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A Mãe da ABI

Nelson Cadena*

Na Segunda Feira Gorda do Bonfim, também chamada de Segunda Feira da Ribeira, uma das mais badaladas festas populares da Bahia, no passado, o idealizador da Associação Bahiana de Imprensa-ABI, Thales de Freitas, exibia seu rebolado. Ele, e todos os frequentadores da folia pré-carnavalesca.

Em tom de pilhéria__ palavrinha antiquada e cafona, preciso rever meu vocabulário __ o cronista carnavalesco do jornal O Estado da Bahia, comentava: “O Thales já começou a ensaiar o quebradinho, agradando a todos os foliões o seu rebolar de ancas que foi assistido por várias pessoas na Segunda Feira do Bonfim, numa chácara em Itapagipe”.

O jornal foi além, retratando o idealizador da entidade como a Mãe da ABI, numa caricatura__ ilustração e montagem sem autoria assinada, com trajes de baiana, incluindo o acessório de pano da costa__ que revela a sua natureza materna, dando a mamadeira a seu rebento.

Thales de Freitas, de fato, foi o mentor da entidade, reconhecido assim no seu tempo pelos seus colegas, anos depois esquecido; seu retrato andou escondido, numa salinha, não acessível ao público, hoje felizmente exibido no Salão Nobre, ao lado da galeria dos ex-presidentes da entidade.

Benção Mamãe

Retomando o espírito momesco, o escriva do jornal iniciou a sua crônica na melhor tradição de família: “Benção Mamãe”. E, brincava : “Não vai o leitor entusiasmar-se com a fotografia acima, julgando ser alguma mulata do Mercado Modelo, ou vendedora de acarajé das festas do Bonfim…Trata-se da Mãe da ABI, figura tradicional do jornalismo da terra, e pessoa bastante relacionada e prestigiosa, no reduto da Rua das Laranjeiras” .

E prossegue: “É uma novidade! Quem o vê com essa fantasia, requebrando os quadris, batendo com o salto das sandálias, no chão… perde o juízo, julgando ser uma dessas mulatas do outro mundo…Quando adolescente foi “sargentante” e deu muita sorte. Era um gosto vê-lo todo redondinho, à porta da Farmácia Americana, onde aprendeu a confeccionar as primeiras pílulas…Hoje o homenzinho é simplesmente a Mãe da ABI, da qual foi o sonhador, conseguindo realizar a grande obra que aí está”.

Conclui a crônica, contando o desejo de um jovem radio maníaco em se associar à entidade. E “o Thales que não é nenhuma arara”, não é besta se atualizarmos o linguajar, propôs a ele o pagamento da joia e da primeira mensalidade. O cronista que também brincava com outras personalidades baianas, em tempos de folia, destacou “Mamãe da imprensa é a homenageada de hoje”.

A crônica tem um valor inestimável. Reconhecia, em 1935, a importância do idealizador da ABI, ao tempo em que nos revela um sujeito alegre, festivo e baianíssimo. Um Thales de Freitas, se me permitem um trocadilho infame, Thales das Festas.

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*Nelson Cadena é jornalista, pesquisador e publicitário. Diretor de Cultura da ABI.
Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI)
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