Rua Santa Clara do Desterro, 85. Mais que um logradouro, este endereço representa esperança para dezenas de pessoas que tiveram suas vidas unidas ao HIV/AIDS (sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana). Na entrada do Instituto Beneficente Conceição Macêdo – IBCM, “Tia Conça” traz um sorriso de gratidão e sua inseparável medalhinha da Santa Dulce dos Pobres, para receber os diretores da Associação Bahiana de Imprensa (ABI). A auxiliar de enfermagem encarou há 30 anos o desafio de fundar a organização que leva seu nome. O instituto atua na prevenção do HIV, na adesão ao tratamento e mantém uma creche que beneficia diretamente 72 crianças em situação de vulnerabilidade socioeconômica, órfãs e vivendo ou convivendo com o HIV/AIDS, além de auxiliar suas famílias.
Do corredor vestido por uma estante de livros infantis, é possível ouvir a alegria pulsante que envolve o lugar. A meninada corre e agarra a gestora. “Calma, gente, que os meus 76 anos não aguentam”, diz, entre risos, Conceição Macêdo dos Santos. A servidora aposentada teve sua trajetória retratada no livro “Tia Conça: A nossa senhora, Conceição”, organizado pelo Padre Alfredo Dórea e pela escritora Nalini Vasconcelos. A obra – inspiração para o título deste texto – faz alusão à padroeira da Bahia, Nossa Senhora da Conceição, e traz depoimentos de personalidades e pessoas amigas que testemunharam a trajetória da fundadora da instituição, como a enfermeira Fátima Mendonça, ex-primeira dama do Estado.
Foi Fátima Mendonça, através das Voluntárias Sociais da Bahia, a responsável pela aquisição do prédio no bairro de Nazaré, em Salvador. Conceição Macêdo conta que a amizade entre as duas surgiu lá atrás, quando trabalhavam na mesma unidade de saúde. “Eu comecei alugando quartos para abrigar pacientes que recebiam altas lá do hospital. Saíamos para cuidar dessas pessoas”, relembra.
Além do apoio das Voluntárias Sociais, o IBCM conta com ajuda da Prefeitura de Salvador. “O prefeito se sensibilizou com a possibilidade de encerramento de nossas atividades e o município passou a arcar com a folha de pagamento dos funcionários”, afirmou Conceição. De acordo com ela, as doações da sociedade também são fundamentais para a manutenção da casa. “Precisamos de toda a ajuda possível, desde material de limpeza até cestas básicas, porque recebemos muita gente necessitada”, destaca.
Preocupação – Na creche, a equipe realiza reforço escolar, atividades lúdico-terapêuticas e específicas à condição soropositiva das crianças. O atendimento é feito de 8h às 17h, de segunda a sexta-feira. As crianças, todas com idade entre 2 e 5 anos, chegam pela manhã e voltam para casa no final do dia. Atualmente, 30 famílias têm o aluguel de casa mantido pelo projeto. Além de se dedicar ao trabalho com pessoas que vivem com o HIV/AIDS, a instituição apoia mulheres chefes de família, jovens em situação de vulnerabilidade social, egressas de estabelecimentos prisionais e profissionais do sexo.
“Essas pessoas são marginalizadas e não recebem atenção em outros locais. Irmã Dulce acolhia sem olhar cor ou religião. Cuidávamos, por vezes, dos mesmos pacientes. Ela colaborou muito com o trabalho que eu fazia e está comigo até hoje. Foi uma inspiração”, revela Conceição. “Uma vez, ela me falou da preocupação sobre quem continuaria o seu trabalho. Felizmente, sua sobrinha Maria Rita [superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce – OSID] assumiu. Eu também me preocupo, porque estou idosa e não há muita gente disposta a estar à frente disso aqui. Tem que ser por amor”, defende.
Campanhas perdem força – O Padre Alfredo Dórea, administrador do IBCM, destaca que as campanhas de conscientização estão perdendo força. “Precisamos fortalecer a necessidade de prevenção e espalhar informações consistentes, principalmente entre os jovens. Aquelas campanhas massivas foram esquecidas e quase não ouvimos falar. É como se o vírus não existisse mais”, ressaltou. Pe. Dórea pediu ajuda à imprensa, para reforçar a prevenção, incentivar a adesão ao tratamento antirretroviral e mostrar que é possível alguém viver com HIV e ser saudável, ter relacionamentos, filhos, exercer seus direitos. “Eu apelo a vocês, profissionais da imprensa. Quando vamos às ruas realizar ações e distribuição de preservativos, as pessoas estão ávidas também por informação”, afirmou.
Walter Pinheiro, presidente da ABI, lembrou que há alguns anos, “quando alguém recebia o diagnóstico, era como uma sentença de morte. Hoje, com os medicamentos disponíveis, as pessoas ficaram confiantes. Aquele temor ajudava a combater e ele cessou’, analisou o dirigente. “Dentro de poucos dias, teremos o Carnaval e não vemos mais as campanhas tão fortes”. Acompanhado pelo diretor de Patrimônio, Luís Guilherme Pontes Tavares, e pelo superintendente da ABI, Márcio Müller, o dirigente destacou o aspecto social da ABI e a importância da união entre as entidades que atuam a serviço da sociedade.
O Brasil tem uma das maiores coberturas de tratamento antirretroviral (TARV) entre os países de renda média e baixa. Mesmo com os medicamentos disponíveis, existem quase 200 mil pessoas diagnosticadas com HIV que não estão em tratamento. Dados do Boletim Epidemiológico de HIV 2019, divulgado pelo Ministério da Saúde, aponta que o número de casos de AIDS entre jovens de 15 a 24 anos cresceu nos últimos dez anos. No país, no período de 2000 até junho de 2019, foram notificadas 125.144 gestantes infectadas com HIV, das quais 8.621 no ano de 2018, com uma taxa de detecção de 2,9/1.000 nascidos vivos.
Se quiser ajudar o Instituto Beneficente Conceição Macêdo, ligue para (71) 3450-9759.
Instituto Beneficente Conceição Macêdo – IBCM Rua Santa Clara do Desterro, 85 – Nazaré – Salvador http://www.ibcmaids.org.br/ | @crecheibcm E-mail: [email protected]