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ABI publica moção de repúdio à violência contra jornalistas e convoca profissionais para ato em Salvador

Manifestações deste domingo (14), na Barra, denunciam aumento dos casos de feminicídio e risco de erosão democrática no país

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) divulgou uma moção de repúdio ao episódio ocorrido na sessão da Câmara dos Deputados em 9 de dezembro, em que profissionais da imprensa foram expulsos de forma violenta sob o comando do presidente da Casa, deputado Hugo Motta (Republicanos–PB). A entidade classificou como censura inaceitável ao trabalho jornalístico e ao direito à informação, alertando também para o risco de erosão democrática, diante de ataques repetidos à imprensa. Em articulação com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba) e demais instituições democráticas, a ABI conclama comunicadores e sociedade a aderirem à mobilização do “Levante Mulheres Vivas”, neste domingo (14), às 10h, na Barra (do Cristo ao Farol).

O ato nacional interliga pautas importantes, como a defesa da liberdade de imprensa e dos direitos humanos, e denuncia o aumento dos casos de feminicídio e as múltiplas formas de cerceamento da democracia.

Em 2024, cerca de 1.500 brasileiras foram vítimas de feminicídio, segundo dados do Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam), do Ministério das Mulheres. São casos que chocam a sociedade, pela crueldade e misoginia demonstradas, como o ocorrido recentemente em São Paulo, no qual a jovem Tainara Santos, de 31 anos, foi atropelada pelo ex-namorado e teve as pernas amputadas; ou o caso da diretora da equipe pedagógica do Cefet-RJ, Allane de Souza Pedrotti Matos, de 41 anos, e a psicóloga da instituição, Layse Costa Pinheiro, de 40 anos, ambas assassinadas por um colega revoltado com a chefia feminina.

A presidente da ABI, Suely Temporal, lembra que, além de expressar repúdio a ataques físicos e simbólicos contra repórteres e profissionais de imprensa, a ABI tem se empenhado na promoção de práticas que contribuam para uma cobertura mais ética e responsável de temas sensíveis à sociedade. Em abril de 2024, a instituição lançou o Protocolo Antifeminicídio – Guia de Boas Práticas para a Cobertura Jornalística, um documento dirigido a jornalistas e profissionais de comunicação com orientações para apurar e noticiar os crimes ligados às violências de gênero de forma que não revitimize as vítimas e/ou suas famílias, combatendo estereótipos nocivos e fortalecendo o papel da imprensa na luta contra a cultura da violência. A publicação (disponível também em formato de e-book) foi elaborada por mulheres dirigentes da ABI com apoio institucional da Fenaj e do Sinjorba, e inclui recomendações práticas, dados, fontes confiáveis e redes de acolhimento para vítimas.

“Com essas ações, que articulam posicionamentos institucionais, mobilizações coletivas e ferramentas de orientação à categoria, a ABI reforça a necessidade de unir as lutas pela defesa da vida das mulheres, pelo jornalismo ético e pela democracia plena no Brasil, e convoca os profissionais da imprensa para se engajarem neste domingo, no ato em Salvador, como parte de uma resposta nacional diante dos desafios que ameaçam tanto a liberdade de expressão quanto a segurança e os direitos humanos”, enfatiza o jornalista Paulo de Almeida Filho, diretor de Defesa da Liberdade de Informação e dos Direitos Humanos da ABI.

Em reunião híbrida, Diretoria da ABI aprovou moção de repúdio à censura ao trabalho da imprensa | Foto: Joseanne Guedes

No bojo das articulações nacionais, atos em todo o país denunciaram, no último domingo (7), que o Brasil enfrenta uma epidemia de violência contra a mulher e um aumento alarmante nos casos de feminicídio. Já no dia 10, a Fenaj abriu o 40° Congresso Nacional dos Jornalistas – que ocorre em Brasília até sábado (13) – com uma manifestação na Câmara dos Deputados, em resposta aos episódios de violência contra a categoria, considerados sem precedentes na história recente do Parlamento. Na manhã desta quinta (11), a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado Federal realizou uma audiência pública provocada pela Federação, para debater a violência contra jornalistas e a liberdade de imprensa no Brasil. A sessão também integrou a programação do 40º Congresso.

  • Confira abaixo a moção divulgada pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI):

MOÇÃO DE REPÚDIO
A crescente desqualificação da atividade parlamentar liderada pelos novos protagonistas da política brasileira no Congresso Nacional, teve seu ápice na sessão em que o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) determinou a expulsão violenta de jornalistas que cobriam a dantesca sessão de 9 de dezembro de 2025.

A censura descabida e inaceitável ao trabalho da imprensa visava sonegar ao Brasil a informação sobre o ato discricionário do presidente Hugo Motta, ao determinar o emprego da Polícia Legislativa para remover à força o seu colega Glauber Braga (PSOL-RJ) da cadeira do presidente da Casa. Sem precedentes na história do Brasil, nem mesmo as ditaduras que nos infelicitaram por décadas, produziram tanta violência contra parlamentares e jornalistas – inclusive mulheres.

A Associação Bahiana de Imprensa repugna o ato de exceção contra a liberdade de imprensa e o direito à informação. E se soma às instituições democráticas que exigem o pleno esclarecimento sobre as responsabilidades pelas cenas deploráveis, considerando que o presidente nega ter determinado a expulsão de jornalistas e a censura à transmissão da sessão pela TV Câmara dos Deputados.

A manter a tibieza e a conduta errática no terceiro mais importante cargo da República, Hugo Motta estará a provar a sua completa inépcia e incompatibilidade da sua estatura política com o espaldar da cadeira que um dia foi de Ulysses Guimarães.

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