ABI BAHIANA

Acervo de Joca, o Pena de Aço, chega ao Museu de Imprensa

Família confiou à ABI a memória do jornalista, doando acervo pessoal do jornalista e escritor João Carlos Teixeira Gomes

Há três anos, a Bahia se despediu de João Carlos Teixeira Gomes, “O Pena de Aço”, mas o seu legado não será esquecido. O precioso acervo do jornalista, escritor e poeta agora será incorporado aos arquivos do Museu de Imprensa da Associação Bahiana de Imprensa (ABI). Isso será possível graças ao gesto da família de Joca.

O advogado João Paulo Mesquita Teixeira Gomes, filho do falecido jornalista, e sua mãe, Lúcia Leão Jacobina Mesquita, foram recebidos pela Diretoria da ABI, nesta quarta-feira (14), para um almoço na sede da instituição.

A doação chegou em dois lotes, no final de maio, quando foi assinado um contrato que oficializou o ato. O material está no período que os técnicos em Restauro e Conservação chamam de “quarentena”. A museóloga da ABI, Renata Santos, afirmou que o material composto por livros, jornais, revistas e outros itens será manuseado pela equipe a partir do próximo mês.

João Paulo Mesquita Teixeira Gomes explica a razão pela qual resolveu doar à ABI inúmeros arquivos pertencentes ao acervo pessoal de seu pai. “Apesar da saudade, do carinho, temos a consciência de que os seus documentos e sua história como jornalista devem ser compartilhados com a imprensa baiana. A ABI é o lugar mais adequado. O acervo poderá ser acessado por pesquisadores e pessoas que queiram entender a história do jornalismo na Bahia, a luta dele pela liberdade de imprensa, contra a censura. Ele era independente, criticava quem ele achava que deveria ser criticado”, observa.

Bastante emocionada, Lúcia Leão Jacobina Mesquita falou sobre a sensação de trazer o material para a ABI. “É um sentimento de saudade. Eu tive um apego muito grande com o acervo de Joca, tanto que minha neta, a filha dele [de João Paulo], disse: ‘Minha avó, você não quer entregar’ [risos]. Tudo o que foi dele me é muito caro. Eu tive muito cuidado na hora de destinar e sabia da ligação dele com a profissão. Ele queria ser lembrado como jornalista e tinha a ABI como grande instituição. Então, na minha opinião, é merecedora de ficar com a memória dele”, justificou.

Antônio Luiz Calmon Teixeira, sócio honorário da ABI, Ernesto Marques, Leão Jacobina Mesquita e João Paulo Mesquita Teixeira Gomes | Foto: Joseanne Guedes

O presidente da ABI, Ernesto Marques, agradeceu a generosidade da família e destacou a preocupação da entidade com a preservação desses legados. “Para nós, é um tesouro. Muito obrigada pela confiança. Pode ter certeza de que vamos cuidar com muito carinho. Eu fico imaginando quantos acervos pessoais estão se perdendo porque os descendentes não têm o devido cuidado”, refletiu. Vale ressaltar que a ABI conserva os acervos de nomes como Walter da Silveira, Berbert de Castro, José Umberto Dias e Sérgio Mattos.

Memória da Imprensa

As mais de cinco décadas de atuação de Joca foram reverenciadas com o documentário “A luta pela liberdade de expressão”, lançado em 2018, no âmbito do projeto Memória da Imprensa. O filme idealizado pela ABI, como parte das comemorações ao Dia do Jornalista naquele ano, foi dirigido pelo cineasta Roberto Gaguinho, falecido em março de 2020.

A sessão especial de estreia do documentário contou com jornalistas, professores e profissionais ligados à área cultural, além dos diretores da ABI, entre os quais estão amigos pessoais de Joca, como os jornalistas Agostinho Muniz e Geraldo Vilalva. Neste dia, foi registrado um de seus últimos pronunciamentos públicos. Ele relatou, com a verve de sempre, os principais fatos que marcaram sua brilhante carreira.

Joca e o jornalista Luis Guilherme Pontes Tavares durante evento na ABI | Foto: Dimitri Ganzelevitch

João Carlos Teixeira Gomes era membro da Academia de Letras da Bahia e integrou um grupo de jovens escritores e intelectuais que ficaria conhecido como a “Geração Mapa”, junto com o cineasta Glauber Rocha, o jornalista e professor Florisvaldo Mattos e o pintor Calasans Neto. Ele lecionou na Escola de Biblioteconomia e Documentação da UFBA e, posteriormente, na Faculdade de Comunicação, alternando a regência de disciplina de literatura e jornalismo. “O Pena de Aço” não formou apenas jornalistas, muitos deles se tornaram parte de seu ciclo de amizades.

Ele publicou inúmeros títulos, entre eles, “Gregório de Mattos, o Boca de Brasa”; Camões Contestador e Outros Ensaios e de Glauber Rocha – Esse Vulcão. Seu último livro foi publicado em 2018, chamado “A arca dos tesouros” onde reúne crítica literária, poemas e sonetos. Serviu ao Estado como Coordenador da Secretaria de Comunicação.

Como jornalista e na qualidade de convidado de governos e instituições estrangeiras, visitou por duas vezes os Estados Unidos, o Chile, Portugal, Angola e Moçambique, tendo participado, em 1972, em Boca Ratón, na Flórida, de um seminário internacional sobre expansão demográfica, quando pode relatar suas experiências na Bahia e no Brasil. Estendeu suas viagens de estudos a outros países da América do Sul e da Europa. Foi também Coordenador do Sistema de Comunicação Social do Governo Waldir Pires e, também, foi diretor do Centro de Estudos Baianos da Universidade Federal da Bahia.

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