A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) promoveu na manhã desta quarta-feira (13/08) mais uma Conferência ABI 95+5, com uma edição voltada a discutir desafios e perspectivas da logística e da construção pesada na Bahia e no Brasil. Com apresentações dos economistas Antônio Alberto Valença e Humberto Rangel, o evento reuniu profissionais do setor, autoridades e jornalistas, para analisar o papel estratégico desses segmentos no desenvolvimento econômico do estado e do país.
O primeiro painel foi conduzido por Valença, assessor especial e ex-secretário da Secretaria de Planejamento do Estado da Bahia (Seplan). O segundo painel ficou a cargo de Humberto Rangel, diretor-executivo do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada-Infraestrutura (Sinicon), acompanhado pelo coordenador do Comitê de Comunicação do Sinicon, Marcelo Gentil.
Na plateia, além de membros da Diretoria da ABI, estavam jornalistas como Almir Santana (Grupo Excelsior), João Pedro Pitombo (Folha de São Paulo), Marcos Vinícius (Grupo A TARDE), Ruy Barreto, Edson Rodrigues, Eduardo Tito (Notícias da Bahia), Luciano Barreto (Panorama da Bahia), Cristina Mascarenhas, Isabel Santos (Sinjorba), Fernando Duarte (Bahia Notícias), o publicitário Eduardo Saphira e Waldeck Ornelas, especialista em planejamento urbano-regional.
O presidente da ABI, Ernesto Marques, explicou que o ciclo de conferências celebra os 95 anos da instituição, mas também busca fortalecer a capacidade da imprensa de abordar criticamente temas centrais para o estado. “Estamos tratando de conexões entre grandes temas do desenvolvimento, identificando gargalos e refletindo sobre como a imprensa pode contribuir. Isso se faz reconhecendo os acertos e por meio de críticas e denúncias”, defendeu o dirigente, que realizou sua última reunião ordinária como presidente-executivo da ABI.
Posição estratégica e grandes projetos

Abrindo o evento, Antônio Alberto Valença destacou que a localização geográfica da Bahia, fazendo divisa com oito estados e possuindo o maior litoral do Brasil (1.100 km), confere ao estado uma vocação logística singular. A Baía de Todos-os-Santos, segunda maior do mundo e com 11 terminais portuários, é um ativo de valor estratégico para o transporte marítimo. Para ele, isso representa não apenas uma oportunidade econômica, mas uma responsabilidade de investimento em infraestrutura que impacta o desenvolvimento de todo o país.
Entre os projetos estruturantes citados, está a Ponte Salvador–Itaparica, com investimento total estimado em R$ 10,6 bilhões e início das obras previsto para 2026, e a renovação da concessão da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), que pode garantir a manutenção do corredor Minas–Bahia.
No transporte de passageiros e cargas, o Trem de Integração Centro-Oeste (TIC Bahia), ligando Salvador a Feira de Santana, terá 100 km de extensão, oito paradas e investimento estimado em R$ 9,7 bilhões. O sistema VLT da Região Metropolitana de Salvador, com 39,7 km de linhas e 40 estações, já iniciou obras em três trechos e deve começar a operar parcialmente em 2027.
No modal aéreo, o novo Aeroporto Internacional Costa do Descobrimento, no Sul da Bahia, está orçado em R$ 1,3 bilhão e funcionará como hub regional para passageiros e cargas.
Outro ponto abordado foi a Hidrovia do São Francisco, com potencial de 1.845 km de extensão, dos quais 573 km estão operacionais. A proposta é viabilizar comboios fluviais de até 10 mil toneladas, reduzindo custos e ampliando a integração com outras regiões do país.
Valença alertou para o risco de isolamento logístico caso os projetos não avancem e defendeu uma atuação coordenada por meio do Grupo de Trabalho Intersetorial de Logística, criado em fevereiro deste ano para subsidiar decisões estratégicas.
“A vocação logística da Bahia exige políticas públicas robustas e investimentos contínuos. Nosso potencial precisa ser acompanhado de planejamento e ação efetiva”
Antônio Alberto Valença
Infraestrutura
Humberto Rangel apresentou um panorama do setor de construção pesada, lembrando que o Sinicon é a mais antiga entidade sindical patronal do segmento, criado em 1959, com 83 associados e alcance de mais de 1.400 empresas em 18 estados. O setor, que movimenta 62 áreas da economia, enfrentou nos últimos anos uma crise profunda: perda de participação no mercado mundial (de 5% para 0,5%), queda de 55% no faturamento das dez maiores construtoras do país e enfraquecimento da engenharia nacional.
Rangel reforçou a centralidade do setor de infraestrutura para a economia. Ele destacou que todos os segmentos produtivos, da mineração à agricultura, dependem de planejamento logístico eficiente.

Apesar de uma retomada recente, com 70% dos investimentos oriundos da iniciativa privada, o Brasil investe pouco mais de 2% do PIB em infraestrutura, quando o ideal seria ao menos 4%, média mundial. Para efeito de comparação, a China investe mais de 8%. “Essa defasagem impacta diretamente a competitividade. Precisamos resgatar uma mentalidade de planejamento e a imprensa tem papel fundamental para cobrar isso das autoridades”, afirmou.
“É fundamental que a mídia cobre planejamento e investimentos estratégicos em infraestrutura. Sem isso, projetos estruturantes ficam comprometidos e o desenvolvimento econômico do país é limitado”
Humberto Rangel
Dados do Tribunal de Contas da União mostram que mais da metade das obras públicas com recursos federais no país estão paralisadas (52%), somando 11.941 contratos e R$ 29 bilhões em investimentos comprometidos. Na Bahia, são 972 obras paradas, totalizando R$ 3,3 bilhões. Saúde e educação estão entre os setores mais afetados.
De acordo com Rangel, entre as prioridades do Sinicon para reverter o cenário estão: ampliar investimentos públicos, aprimorar o ambiente de negócios, ampliar o crédito para infraestrutura, retomar a política de crédito à exportação e garantir a formação de mão de obra qualificada. Um estudo da entidade projeta que, para atingir o estoque ideal de capital em infraestrutura (60% do PIB), o país precisaria expandir investimentos públicos em 0,2% do PIB ao ano até 2040.
Durante o debate, foram citados dados recentes sobre a expansão da malha rodoviária, portos e obras de infraestrutura pesada, evidenciando que o setor da construção pesada continua sendo um motor essencial para o crescimento industrial e logístico. A expectativa de investimentos públicos e privados em obras estratégicas nos próximos anos reforça a necessidade de integração entre planejamento, execução e acompanhamento da imprensa especializada.
Como nas demais conferências do ciclo 95+5, a sessão desta quarta-feira será transcrita na próxima edição especial da Revista Memória da Imprensa, publicação da ABI que documenta debates e reflexões sobre os principais temas que moldam a economia e a sociedade baianas.





