Nesta sexta-feira (8) o auditório da Associação Bahiana de Imprensa recebeu o evento “Humanidades Digitais e Inteligência Artificial: bate-papo com o LABHDUFBA”, realizado pelo Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia em parceria com a XV Reunião de Antropologia do Mercosul (RAM).
O evento reuniu pesquisadores de humanidades digitais da Universidade Federal da Bahia com antropólogos e estudiosos das ciências sociais de toda a América Latina, para conversar sobre os desafios, dilemas e possibilidades das humanidades em tempos de IA generativa. O evento foi aberto por um pequeno show do violonista premiado e professor de música da UFBA Vladimir Bomfim.

Coordenador do Laboratório, o doutor em Sociologia Leonardo Nascimento começou com uma provocação sobre a multidisciplinaridade do estudo das IAs e seus efeitos sociais. Falando sobre a influência dessas ferramentas em inúmeros espaços da sociedade, ele questionou a ideia de que só os programadores poderiam estudar esse tema. “Eu não sei se o pessoal da área de Ciência da Computação, especialistas nesse tema, são capazes de dar conta dos efeitos sociais que essa tecnologia está tendo na sociedade”, refletiu ele.
Já o historiador Eric Brasil explicou a abordagem do LABHDUFBA para o uso da Inteligência Artificial na pesquisa. Ele orienta que não é o caso de simplesmente fazer perguntas a modelos prontos como o ChatGPT, mas de treinar modelos de Inteligência Artificial para objetivos específicos.
“Estamos falando em (…) construir um fluxo de trabalho que envolva treinar um grande modelo de linguagem para que só responda a partir dos nossos dados, a partir das nossas concepções teóricas, e avançar numa relação mediada entre o pesquisador, que guia a interpretação, e a máquina que lida com a grande escala”, explicou.
Por sua vez, mestre em Ciência da Informação e arquivista da UFBA, Ricardo Sodré, trouxe a discussão para a área dos arquivos e ressaltou a importância de criar ferramentas adaptadas à realidade brasileira. Ricardo ressaltou como a falta de digitalização em muitos arquivos brasileiros pode gerar lacunas de informação na medida em que a IA se torna o meio predominante da pesquisa.
“Se a gente não consegue perguntar para a Inteligência Artificial sobre algo porque não está digitalizado, esse algo some? Se a gente não consegue encontrar pela IA, a gente não consegue mais contar a história?”, provocou ele.
LABHDUFBA
Estabelecido em 2018 em associação com o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS) e o Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTI/UFBA), o Laboratório de Humanidades Digitais da UFBA busca promover a confluência entre tecnologias digitais e ensino, pesquisa e extensão nas humanidades e ciências sociais. O grupo investiga os impactos do uso de tecnologias digitais, cria e mantêm repositórios de dados abertos para pesquisadores e trabalha pelo diálogo entre as humanidades e o campo das tecnologias
VX RAM
Criada em 1995, a Reunião de Antropologia do Mercosul (RAM) já foi sediada no Brasil, Uruguai e Argentina, trazendo antropólogos de toda a América Latina para conversar sobre as fronteiras da área. Na sua 15ª edição, que está ocorrendo em Salvador desde segunda-feira (4/08) e se encerra nesta sexta-feira (dia 8), o evento traz o tema “Retomar o futuro”, buscando refletir sobres as crises sociais e ambientais que afetam o mundo com inspiração na ciência e nos saberes tradicionais dos povos da América Latina.