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Cresce número de comunicadores que disputam as eleições municipais na Bahia

Jornalistas, radialistas e fotógrafos de diferentes partidos concorrem em pelo menos 120 cidades

A voz do povo é uma expressão que costuma ser usada para a mídia e para as eleições. Com essa semelhança, não há estranheza que profissionais da imprensa também apareçam nas telas das urnas. Na Bahia, as eleições municipais que começam a ser decididas no próximo domingo (15) contam com um aumento, em relação à 2016, de 21,9% de candidaturas de jornalistas e redatores; locutores e comentaristas de rádio e televisão e radialistas; fotógrafos e assemelhados, relações públicas e comunicólogos – de acordo com as ocupações declaradas ao Tribunal Superior eleitoral (TSE). O salto foi de 223 para 272 candidaturas.  

Levantamento feito pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI) junto ao TSE revela que, dos 417 municípios baianos, 120 tem pelo menos um candidato ou candidata profissional da comunicação. Numericamente, destacam-se em candidaturas de comunicadores Salvador, com 22, e Feira de Santana, com 21. Essas candidaturas também se concentram em Porto Seguro (9), Itabuna (7), Alagoinhas (6) e Senhor do Bonfim (5). 

Ser uma pessoa conhecida através dos meios de comunicação encoraja muitas candidaturas, especialmente no contexto atual. É o que acredita Samuel Barros, doutor em Comunicação e Cultura com pesquisa na área política. “Em uma campanha mais curta e espremida entre tantas outras preocupações é compreensível que pessoas que já têm reconhecimento público tenham sido elevadas à condição de candidato”, afirma. No entanto, o especialista adverte que este não pode ser tomado como um elemento único na identificação de um “bom candidato”.

“É preciso lembrar que uma imagem pública positiva não garante eleição para ninguém. É preciso que as pessoas entendam essa imagem como adequada para o cargo que o candidato disputa. E me parece que o eleitorado já entendeu que um bom radialista, apresentador de TV ou jornalista não necessariamente resultará em um bom prefeito ou vereador”, pondera Samuel, que já atuou em campanhas políticas e atualmente é professor da UFRB e do Póscom-UFBA e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD). 

Saída dos bastidores
A presença de jornalistas nas equipes de campanhas é quase que obrigatória. Foi nessa posição que Luciana Oliveira, 39 anos, atuou em eleições anteriores. Este ano, saiu dos bastidores e agora disputa a vice-prefeitura de Vitória da Conquista pelo PCdoB. Ela acredita que sua atuação profissional na comunicação pública, no executivo e no legislativo, despertou o interesse pela política. 

Jornalista concursada da Câmara de vereadores de sua cidade, Luciana acredita que não é necessariamente a exposição na mídia que ajuda um comunicador na política institucional. “O que acredito mesmo que destaca o comunicador é se tem uma trajetória profissional pautada pela ética, profissionalismo e seriedade. Independente da disputa eleitoral, prezo por esses valores. É o que nos destaca positivamente em qualquer circunstância“, defende. 

O rádio vive
Já para o radialista Mário Bay (DEM), 56 anos, atualmente candidato a vereador por Camaçari, saber as demandas da cidade é um dos diferenciais do comunicador que disputa uma eleição. “O rádio atinge uma camada de pessoas mais pobres. Eu diria que quem realmente conhece as necessidades dos cidadãos são as pessoas do rádio. Aqui o povo pede tudo, liga pedindo comida, pede melhorias na rua, pede dinheiro para um remédio. Essas lacunas me mostraram que eu precisava usar esse conhecimento, não por politicagem, mas pelo povo”, justifica. 

Bay, que apresenta o matinal Alô Alô Cidade, na Sucesso FM, conta que, inicialmente, resistiu a entrar para a política, mas acabou se candidato por ver que há uma necessidade de mudança do quadro na Região Metropolitana de Salvador. Ele, que tem mais de 15 anos de profissão, concorreu às eleições em 2012, mas diz que não foi para valer, era mais para “testar o nome”. Agora, está confiante.

Os radialistas e locutores são os que têm o maior peso nos números de candidaturas de comunicadores, são 141 este ano na Bahia, e estão presentes principalmente no interior do estado. A radialista Sônia Amorim (PP), 54 anos, já foi presidente do Sindicato dos Radialistas da sua cidade, Itabuna, onde concorre às eleições. Para ela, o microfone é de fato uma dos principais diferenciais competitivos no interior. Sônia está no grupo de comunicadores que disputa uma eleição pela primeira vez e se diz pronta para fiscalizar o executivo municipal.

“Sempre estive envolvida [indiretamente] na política, mas só agora, depois de muitos anos envolvidas com as problemáticas da minha cidade, sendo a porta voz das comunidades, adquirindo conhecimento mais profundo do verdadeiro papel de um vereador, é que me sinto preparada para assumir uma vaga no legislativo itabunense, fazemos muito através do rádio, mas podemos fazer muito mais”, promete Sônia. 

Seguindo a legislação eleitoral, apresentadores de rádio e TV estão afastados de sua atuação desde o dia 11 de agosto. É proibido a menção nominal em quadros e até mesmo em nomes de programas, sendo autorizado apenas participarem na posição de entrevistados. 

Doutor Samuel Barros | Foto: Acervo Pessoal

Atuação
A presença forte de radialistas parece contradizer, pelo menos nas disputas municipais, o entusiasmo que as últimas eleições têm demonstrado com as redes sociais. “O novo chegou, mas o velho ainda está aí. A sociabilidade política não é mais a mesma, mas eu teria muita cautela com apostas que apontem para mudanças muito aceleradas de instituições e práticas culturais seculares”, afirma Samuel Barros. 

Em um momento de constantes ataques aos veículos de comunicação e aos jornalistas, Samuel acredita que muitas das críticas que são feitas à mídia, como instituição, não costumam atingir pessoalmente os comunicadores, que em geral preservam imagens públicas bem avaliadas. 

Nomes da disputa
De acordo com os dados declarados ao TSE, além de nove candidatos à vice-prefeito, temos no estado cinco comunicadores que disputam prefeituras. No grupo está o radialista Carlos Geilson (Pode), que quer ser prefeito de Feira de Santana. Com mais de 40 anos de experiências nas rádios, Geilson já atuou em diversas emissoras da cidade que representa o segundo maior colégio eleitoral do estado. Entre elas a Popular FM e a Transamérica FM, sendo conhecido principalmente pelo ‘Programa Carlos Geilson’, veiculado na Rádio Subaé AM.

Também disputam prefeituras o fotógrafo Marcos Ribeiro (Pode), na cidade de Palmeiras, e o radialista e cerimonialista Jiliarde Santana (PSC), na disputa para o comando da prefeitura de Marcionílio Souza. A candidata do PTB à prefeitura de Cristópolis, Gloriene, identificou-se como jornalista e redatora e a candidata à Prefeitura de Abaré Tati Oliveira (DEM) declara como ocupação a profissão de comunicóloga.

A capital baiana já teve um radialista que virou prefeito (Fernando José) e um prefeito que virou radialista (Mário Kertész). Mário, inclusive, foi o mentor da candidatura do comunicador célebre pelo bordão “mato a cobra e mostro o pau” nos programas populares que o fizeram conhecido. Nesta eleição, oficialmente, há apenas candidatos a vereador que se identificam como profissionais da comunicação. Entre eles estão o apresentador da Band Bahia Uziel Bueno (DEM), que já assumiu a posição de vereador como suplente na Câmara Municipal de Salvador e também a de deputado estadual; a jornalista da TV ALBA Mirian Nery (PMN); Marzzo Silva (Avante), que foi repórter do programa Na Mira (TV Aratu) e é, atualmente, comentarista esportivo da rádio Excelsior; Priscila Chammas (Novo), que foi repórter do Jornal Correio* e atuou em assessoria de comunicação, além do médium e apresentador de TV Aritana de Oxóssi (PP). 

Os números de candidaturas de comunicadores podem ser ainda maior, isso por conta da declaração feita pelos candidatos ao TSE. O radialista Magno Lavigne (Rede), por exemplo, seria o único comunicador nas chapas em disputa pela prefeitura de Salvador. Ele é o vice da chapa encabeçada pelo deputado federal João Carlos Bacelar (Pode), mas ao TSE indicou como ocupação ser advogado. Em Camaçari, outro exemplo, Carluze Barper (PSDB), cujo mote da campanha para vereadora é “a jornalista do povo”, declarou ao TSE ser empresária. Em Conquista, o prefeito e candidato à reeleição, Hérzem Gusmão (MDB), é jornalista e radialista, mas declarou como ocupação “prefeito”. 

Conheça o perfil dos candidatos e consulte a lista

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