Por Luis Guilherme Pontes Tavares*
Quando o empresário Manoel Antônio da Silva Serva inaugurou sua tipografia em 13 de maio de 1811 no Morgado de Santa Bárbara, no bairro do Comércio, na Cidade do Salvador, tornou-se, desde então, o pioneiro da indústria gráfico-editorial privada brasileira. No Brasil, naquele instante, o que existia no ramo gráfico era a Impressão Régia, no Rio de Janeiro, a serviço da Corte, o que significa dizer que o empreendimento não era do setor privado.
Exibo esse fato, mais uma vez nesta página, agora com dois propósitos. O primeiro é o de nos advertir de que o reconhecimento dessa primazia proporcionada por Silva Serva no início do século XIX deve ser reclamado pela Bahia. Tomemos o exemplo dos gaúchos que, no Governo Fernando Henrique Cardoso, obtiveram o privilégio de antecipar o Dia da Imprensa de 10 de Setembro para 1º de Junho e assim homenagear o jornalista Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça (1774-1823) e acentuar o pioneirismo como periódico brasileiro para o seu Correio Braziliense ou Armazem Literario, que imprimiu em Londres entre 1808 e 1822.
Os gaúchos, portanto, conseguiram cassar o destaque que fora dado à Gazeta do Rio de Janeiro, que, em 1808, fora lançada em 10 de setembro pela Impressão Régia, e anteciparam em pouco mais de dois meses a celebração do Dia da Imprensa.
Poderíamos, nós, os baianos, distinguir, no calendário das comemorações nacionais, o 14 de Maio, data de estreia do Idade d’Ouro do Brazil, como marco do início da produção gráfico-editorial privada brasileira, assim como o 26 de Setembro, dia em que nasceu, em Salvador, o jornalista Cipriano José Barata de Almeida (1762-1838), de quem legamos exemplo de bravura e amor ao Brasil através das páginas do seu Sentinela da Liberdade.
Eis o outro propósito deste artigo: em 03 de agosto vindouro, completam-se 200 anos da morte, ocorrida no Rio de Janeiro em 1819, de Manoel Antônio da Silva Serva e, se o distinguimos como pioneiro, devemos, pois, lembrá-lo. A propósito, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) promoverá no seu Auditório Samuel Celestino (8º andar do Edifício Ranulpho Oliveira), na manhã da véspera, portanto na sexta-feira 02 de agosto, a palestra do professor doutor Pablo Iglesias Magalhães, da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB). Ele avançou os estudos sobre o personagem e sobre os produtos que foram impressos na sua tipografia e soma, com destaque, entre os especialistas do tema (falo do bibliófilo Renato Berbert de Castro (1924-1999) e das professoras doutoras Cybelle Moreira de Ipanema e Maria Beatriz Nizza da Silva).
O primeiro esboço do programa das reverências ao empreendedor nascido na segunda metade do século XVIII, no Norte de Portugal, foi apresentado a instituições locais, nacionais e até internacionais, pois imaginávamos que os organismos de representação da indústria gráfica nacional, sobretudo a Associação Brasileira de Indústria Gráfica (Abigraf), sediada em São Paulo, assim como a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), e outros organismos afins, pudessem patrocinar evento que viesse a reunir, por exemplo, o professor português Manoel Cadafaz de Matos, diretor do Centro de Estudos da História do Livro e da Edução (Cehle), as citadas professoras Cybelle (UFRJ) e Maria Beatriz (USP), assim como o jornalista Leão Serva, descendente e biógrafo de Silva Serva, e a bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, chefe do Setor de Obras Raras da Biblioteca Nacional, a quem devemos o zelo, também, de Servinas que estão guardadas lá.
Viva o impresso! Viva Silva Serva!
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* Jornalista, produtor editorial e professor universitário. É diretor da ABI.< [email protected]>
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