Por Nelson Cadena*
Transcorreu neste sábado, 25 de abril, o centenário de nascimento do jornalista, escritor e político Wilson Lins, sem comemorações, em função do isolamento social provocado pela pandemia do coronavírus. A Academia de Letras da Bahia cogita realizar um evento em sua homenagem em outubro próximo, certamente que a ABI estará presente.
Wilson Lins praticamente se criou na redação do jornal O Imparcial adquirido pelo Coronel Franklin Lins de Albuquerque, seu pai, em 1935, um dos mais importantes jornais daquele tempo, com um histórico de resistência à ditadura instaurada pelos interventores da Revolução de 1930. Em 1940 tornou-se redator-chefe seu irmão Franklin Lins Junior cuidava do financeiro, era uma empresa familiar.
Ambos enfrentaram um processo por injuria e calunia, absolvidos em novembro de 1942 após brilhante defesa do advogado Antônio Balbino, futuro Governador da Bahia. “Revendo-me absolvido, lembrei-me acusado, sem esquecer a pontinha de orgulho com que então prelibei aquele começo de notoriedade, bem recebido pela radiosa irresponsabilidade de meus 22 anos”, escreveu 40 anos depois, lembrando o episódio, em crônica publicada pelo Jornal da Bahia.
Contou bastidores desse momento: Balbino perdeu os prazos processuais, mas com muita competência reverteu a situação “e se nada me cobrou na época, fez-me pagar-lhe caro depois, pelas ferroadas, em perseguições a meus redutos políticos durante seu governo”. A ABI consignou na época, em ata, um voto de congratulações pela absolvição dos irmãos.
Franklin Lins Junior era diretor da ABI desde 1938, Wilson o substituiu como representante de O Imparcial, em 1945, eleito como vice-Presidente da Assembleia Geral da entidade. Permaneceu no cargo até 1948, quando transferiu residência para o Rio de Janeiro. Eram seus companheiros de diretoria, dentre outros, Ranulfo Oliveira, Odorico Tavares, Cosme de Farias, Jorge Calmon, Thales de Freitas e Edgard Curvelo (avô do atual secretário de comunicação do Estado, André Curvelo).
Escritor já consagrado compareceu à ABI, muitos anos depois, na condição de secretário de educação, em agosto de 1960 para inaugurar junto com o prefeito Heitor Dias o III Salão Baiano de Fotorreportagem, que contou com a participação de fotógrafos do Rio de Janeiro, São Paulo e Ceará, um dos primeiros eventos realizados pela entidade, na sede recém inaugurada, na Rua Guedes de Brito.
Compareceria muitas vezes, diariamente, podia ser visto no elevador reservado aos deputados, quando a Assembleia Legislativa passou a funcionar no Edifício Ranulfo Oliveira, onde permaneceu 14 anos (1960-74). Lins presidiu a Casa entre 1969 e 1971.
Como jornalista deixou um considerável acervo de crônicas, artigos, crítica literária publicados em O Imparcial, Diário da Bahia, Diário de Notícias, A Tarde, Jornal da Bahia e, no sul do país, na revista Diretrizes e no vespertino O Mundo.
Nelson Cadena é jornalista e publicitário.