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‘Satisfação com democracia tem a ver com economia e escolaridade’, diz pesquisador

O Pew Research Center revelou a queda no apoio à liberdade de imprensa no Brasil: 60% dos entrevistados disseram considerar muito importante que a imprensa possa reportar as notícias sem sofrer censura. Em 2015, o apoio era de 71%. Já o apoio a eleições livres e imparciais caiu sete pontos percentuais.

Nos últimos anos, vários pesquisadores descobriram evidências de que a saúde da democracia está em declínio ao redor do mundo, usando termos como “derrocada democrática” ou “recessão democrática” para descrever uma deterioração dos direitos democráticos e institucionais. O Pew Research Center, centro de estudos com sede em Washington (EUA), conduziu uma investigação em 34 países, com mais de 38 mil pessoas, sobre a satisfação com a democracia. A pesquisa, realizada entre 13 de maio e 2 de outubro de 2019, concluiu que a satisfação dos cidadãos com a democracia está diretamente relacionada ao desempenho econômico de seus países, à escolaridade e à presença ou ausência do partido que apoiam no governo.

O apoio à liberdade de imprensa aumentou significativamente em algumas nações onde organizações como os Repórteres Sem Fronteiras e V-Dem têm documentado o declínio da liberdade midiática ao longo dos últimos sete anos, como na Turquia. Mas no Brasil, a história foi diferente. Enquanto a imprensa tem sofrido ataques do presidente Jair Bolsonaro e aliados, inclusive com insultos pessoais a jornalistas, o levantamento apontou a queda no apoio à liberdade de imprensa no país: 60% dos brasileiros entrevistados disseram considerar muito importante que a imprensa possa reportar as notícias sem sofrer censura. Em 2015, o apoio era de 71%.

O resultado também vai na contramão de outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, mesmo com os ataques constantes do presidente Donaldo Trump contra a imprensa, o índice de pessoas que defendem a imprensa livre cresceu 13 pontos percentuais e atinge 80% da população, mesmo índice da vizinha Argentina. Na França, 75% valorizam a liberdade de imprensa, enquanto 77% da população do Reino Unido a consideram importante.

O percentual de brasileiros insatisfeitos com o funcionamento da democracia no país passou de 83% para 56% período. Em entrevista concedida ao Estadão, o pesquisador Richard Wike, diretor do setor de Pesquisas de Atitudes Globais do Pew, destacou que a satisfação com a democracia tem  a ver com a economia e escolaridade. “O quão felizes estamos ou não com a democracia tem a ver com o desempenho da economia. Se você acredita que ela está em boa forma, tende a estar mais satisfeito. Algumas vezes, vemos que a insatisfação com a democracia diminui logo após uma eleição, o que foi o caso do Brasil”, diz Wike. “No país, a insatisfação caiu ao longo de todo o espectro ideológico, mas o declínio foi especialmente acentuado entre pessoas que se identificam como de direita”, analisa.

O apoio a eleições livres e imparciais caiu sete pontos percentuais no Brasil, na comparação com 2015, e ficou em 64%. Outros países que tiveram quedas fortes no período foram Itália (-14%) e Rússia (-17%). Apenas 36% dos brasileiros ouvidos disseram defender que partidos de oposição possam atuar de forma livre, e 52% afirmaram valorizam as entidades de defesa dos direitos humanos.

O objetivo do estudo foi entender a importância de nove valores democráticos: justiça igualitária, igualdade de gênero, liberdade religiosa, eleições regulares, liberdade de expressão, liberdade de imprensa, liberdade na internet, liberdade de atuação de grupos de direitos humanos e liberdade de atuação de partidos de oposição.

Entre os princípios democráticos analisados, a livre atuação de partidos políticos de oposição foi o que apresentou menor importância para os entrevistados, inclusive entre os brasileiros. Outro princípio que foi mal foi o de atuação livre de organizações de direitos humanos. “Eu acho que o que nós vemos é que, quando se trata de sociedade civil, esses dois princípios são encarados como de menor prioridade, se comparados a outros, como liberdade religiosa, de expressão, ou igualdade de gênero, por exemplo”, ressalta Richard Wike.

Leia o estudo completo aqui

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