ABI BAHIANA

Debate sobre fronteiras narrativas encerra III Simpósio Baiano de Jornalismo e Literatura

A terceira edição do Simpósio de Jornalismo e Literatura, promovida pela Associação Bahiana de Imprensa, Academia de Letras da Bahia e Gabinete Português de Leitura foi encerrada no início da noite desta quinta-feira com uma rodada de conversas sobre Fronteiras Narrativas e da Liberdade. Para finalizar esse dia marcado pelo que há de mais arrojado nos debates sobre comunicação no século XXI, três jornalistas e membros da ABL se reuniram para acrescentar a perspectiva literária aos problemas da fake news e crise do jornalismo. Carlos Ribeiro, Emiliano José e Paulo Ormindo foram mediados pela também jornalista Mara Santana, diretora da ABI e assessora de Comunicação da Procuradoria-Geral do Estado da Bahia.

O jornalista e escritor Carlos Ribeiro foi o primeiro a falar. Usando da literatura para discutir sobre a natureza incerta do mundo atual de fake news e pós-verdade, Carlos leu um conto de sua autoria intitulado “O Visitante Onírico”, no qual imagina um mundo de sonho sem parâmetros ou certezas. Foi esse estado onírico e assustador que ele comparou ao ambiente midiático de plataformas:  

“O absurdo da existência ultrapassa a fronteira do simbólico com o real, passando a nos assombrar quando se instala no nosso cotidiano. Não mais como um conto de Kafka, mas nas manifestações que nos chegam através das redes sociais, no teatro do absurdo da política, no neopentecostalismo. E somos compelidos a avaliar nossos próprios conceitos de verdade, de mentira, de falsas e meias-verdades, de manipulações semânticas”, comentou ele.

A mesma inquietação com a inversão de conceitos e dificuldade em fixar o significado de conceitos marcou a fala do professor e escritor Emiliano José. Tecendo comentários em diálogo com a mesa anterior, sobre Inteligência Artificial, Emiliano lamentou a distorção da pauta da liberdade de imprensa para defender justamente ideias que antagonizam a pluralidade de ideias.

“Inverteu-se tudo: estamos discutindo liberdade de expressão para os nazifascistas. O país está discutindo se vamos dar anistia ou não para os nazifascistas que fizeram o Oito de Janeiro. Firmar a ideia da democracia implica convivência de contrários, o diálogo entre correntes diversas, mas em obediência a um mundo civilizado”, pontuou.

Outro consenso ao longo da mesa foi a defesa da literatura como caminho para nos aproximar dessa pluralidade, ao permitir o mergulho em perspectivas diversas. O jornalista e arquiteto Paulo Ormindo adicionou a esse ponto sugerindo uma aliança mais próxima entre a literatura e o jornalismo: relembrou que romances de Machado de Assis e José de Alencar foram publicados em capítulos diários nos chamados folhetins, atrelados aos jornais. Para ele, a literatura e o jornalismo podem se ajudar mutuamente ao retornar a esse formato, assim como novelas hoje sustentam audiências na televisão

“Novela é um filhote do folhetim, e é ela que garante a grande audiência das tevês. Há muitos autores jovens que querem publicar independentes de remuneração, mas os jornais têm que saber o que publicar para ter êxito. Tem que criar um corpo de gente crítica para poder escolher”, disse ele.

VEJA COBERTURA DE OUTROS MOMENTOS DO SIMPÓSIO

publicidade
publicidade