acadêmico da Bahia. Cria uma lacuna difícil de ser preenchida, já que é incomum encontrar numa mesma pessoa tantas e tão raras qualidades.
As reuniões de diretoria da ABI não serão as mesmas daqui por diante. Parafraseando o jornalista e compositor Sérgio Bittencourt (1941-1979), naquela mesa sempre vai estar faltando ele. E a saudade dele vai estar doendo em todas e todos nós.
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*Jornalista, diretora de Comunicação da ABI.
Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).