Blog das vidas

Zeca foi feliz, apesar das adversidades

Rogaciano Medeiros*

O jornalista José Carlos Pereira de Medeiros, chamado de Zeca Medeiros pelos que o conheceram e tiveram a oportunidade de conviver com ele,falecido no dia 2 de dezembro de 2025, aos 64 anos, não teve chance de exercer plenamente o jornalismo como havia planejado para a sua vida porque pouco antes de se formar na Facom (Faculdade de Comunicação) da UFBA foi vítima de um acidente que o deixou tetraplégico, em 20 de setembro de 1987.

Com muito esforço e terapia, conseguiu recuperar parte dos movimentos dos membros superiores, mas teve de passar o resto da vida em cadeira de roda e todo mundo sabe as dificuldades que enfrenta uma pessoa com deficiência, especialmente naquela época, quando o exercício do jornalismo exigia total mobilidade e movimento. Não havia as facilidades do ambiente virtual e do trabalho remoto dos dias de hoje.

Mesmo assim, Zeca, que na época do acidente era funcionário concursado da Escola de Belas Artes da UFBA e teve forças para se formar em Jornalismo em 1990, nunca desistiu do exercício profissional. Fazia frilas para agências de propaganda, principalmente a Ideia 3, jornais de entidades representativas de trabalhadores e do patronato, mais produção de conteúdo para clientes diversos. Era um homem preparado, culto, gostava muito de ler e estudar. Graduado em Química pela Escola Técnica Federal, fazia Matemática na UFBA quando resolveu se transferir para o Jornalismo.

Foi uma figura agradável, de conversas boas, sábias, longas e divertidas. Sabia respeitar o contraditório, elaborava bem os pensamentos, tinha a elegância do debate acadêmico. Crítico duro da democracia liberal burguesa.

Com o passar dos anos, o acidente cada vez mais o limitava em todos os planos, especialmente físico, causando diversos problemas de saúde. Mesmo assim, Zeca ainda encontrou forças para voltar à UFBA e estudar Sociologia. Para se colar grau só faltava entregar o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Não teve tempo para se tornar sociólogo.

Apesar de todo o sofrimento causado nos 38 anos do acidente, de todas as dificuldades, Zeca foi um homem feliz, que não vivia se queixando da sorte. Uma prova de que, salvo situações extremas, a felicidade é capaz de ir além das adversidades. Mesmo sete anos mais novo, Zeca foi para mim uma referência pessoal, ética, moral, intelectual e profissional, esteio para toda a família e amigos mais próximos.

* Rogaciano Medeiros é jornalista e, orgulhosamente, irmão mais velho de Zeca.

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).

Galeria:

Fotos: Arquivo pessoal

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