ABI BAHIANA

Mesa discute consequências do uso da Inteligência Artificial

Da relação que humanos estabelecem com tecnologias ao poderio econômico e política das empresas por trás delas, a mesa “Inteligência Artificial e os impactos na Democracia” abriu a tarde do III Simpósio de Jornalismo e Literatura. As apresentações e debates foram mediados pelo professor Adriano Sampaio (Facom /Ufba) e contaram com a presença de Suzana Barbosa, professora e uma das líderes do Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-line (GJOL), Frederico Oliveira, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD), e Lucas Reis, coordenador do Comitê de Inovação da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje).

Em sua apresentação, Suzana analisou os impactos do uso da inteligência artificial no jornalismo e destacou que os benefícios se dão em um contexto de poder financeiro, tecnológico e de participação das big tech como as gigantes Alphabet, Amazon, Meta, Apple e Microsoft.
Segundo Suzana, a atuação dessas empresas tem efeito no ecossistema de notícias composto tanto de veículos hegemônicos quanto de veículos menores, tendo implicações “principalmente no processo que a gente considera de inovação, mas uma inovação interessada, digamos assim. E o liberalismo e capitalismo tecnológico e informacional obviamente não são nada ingênuos e investem nas organizações jornalísticas de notícias com fortes intenções”, constata.

Para Fred Oliveira, parte importante de “pensar o impacto das IAs” é fugir da ideia de que estamos lidando com caixas-pretas e que não conseguiríamos decifrar os algoritmos envolvidos, desde o Instagram a robôs domésticos e algoritmos de identificação facial.

“A gente tem que pensar o que está sendo feito, para quem e de que modo, o que é utilizado. Não é simplesmente uma questão de ‘poxa, tá facilitando a minha vida’, isso tem uma forma específica de fazer”, pondera o pesquisador, que durante sua apresentação comentou aspectos da “produção” dessas IAs – que vão desde a utilização não autorizada ou remunerada do trabalho de outros criadores, como jornalistas, à produção material das tecnologias que envolvem a mineração abusiva de lítio.

Oliveira destacou ainda que, enquanto os dados e sua reprodução por parte de IAs (generativas ou não) são considerados apolíticos, as bases utilizadas e a forma que são construídas causam implicações para a população afetada. Ele exemplificou a questão com o uso de IAs em câmeras de vigilância para identificar suspeitos no banco da polícia, prática que chegou a resultar em prisões injustas em estados do Brasil, inclusive na Bahia.

“Você vai ver que as bases utilizadas não permitem que esses sistemas sejam precisos e você vai ter por causa disso implicações para a população mais pobre pessoalmente. O número de câmeras na Barra, por exemplo, é muito maior do que o número de câmeras em Cajazeiras. Então você tem em Cajazeiras até uma taxa de erro ainda maior”, observou.

Envolvido na observação de negociações relacionadas à regulamentação e mobilização de interesses de empresas de tecnologia, o coordenador do Comitê de Inovação da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), Lucas Reis, apresentou tratados e regulamentações que têm sido negociados com as empresas de tecnologia por outras nações democráticas para lidar com os usos e desenvolvimentos das Inteligências Artificiais.
“Quando eu escuto fora de lá parece que as empresas estão controlando o jogo, e quando você discute com elas, elas estão desesperadas correndo atrás, uma equipe gigantesca monitorando projeto de lei e conversando com um deputado para defender seus interesses”, dispara.

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