ABI BAHIANA

Pensadores do cinema baiano debatem legado de Glauber Rocha na ABI

Roda de conversa “Glauber: o Leão da Bahia” marca democratização de acervo do cineasta pela ABI

Jornalistas, pesquisadores e amigos pessoais do célebre cineasta baiano Glauber Rocha se reuniram hoje (26), no auditório da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), para debater sobre a memória desse ícone do cinema da Bahia e do Brasil. O evento celebra a restauração e abertura ao público de documentos do cineasta doados pelo também diretor Zé Umberto Dias à ABI. Como parte do projeto “Glauber Rocha – Democratização do acervo”, a conversa foi uma homenagem à memória viva de Glauber. O evento ainda contou com presenças ilustres como do cineasta baiano Roque Araújo.

Amigo pessoal de Glauber Rocha, Zé Umberto Dias falou sobre o seu fascínio pelo cineasta desde antes de assistir sua obra, e de como as correspondências que trocou com ele influenciaram sua vida e sua arte. Comentando a importância pessoal que confere aos documentos doados à Associação, Umberto expressou o sentimento de que eles estão em boas mãos. “Tenho total confiança na ABI para cuidar desse material. Acho que a ABI não vai se acabar nunca, por isso a escolhi para doar o acervo. É uma instituição maior do que governos, assim como foram Glauber Rocha e Walter da Silveira”

O presidente da ABI, Ernesto Marques, agradeceu pela escolha de Umberto e outros colecionadores de confiar seus documentos à Associação. “Para nós é muito honroso receber essa confiança de pessoas que têm o cuidado com a memória. As pessoas começam a olhar para a ABI como um lugar que ‘se eu doar, vai ser bem cuidado’. E de fato tem sido assim”, afirmou ele.

Conversa

Abrindo o debate, o pesquisador do cinema brasileiro Adolfo Gomes começou a mediação com uma homenagem a Glauber Rocha, na forma de uma história pessoal. Quando trabalhava no tradicional cinema Sala Walter da Silveira, conta ele, colocou um filme de Glauber para passar, enquanto calibrava um novo projetor. Invertidas pelo equipamento em instalação, as imagens só se tornaram mais impressionantes  “’A Idade da Terra’ é um filme tão bom que até de cabeça pra baixo continua lindo”, comentou ele.

Professor responsável pela implantação do curso de cinema da UFBA, Umbelino Brasil falou sobre a importância que Glauber Rocha dava justamente a essa conservação do seu trabalho. “Ele estava preocupado com a memória. Tem cartas dele mandadas para Carlos Augusto Calil, que foi diretor da Embrafilme, nas quais [Glauber] se preocupa com a preservação do seu material. Ele indica cada lugar onde estão seus negativos para que se conseguisse fazer esse inventário”, relatou. 

Já Euclides Santos Mendes, organizador do livro Memórias e Histórias do Cinema na Bahia, falou sobre a infância de Glauber Rocha em Vitória da Conquista, e a importância dessa origem para a sua obra.“É interessante pensar a origem nordestina de Glauber, pois traduzir isso foi uma uma questão importante em alguns dos seus filmes mais relevantes”, pontuou ele.

Já Cláudio Leal, doutorando em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA-UFBA, falou sobre o papel de Glauber Rocha e Walter da Silveira na consolidação de um cinema nacional que ainda não existia. “Nessa fase inicial, na verdade, eles estavam inventando uma tradição do cinema brasileiro. O cinema nacional era depreciado, não se celebrava muito isso, e é muito impressionante essa evolução aqui na Bahia”, avaliou ele.

Este projeto foi contemplado pelos editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia por meio da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022.

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